“Radicais”, o senhor disse?, por Jean Pierre Chauvin

Obra de Ron Mueck

“Radicais”, o senhor disse?, por Jean Pierre Chauvin

Há tempos desconfiávamos que os jornais tradicionais estavam do mesmo lado. Agora, temos certeza. Só isso pode explicar a opção lexical de Folha, Estadão e companhia por termos do naipe de “Centrão” (em lugar de direitona) e, mais recentemente, pelo que chamam de “radicais”. Isso sem contar o imenso espaço que, semana sim, semana não, concedem a FHC — “autoridade” poliglota que restou de sua legenda — para sentenciar o que ainda não sabíamos.

Em nome da “novidade”, o ex-Presidente (que não é o autor exclusivo do Plano Real, de 1994; que recomprou a sua eleição, segundo confirmaram todas as evidências, em 1998; e que se especializou em vender empresas a troco de banana, especialmente para o capital “aberto”, mas fechado, dos EUA) resolveu adiar suas viagens para a residência gourmet em Paris (avaliada em milhões de dólares), para ver se ajuda na candidatura de seu correligionário ao posto máximo que um dia os tucanos usufruíram (e que fizeram valer, novamente, desde a “era” temerária).

Para os professores de São Paulo e do Paraná, não faltarão tristes recordações de como foi a política do porrete e da precarização, ministrada em altas doses, aos renitentes profissionais da educação. “Profissionalismo”, vale lembrar, não pode ser confundido com “amadorismo”. O fato de “amar”, ou não”, o que se faz não impede fazê-lo com a maior qualidade possível, ou seja, profissionalmente.

Os servidores públicos deste Estado também poderiam testemunhar a distância que há entre as campanhas em torno do IAMSPE (plano de saúde pago, sim, pago) e as condições em que se encontram as instalações do Hospital do Servidor. Que tal convidarmos essas ilustres gentes para fazer uma singela visita ao setor de coleta, digamos, às 6h12 da manhã, quando a longa fila para retirar senha está a se instalar, antes mesmo de o balcão de triagem abrir para atendimento?

Mas, eles pedem que lhes demos um crédito. Afinal, afirmam ser uma alternativa ao radicalismo dos fascistoides e ao assistencialismo dos petistas. Pois bem. O que será que entendem por “radicalismo”? O PSDB, de fato, considera-se no centro do quê? Da Finlândia? Será que se consideram no centro do espectro ideológico? Lamento, estão bem mais próximos de messiânicos, obcecados pela falácia do estado mínimo, da austeridade e da moral de ocasião, do que do “centro” — que marcou os governos de Lula e Dilma, sabidamente pautados pela coalizão.

Bem, talvez ser “de centro”, para os tucanos, consista em defender a redução da quantidade de partidos. Pois bem, o que explica a coligação com as diversas legendas nanicas que voltaram a fazer em 2018?

Se ser “radical” é desejar um país com maior protagonismo no cenário mundial; se isso redundar em acesso gratuito ao ensino básico e superior de qualidade; ter direito à saúde amparada pelo Estado etc, então chamem-me por essa alcunha. Antes ser “inflexível”, quanto ao bem-estar social, que utilizar o adjetivo (“social”) com a chave invertida, tal como já fizeram líderes nada amistosos e autoritários, antes e durante a Segunda Guerra Mundial. 

 

Redação

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