Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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Invisíveis, por Felipe Bueno

Em São Paulo, vale passar até meados de setembro no Instituto Moreira Salles e visitar a mostra Koudelka: Ciganos/Praga 1968/Exílios

de Josef Koudelka

Invisíveis

por Felipe Bueno

“Era real, era a vida…só me cabia aprender a reagir diante daquilo.”

Josef Koudelka nasceu no alvorecer da segunda guerra mundial na então Tchecoslováquia. Teve, portanto, oportunidade de conhecer apenas dos relatos de pais e avós e dos livros de História o que havia sido seu país, seu povo e a Europa Central antes de seu nascimento.

Jovem adulto, saiu pelo mundo com uma câmera na mão e ajudou a mostrar e a preservar tradições ignoradas e realidades escondidas.

Qual a importância de seu trabalho?

Num primeiro momento, para além do inquestionável valor estético das fotos, deparamos com guerras que não lutamos e emoções que não vivemos.

Mas, basta uma mínima reflexão para ver nas imagens das ruas de Praga em 1968 ou dos vazios ocupados pelos andarilhos no interior da Europa Central para entender quão universal é a mensagem de Koudelka.

Porque, afinal de contas, repressão e liberdade, divergência e convergência, riqueza e pobreza, abandono e acolhimento, invisibilidade e visibilidade são lados de moedas que cabem nos bolsos de qualquer ser humano.

Porque a relação de sincero afeto entre um cigano e seu cavalo, ou seja, um ser humano e seu animal, é a mesma, viva você na mais modesta propriedade rural ou no mais luxuoso apartamento. As ruas estão cheias de exemplos.

Porque sempre é a mesma a dor da partida, ou da morte, que é a única definitiva entre as partidas. Os rostos estão cheios de exemplos.

Numa época em que não existiam reels e legendas automáticas, num momento em que havia I sem a necessidade de A, Josef Koudelka ao mesmo tempo contou histórias, permitiu que seus objetos narrassem outras e proporcionou outras mais a cada par de olhos que visse suas fotos.

Para quem estiver em São Paulo, vale passar até meados de setembro no Instituto Moreira Salles e visitar a mostra Koudelka: Ciganos/Praga 1968/Exílios, com obras emblemáticas do trabalho do fotógrafo, além de boa documentação histórica.

Afinal, os elementos que tornaram possível a Primavera e sua trágica repressão ainda estão vivos na Terra. Ainda mais vivos estão – ao menos por enquanto – milhares de homens, mulheres e crianças silenciosos e invisíveis, exilados geográficos e culturais num mundo em que deveria haver lugar para todos.

Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

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