Os romances psicografados

A Codificação da Doutrina Espírita, como organizada por Kardec, eu acho um tanto complicada. Apenas o “Livro dos Espíritos” e “Evangelho segundo o Espiritismo” me parecem mais fáceis de ler ou consultar. Os demais exigem estudo e disciplina, o mesmo pode ser dito da prática do “Evangelho no Lar”. Creio que a complexidade pode ser uma barreira (para mim, é.) Para quem só lê superficialmente sobre a doutrina pode parecer uma incorporação de conceitos budistas e hinduístas ao cristianismo.

Mas o que eu quero falar é sobre uma vertente da literatura espírita, os romances psicografados das últimas décadas, muito populares no Brasil. Tanto pela facilidade de compreensão como pela forma lúdica de absorver os conceitos mais importantes fiquei muito simpatizante do atalho representado pelo “neoespiritismo” (exemplo : livros da Zibia Gasparetto.) Já devo ter lido uns 60 ou mais romances do gênero.

AchoAcho que o mais antigo deles é “O Amor Venceu” (espírito Lucius), dos anos 50. Do qual não gosto tanto porque ainda é um pouco no estilo dos livros psicografados por Vera Krijanowsky (espírito Conde Rochester) ou mesmo do Chico Xavier (espíritos Emmanuel ou André Luiz.) Os romances psicografados do final do século XIX e primeira metade do século XX dão muitas voltas, passam os conceitos muito aos poucos, são difíceis até no vocabulário. “A Noite de São Bartolomeu” (Vera K. – Rochester), por exemplo, é ótimo sobre história da França, mas não esclarece em nada como sucede a vida espiritual, que nem é citada. É o tipo de romance que não faz diferença ser psicografado ou não, afinal, também não sabemos o quanto da genialidade de escritores e pensadores é exatamente individual, há uma “névoa” encobrindo o conceito de “intuição”. Acho que diferente seria “Nosso Lar”, que aborda diretamente a vida espiritual, mas interrompi a leitura logo no início.

Mas, enfim, a própria Zibia (ou seus mentores) logo mudou de estilo. Começaram a surgir (acho que nos anos 80) romances como “O Matuto” e “Esmeralda” (ambos da Zibia), “Nada Fica sem Resposta” (da Elisa Masselli, já nesta década), “Violetas na Janela” (psicografado por Vera Marinzeck.) Todos esses livros são muito agradáveis de ler, e de cada um aprendi algo. “O Matuto”, por exemplo, fala de Umbanda, além de ser engraçadíssimo. Os livros podem parecer policiais, comédias, novelas românticas ou romances de aventura, mas, ao mesmo tempo em que entretem, vão passando conceitos de como é a vida espiritual, quais são as explicações para vermos sentido na reencarnação, o que podemos fazer para evoluirmos e agirmos melhor conosco e com os demais. Em nenhum momento os considero proselitistas ou conformistas. Alguns falam sobre religiões (em geral ou alguma específica), sobre os grandes problemas sociais (racismo, preconceitos em geral, machismo), como lidar com perdas, até episódios de distúrbios psicológicos.

Nada de seu conteúdo me parece que possa ser considerado como uma religião propriamente dita, embora em alguns romances haja menções a Centros Espíritas. Acho no geral parecido com o espiritualismo dos Estados Unidos (Sylvia Browne, por exemplo.) No entanto, para quem aceita em algum grau a existência de espiritualidade, esses romances podem ser uma boa forma das pessoas, individualmente, se verem inseridas em um contexto mais amplo. 

Luis Nassif

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