Augusto Cesar Barreto Rocha
Augusto César Barreto Rocha é Professor Associado da UFAM. Possui Doutorado em Engenharia de Transportes pela UFRJ (2009), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2002), especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000) e graduação em Processamento de Dados pela UFAM (1998).

A Amazônia diante do colonialismo tecnológico, por Augusto Rocha

O colonialismo é tecnológico, a competição está nas plataformas, com uma enorme opacidade algorítmica e pouca regulagem econômica

O Triunfo da Morte (Palermo), autor desconhecido

A Amazônia diante do colonialismo tecnológico

por Augusto Cesar Barreto Rocha

As desigualdades digitais entre os países são gritantes. Há poucos produtores e bilhões de consumidores. As empresas que lideram este novo capitalismo atuam como um “tecnofeudalismo”, termo cunhado por Yanis Varoufakis para explicar um ambiente onde bilionários se protegem contra a regulação ao mesmo tempo em que, como grandes barões do passado, compram startups para evitar novos concorrentes que possam emergir em qualquer lugar. Neste contexto, vê-se seus maiores exemplos nas “Mag 7”: Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla.

O excesso de informações mediado por redes sociais e por bolhas de informação dá a impressão para as pessoas de um conhecimento amplo, ao passo que o que há são informações que sofrem curadoria cuidadosa e são apresentadas em vinculações de afetos ou ódios, para mobilização frente a medidas que podem ser contrárias ao seu próprio interesse, fazendo até com que o subemprego seja comparável a uma atividade empresarial rentável.

Políticas mercantilistas (século XV ao XVIII) levaram a uma expansão colonial, com acumulação de metais preciosos, protecionismo e imposição de regras pela força militar. O poder de agora é transnacional, com fronteiras menos visíveis e a desigualdade baseada no controle digital e econômico. O colonialismo é tecnológico, a competição está nas plataformas, com uma enorme opacidade algorítmica e pouca regulagem econômica, graças ao neoliberalismo, temperada por uma abundância de capital público e privado.

A falta de consciência da ignorância frente ao cenário pode levar a uma atuação de busca de um passado colonial. O desafio para as regiões e pessoas que não possuam domínio desta linguagem tecnológica para enfrentar e ganhar a vida no neoliberalismo, passa a observar a chance de produção de commodities, ou seja, de ter uma vida “neocolonial” como um alvo promissor. O problema é que este modo de viver é subalterno, com tendência a escravização, inicialmente voluntária, e com uma troca desigual de riquezas, tal qual falávamos no passado “espelhos por ouro”.

Hoje trocamos soja por blusinhas ou biotecnologia baseada em conhecimentos tradicionais por celulares. O mundo segue desafiante, como sempre foi. O problema é o posicionamento adequado para cada momento. As oportunidades não são óbvias, nem fáceis. Afinal, se fossem, todos seriam ricos e com boas condições de vida. Achar que o outro é “tolo” ou “doido” não nos fará superar os desafios de uma mudança de mundo. Precisamos buscar a inteligência por trás de cada movimento, afinal ninguém é líder por acaso e a união faz a força.

A biotecnologia, impulsionada por capital local e plataformas tecnológicas protegidas por ecossistemas de capital privado regional, podem oferecer uma oportunidade única para a Amazônia e para o Brasil. Missões nessa nova indústria são valiosas, desde que possamos liderar a construção deste cenário. Entretanto, existem e existirão forças que resistirão, para nos manter como uma eterna colônia.

Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.

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