Augusto Cesar Barreto Rocha
Augusto César Barreto Rocha é Professor Associado da UFAM. Possui Doutorado em Engenharia de Transportes pela UFRJ (2009), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2002), especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000) e graduação em Processamento de Dados pela UFAM (1998).
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BR-319: a rodovia da economia e da proteção da floresta, por Augusto Rocha

Quem vive na Amazônia com frequência se sente desassistido ou explorado. Dificilmente percebemos a região como uma parte de um todo maior

BR-319: a rodovia da economia e da proteção da floresta

por Augusto Cesar Barreto Rocha

Finalmente apareceu um projeto que recupera a rodovia BR-319, que liga Porto Velho à Manaus. Um dos maiores símbolos do abandono do Governo Federal em relação à Amazônia agora possui uma concepção de projeto que devolve o protagonismo do Estado em relação ao futuro da Amazônia. Lá estão claramente dois dos três pés da sustentabilidade: uma preocupação econômica e ações para defender a economia, somada com a preocupação ambiental, com ações para proteger a floresta.

O que não tem no relatório é a preocupação com o social. Há indícios que isso possui alguma relevância, com planos de ação dos órgãos associados com o assunto. Há também ausência de ciência e tecnologia, com indícios vagos de preocupações com o potencial científico das reservas florestais e da natureza. Mas nada passa dos indícios. Também não vemos os potenciais de conexão entre as sedes dos municípios ao lado da rodovia ligados a ela, como se fosse uma estrutura de conexão entre capitais e não de aproximação de todo o interior.

Quem vive na Amazônia com frequência se sente desassistido ou explorado. Dificilmente percebemos a região como uma parte de um todo maior, como parte de um sonho compartilhado. Sentimos cada dia que passa como pequenas vitórias, onde há uma palavra frequentemente usada por aqui: “escapamos”. A construção de uma Amazônia idealizada e compartilhada, na sustentabilidade, no tripé econômico, social e ambiental é ainda parte de um imaginário muito distante dos povos da região.

Nesta semana que passou houve um evento do IDB Invest, com três dias, entre 11 e 13/06. Em meio às discussões das oportunidades de investimentos, era visível a busca de negócios em meio aos desafios regionais. O alvo era juntar oportunidades de investimento com as dificuldades regionais. Como levar a água potável para as pessoas, instalando os medidores desta água e cobrando por ela. A reprodução dos modos de vida civilizados, na capital ou no interior da floresta – uma revolução da tecnologia atrás de novos clientes de receitas recorrentes. Longe de qualquer discussão a transferência tecnológica ou a integração dos modos de vidas locais com as estruturas globais.

A oportunidade de negócios existe. A oportunidade de atividades existe. Quem é responsável? Isso não sabemos com clareza. Os modos de vida locais terão melhorias singelas? Talvez não, afinal segue a inexistir o desenvolvimento da ciência com as pessoas locais. Seguimos repetindo as práticas históricas de explorador-colônia. Até quando? Não sabemos. Ao menos, a ligação da economia com o meio-ambiente é melhor do que a exploração predatória, mas ainda está distante do que realmente almejamos por aqui. Evoluímos, mas ainda há muito para evoluir. Falta, por exemplo, um cronograma para a construção da estrada – isso para falar apenas do mínimo do mínimo quando se fala em construção civil.

Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.

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