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O Impacto das Mudanças Climáticas no Brasil, por Samuel de Paula, Elis Licks e Fernanda Feil

Atualmente, o Brasil apresenta uma matriz energética que se destaca globalmente, com 84,25% de sua produção proveniente de fontes renováveis.

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O Impacto das Mudanças Climáticas no Brasil: Desafios, Políticas e Deslocamentos Climáticos

por Samuel de Paula, Elis Braga Licks e Fernanda Feil

Nas últimas décadas, a temperatura global aumentou de maneira significativa, com uma elevação média de 1,1°C entre 2011 e 2020, em comparação com o período de 1850 a 1900. Em 2024, o aquecimento global atingiu níveis alarmantes, com as temperaturas médias globais ultrapassando 1,5°C acima dos níveis pré-industriais em alguns meses, segundo dados preliminares da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Esse aumento já se aproxima do limite estipulado pelo Acordo de Paris, e supera as previsões de curto prazo mais pessimistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que indicavam que esse nível de aquecimento só seria atingido na década de 2030, no cenário de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) descontroladas. O aumento mais rápido e intenso do que o previsto sublinha a necessidade urgente de implementação de políticas eficazes para mitigar os impactos das mudanças climáticas e promover adaptação a seus efeitos já em curso.

O agravamento da crise climática, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, tornou-se evidente em 2024, com uma intensificação de eventos climáticos extremos. No Brasil, o Rio Grande do Sul sofreu novamente com inundações severas, afetando mais de 500 mil pessoas, e reforçando sua vulnerabilidade a desastres climáticos. Simultaneamente, incêndios florestais devastaram várias regiões do país. Em 2024, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) registrou mais de 3,5 mil focos de incêndio em todo o Brasil, abrangendo todos os biomas nacionais. Esses incêndios evidenciam o impacto direto das mudanças climáticas e a inadequação das políticas de controle de desmatamento e queimadas. Essas catástrofes ressaltam a crescente vulnerabilidade do Brasil diante da crise climática, ao mesmo tempo em que expõem a insuficiência das políticas de mitigação e adaptação atualmente em vigor.

O Brasil, como signatário do Acordo de Paris ratificado na COP 21, comprometeu-se a limitar o aumento da temperatura global a menos de 2°C, buscando esforços adicionais para manter o aquecimento em até 1,5°C. Este compromisso envolve a redução das emissões de GEE e a promoção de fontes de energia renováveis, destacando-se como uma das estratégias mais relevantes do país no enfrentamento das mudanças climáticas. O governo brasileiro tem desempenhado um papel crucial na transição energética, enfrentando os desafios associados ao desenvolvimento sustentável, equilibrando aspectos sociais, ambientais e econômicos.

Atualmente, o Brasil apresenta uma matriz energética que se destaca globalmente, com 84,25% de sua produção proveniente de fontes renováveis. Entretanto, o desmatamento contínuo, especialmente na Amazônia, segue sendo um obstáculo significativo. Em 2021, foram desmatados 13.038 km² de floresta, o maior valor registrado em 15 anos. O impacto do desmatamento não se restringe ao aumento das emissões de GEE; ele também intensifica os efeitos das mudanças climáticas, exacerbando a frequência e a severidade de eventos climáticos extremos, como chuvas torrenciais no Rio Grande do Sul e secas severas na Amazônia.

Além de agravar as condições ambientais, os eventos extremos estão criando uma nova categoria de deslocados — os refugiados climáticos. O Brasil registrou mais de 745 mil pessoas deslocadas em 2023, devido a desastres climáticos como enchentes, tempestades e até mesmo o aumento extremo de temperaturas. Muitas dessas migrações são permanentes, impulsionadas por condições insuportáveis de calor. Esse aumento no número de refugiados climáticos evidencia a vulnerabilidade crescente do país diante dos impactos das mudanças climáticas e reforça a necessidade de políticas eficazes tanto no âmbito nacional quanto no local.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, a catástrofe levou ao deslocamento de 615 mil pessoas, representando 82% dos deslocamentos internos no Brasil provocados por desastres climáticos naquele ano. Esses números alarmantes sublinham a urgência de estratégias robustas para enfrentar a crise climática no país, tanto no que se refere à prevenção quanto à adaptação.

Com o intuito de combater esses desafios, o governo brasileiro desenvolveu o Plano Clima, sob a coordenação do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM). Esse plano prevê uma série de ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Entre os compromissos assumidos pelo Brasil, destaca-se a redução de 48% nas emissões de GEE até 2025 e de 53% até 2030, tomando como base os níveis de 2005. Além disso, o país se compromete a alcançar a neutralidade nas emissões de carbono até 2050.

O Plano Clima também propõe ações específicas para mitigar os riscos em municípios altamente vulneráveis a desastres climáticos, como enchentes e secas. As principais ações de mitigação incluem a redução do desmatamento, o incentivo a práticas agropecuárias de baixo carbono, o aumento da eficiência energética e a promoção de combustíveis de baixa emissão. Já em termos de adaptação, são previstas medidas para melhorar a resiliência de infraestruturas e comunidades diante de desastres climáticos.

No cenário internacional, o Brasil tem intensificado sua participação em discussões energéticas, especialmente no contexto da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+). A inserção do Brasil nesse grupo pode ter impactos significativos tanto nas políticas energéticas globais quanto em sua própria política interna, afetando desde a promoção de energias renováveis até o comportamento dos preços dos combustíveis no mercado doméstico.

O Brasil enfrenta desafios consideráveis em sua luta contra as mudanças climáticas, especialmente em relação ao desmatamento e ao aumento dos eventos climáticos extremos. Embora o país tenha avançado significativamente na transição energética, a crescente vulnerabilidade de suas populações e o aumento dos deslocamentos internos evidenciam a urgência de políticas mais abrangentes e eficazes. A implementação do Plano Clima e a participação do Brasil nas discussões internacionais são passos importantes, mas o sucesso no combate às mudanças climáticas dependerá de um esforço contínuo e coordenado, envolvendo todos os setores da sociedade e promovendo o desenvolvimento sustentável.

Samuel de Paula – Mestrando em Economia da Universidade Federal Fluminense – UFF e Pesquisador do Finde/UFF

Elis Braga Licks – Professora do departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES

Fernanda Feil – Professora cadastrada na UFF e pesquisadora Finde/UFF e Geep/Iesp

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