Entenda as acusações que pesam contra Braga Netto, o primeiro general quatro estrelas preso no país

Camila Bezerra
Jornalista

PF indica que há fortes provas de que o general financiou golpe e tentou obter dados de delação premiada e embaraçar as investigações

Fabio Rodrigues Pozzebom – Agência Brasil

O juiz Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, auxiliar no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, manteve a prisão preventiva do general Walter Braga Netto (PL-RJ) na tarde de sábado (14), após audiência de custódia realizada por videoconferência. 

No entanto, durante a audiência de custódia, o general optou pelo silêncio. Já a defesa garantiu que vai provar que o ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro (PL) não tentou obstruir as investigações. 

Suspeito de liderar as ações golpistas para impedir a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entre novembro e dezembro de 2022, Braga Netto é o primeiro general quatro estrelas preso no país. Ele está detido no Comando da 1ª Divisão de Exército, que integra o Comando Militar do Leste (CML), no Rio de Janeiro.

Entenda o caso

Braga Netto é investigado pela Polícia Federal, que atuou para “obter informações sobre a delação premiada de Mauro Cid e na obtenção e entrega de recursos financeiros para execução de monitoramento de alvos e planejamento de sequestros e, possivelmente, homicídios de autoridades”.

Para chegar a tal conclusão, a PF recuperou conversas no WhatsApp após perícia no celular de Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. A conversa foi apagada em 8 de agosto de 2023, três dias antes da operação “Lucas 12:2”, que investiga a venda ilegal de joias árabes recebidas pelo ex-presidente, mas que pertenceriam ao Estado brasileiro.

O contato constante com Lourena Cid seria uma forma não só de obter os dados informados por Mauro Cid no acordo de delação premiada, mas também controlar as informações que eram fornecidas, além de alinhar as versões entre os investigados. 

Em depoimento, Lourena Cid confirmou que o general tentou obter dados sigilosos da delação, pelos quais receberia dinheiro em uma sacola de vinho, “que serviria para o financiamento das despesas necessárias à realização” do plano de golpe”. 

Depois de analisar as informações da PF, Alexandre de Moraes apontou que as investigações “revelaram a gravíssima participação de Walter Souza Braga Netto nos fatos investigados, em verdadeiro papel de liderança, organização e financiamento, além de demostrar relevantes indícios de que o representado atuou, reiteradamente, para embaraçar as investigações”.

Os investigadores apontaram ainda “fortes e robustos elementos de prova” da participação ativa do general na tentativa de pressão aos comandantes das Forças Armadas para aderirem à tentativa de golpe. 

Sacola de vinho

Recaem sobre o general da reserva outras acusações, em que ele teria financiado a atuação dos kids pretos também entregando o dinheiro “obtido junto ao pessoal do agronegócio” em sacolas de vinho. 

A investigação aponta que o destinatário do dinheiro foi o major Rafael Martins de Oliveira, preso na Operação Contragolpe. 

No relatório de 884 páginas da Operação Contragolpe, Braga Netto é citado 98 vezes. Além de chefiar, com o também general Augusto Heleno, o plano para impedir a posse de Lula, Braga Netto articulou ainda estratégias para conquistar o apoio nacional e internacional ao golpe. 

General da reserva, Braga Netto foi candidato à vice-presidente em 2022 na chapa com Jair Bolsonaro. Antes, foi ministro-chefe da Casa Civil, de 2020 a 2021, e ministro da Defesa, de 2021 a 2022. No indiciamento, a Polícia Federal apurou que uma das reuniões realizadas para tratar de suposto plano golpista teria sido realizada na casa do militar em novembro de 2022.

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1 Comentário

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  1. Confirmado está o prognóstico que eu fiz em 09 de janeiro de 2023.

    “Não existe espaço político para dúvida ou contemporização: em 08/01/2023 a extrema direita brasileira finalmente se transformou num ‘caso de polícia’. Em breve, esse poderá ser com justiça considerado o maior feito da família Bolsonaro. Aos inimigos da democracia o rigor da Lei.”
    https://jornalggn.com.br/opiniao/obrigado-bolsonaro-voce-transformou-a-extrema-direita-em-caso-de-policia/

    Agora que as engrenagens do sistema de justiça começaram a esmagar a criminalidade fardada, abre-se uma excelente janela de oportunidade para a reforma das forças armadas, para a supressão do ensino dos oficiais militares baseado na tese do “inimigo interno” e na da “turela fardada do país”. Se o governo perder essa oportunidade, um novo ciclo de golpismo militar poderá começar a ser gestado em segredo, planejado com mais cuidado e estruturado com muito mais eficiência do o que está sendo agora destroçado.

    O perigo iminente deixa de existir. Mas ninguém pode fazer de conta que o regime democrático está seguro. Ele nunca ficará seguro enquanto as polícias forem militarizadas e puderem ser cooptadas por bandos de milicianos comandados por líderes de extrema direita. A fogueira que começou a ser acendida nos quartéis pelos Bolsonaro foi apagada, mas existe muita braza acessa sob o carvão molhado. A localização e neutralização desses focos de sedição militar deve ser uma atividade governamental permanente, uma política de Estado.

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