Instituto Lula e a nova era digital, segundo Marcio Pochmann

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Em entrevista exclusiva, presidente da entidade explica o estudo da desigualdade conforme o avanço da digitalização na sociedade

Márcio Pochmann é economista, professor e presidente do Instituto Lula – Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil

O Instituto Lula foi criado em 2011 para facilitar a cooperação internacional entre Brasil, África e os demais países da América Latina, mas sua atuação tem sido ampliada do ponto de vista de ideias e políticas públicas.

“Temos procurado reforçar esse papel importante do legado dos dois mandatos do ex-presidente Lula, uma série de políticas públicas que serviram inclusive para outros mandatos presidenciais fora do Brasil, em termos de cooperação internacional”, diz o presidente da fundação, Marcio Pochmann, em entrevista exclusiva à TV GGN 20 horas.

“O centro da nossa atuação – hoje, nós temos cerca de 250 estudiosos, gestores envolvidos em várias formulações e que se voltam, basicamente, para o que a gente identifica como sendo uma era nova ao qual o Brasil está situado e que, na falta de um melhor nome, a era digital”, pontua o economista e professor.

“Então, a digitalização da sociedade e da economia vem trazendo impactos muito profundos e ampliando algo que a gente já conhece há muito tempo no Brasil que é a desigualdade”, diz Pochmann, que assumiu o comando da entidade em agosto de 2020.

O economista lembra que o país não conseguiu enfrentar a desigualdade social gerada na época do agrarismo por conta de seu longo passado escravista. E também não conseguiu resolver a questão na era industrial.

“Nós infelizmente não fizemos as reformas clássicas que em outros países permitiram enfrentar melhor a desigualdade – reforma fundiária, tributária, social, etc. Então, nós permanecemos como um país das maiores desigualdades do mundo”, diz Pochmann.

“O nosso objetivo tem sido olhar essa questão da desigualdade na era digital, buscando justamente oferecer políticas públicas que possam de certa maneira enfrentar esse problema que me parece muito grave, se nós não tivermos uma atuação mais aprofundada e, me parece até inclusive, uma espécie de debate um pouco empobrecido sobre este tema, tendo em vista a realidade nacional”, ressalta Pochmann.

E o Brasil já entra no debate com alguma desvantagem, por ser um país importador d ebens e serviços digitais. “Nos anos 80, o Brasil produzia computadores, por exemplo, mas veio a visão de que o que a gente produzia aqui era a carroça, era o atraso (…)”, lembra o economista.

Com o resultado dessa mudança de visão, o Brasil hoje é o quarto maior mercado consumidor de bens e serviços digitais, embora seja a 13ª economia e estejamos na sexta posição em termos de população mundial.

“Os países que, de certa forma estão se saindo melhor, são os países que produzem bens e serviços digitais, pois geram melhores empregos, tem capacidade de adotar esforço científico e tecnológico e nós estamos nos distanciando disso”, diz o presidente do Instituto Lula.

Com esse distanciamento, o tipo de ocupação possível no país acaba sendo aquelas já conhecidas: precarizadas e com baixa remuneração.

“Para colocar um ponto para questionar: nós importamos as tecnologias e bens e serviços digitais, utilizando na verdade da receita advinda da exportação do agronegócio. Então, é uma coisa estranhíssima do qual nós estamos submetidos”, ressalta Pochmann.

Veja mais a respeito do tema na íntegra da TV GGN 20 horas. Clique abaixo e confira!

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

2 Comentários

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  1. Sou professor de Computação em uma Univ. Federal e fiz computação na década de 80. Naquela época, se falava muito no desenvolvimento da Computação, quem é de fora tinha a impressão de que oS governoS estavam realmente empenhados em fazê-lo. E o que os governos faziam? Davam dinheiro a empresas. E só. Enquanto isso, na USP, tínhamos que fazer trabalhos de madrugada porque não havia computadores para todo mundo. Livros com menos de 10 anos então era um luxo. Como professor, fiquei 7 anos sem um computador da Universidade na sala, tinha que disputar um espaço com alunos em um laboratório que não me atendia (o SO era Unix). Só consegui um computador após o doutorado, com um projeto da FAPESP. Com o CNPq, nadinha de nada, nem com a Universidade. Nos governos do PT, a situação melhorou *muito*, mas o dinheiro não chegava nos professores o quanto é necessário. Nem nos alunos. Agora, a grande maioria dos computadores que os alunos usam têm 10 anos ou mais — e já não tinham uma boa configuração quando foram comprados.

    Uma coisa que o PT poderia estimular são os mestrados profissionais. Gostaríamos muito de tê-los. Mas a burocracia é implacável. Nós nos oferecemos para trabalhar *mais*, sem nenhum retorno financeiro, em uma coisa *muito* importante para a sociedade e a ajuda governamental é *zero*. Não é preciso muito dinheiro para oferecer um mestrado profissional. Na verdade, muito pouco.

  2. Não tenho base teorica nem números mas acredito que o “gap” digital não seja tão grande , com os smartsphones as classes menos favorecidas tem acesso à Rede , nem que seja pelo aparelho de segunda mão que ganhou de um amigo, patroa etc.
    Tanto que eles são atingidos pelas fakes infelizmente.

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