A volta muito bem-vinda da Banda Zil, por Maurício Gouvêa

Para celebrar estes shows da Banda Zil, trago um texto escrito por mim em 2015 e usado como release quando a Zil retomou suas atividades após longo tempo de inatividade. Essa volta resultou na gravação, em 2016, de um CD e DVD ao vivo, “Zil ao Vivo”, lançado em 2019.

Foto Victor Carvalho – Divulgação

por Maurício Gouvêa

Com o controle gradual da pandemia em muitos países, a música brasileira vai retomando seu caminho mundo afora, como sempre fez. Algumas turnês internacionais começam a surgir para artistas brasileiros, entre eles a Banda Zil, que fará shows em outubro em Portugal. Serão duas apresentações, a primeira no dia 23/10, na lindíssima “Casa da Música” na Cidade do Porto, e a segunda dia 25/10, no Teatro Tivoli BBVA em Lisboa, esta última com a participação do grande artista português Antonio Zambujo.

Para celebrar estes shows da Banda Zil, trago um texto escrito por mim em 2015 e usado como release quando a Zil retomou suas atividades após longo tempo de inatividade. Essa volta resultou na gravação, em 2016, de um CD e DVD ao vivo, “Zil ao Vivo”, lançado em 2019.

A volta muito bem-vinda da Banda Zil

Zil. O nome é ótimo, simples e direto. Tem a ver com as coisas daqui, brasileiras, mas também é monossílabo com um charme internacional. Coisa chique, os gringos falam BraZIL… Zil também é título de livro pós-tropicalista. Poesia de vanguarda. Vanguarda combina com Zil. Nome que te leva prá longe, soa bem, é musical. Zil e música, tudo a ver.

Zil é banda.. e das boas. Banda Zil. Faz música brasileira, sotaque Jazz… brazilian jazz? Lá fora falam assim, mas nesse amálgama sonoro cabe muito mais coisa. Marcos Ariel, Zé Renato, Zé Nogueira, Claudio Nucci, Ricardo Silveira, João Baptista e Jurim Moreira… Time de respeito… Sete cabeças que tem muitas partituras na bagagem. Já as tinham em 1987, quando a banda lançou seu primeiro e único disco, numa época em que a gente chamava o vinil de Long Play. Alguns anos depois os gringos ganharam um presente que o Brasil, com “S”, não ganhou: uma versão em CD, com direito a uma faixa extra (PS: eu adoro disco com “bonus track”). Bacana nesta história toda é que essa turma de músicos sempre trabalhou de forma colaborativa, uns nos discos dos outros, desde o final dos anos 70. Desbravaram, juntos, as matas do disco independente; protagonizaram o emergir de uma estética instrumental que se cristalizou em points cariocas como o Jazzmania, Parque da Catacumba e People para, depois, ganharem o mundo; tocaram e gravaram com diversos artistas relevantes, aqui e no exterior. E esse encontro raro ficou registrado em um único disco. Um disco, e só.

Juntar estes talentos todos numa banda não deve ser fácil. Trabalho individual cada um deles tem, até hoje. Ao longo destes anos, restou ouvir muitas e muitas vezes aquela bolachinha com a nuvem na capa, disco de cabeceira, reunindo as várias faces de uma música que estava “zil” anos à frente de seu tempo e, por esta razão, nunca teve prazo de validade.

A volta desta rapaziada demorou.. chega agora, tantos anos depois. Não é uma volta qualquer, a turma é cheia de estilo… O que se vê no palco é um papo reto entre banda e público em apresentações emocionantes, que externam visivelmente o prazer daqueles sete grandes músicos de estarem ali juntos, liquidificando sete linhas artísticas em prol de um som único.

O repertório, como não poderia deixar de ser, é pautado naquele único disco de 1987. “Anima”, “Pegadas Frescas”, “Tupete”, “Benefício”, “Suite Gaúcha“, “Maromba”, canções autorais e pungentes, como a “bonus track” do cd importado, “Zarabatana”, também incluída no espetáculo. Não se ouve isso fácil por aí. E ainda tem “Jequié” do maestro Moacir Santos, letra de Aldir Blanc. A Zil não veio para brincadeira.

Mas, como se não bastasse, o tanque da Zil está cheio. Afinal, são sete baús cheios de coisa boa prá mostrar. Dentro deste vasto repertório, “Terra Azul”, “Calma”, “Lua Branca”, “Zil” e “Portal da Cor” já serviram de oxigênio para um show que melhora a cada dia… Isso é bom, pois ver a Zil no palco nos deixa, de fato, sem ar.

Banda de um disco só? Acabou esta prosa… a música brasileira já esperou muito. Agora, o caminho é sem volta, pois Zil é palavra que te leva prá longe, como o som da banda, de vanguarda. Zil soa bem, é musical. Coisa chique. Tem charme internacional sim, mas é cheia de brasilidade. Simples e direto, o nome é ótimo. Bem-vinda de volta. Zil.

Maurício Gouvêa é colecionador, pesquisador e amante incorrigível da música brasileira

Redação

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