Crise: Bresser-Pereira defende criação de Estado Europeu

Por Marco Antonio L.

Crise na Europa: portas fechadas para o euro

De Luiz Carlos Bresser-Pereira, No O Outro Lado da Notícia

DIANTE DA crise do euro, a cúpula de seus dirigentes reverteu a decisão tomada há duas semanas e decidiu garantir aos bancos espanhóis financiamento direto, sem envolver endividamento do Estado espanhol.

A medida era necessária, porque a decisão anterior havia sido mal recebida pelos mercados financeiros que, corretamente, entenderam que a dívida pública se tornava mais arriscada. Isto dá mais fôlego para o euro, mas não muda o problema: os europeus se debatem com falsas alternativas. A solução não está em austeridade ou crescimento.

Talvez esteja em criar um Estado federal europeu, mas não está em primeiro a austeridade e depois a união fiscal, como quer a Alemanha, nem em primeiro o socorro financeiro e o abrandamento da austeridade e depois a união política, como demanda a França.

A oposição entre austeridade e crescimento é falsa porque crescimento não resolve o problema fundamental da Europa que é cambial: a taxa de câmbio implícita dos países endividados apreciou-se em relação à da Alemanha, porque nos últimos 15 anos os salários reais da Alemanha diminuíram em relação ao dos países endividados.

Já a alternativa da federalização da Europa, que domina a imprensa francesa nos últimos dias, é mais consistente. De fato, se a Europa ou a zona do euro fossem transformadas em um Estado, haveria ao mesmo tempo solidariedade maior entre os países e perda de autonomia fiscal, e a crise financeira seria interrompida, a não ser que os mercados financeiros não tivessem confiança na zona do euro como um todo. Mas a proposta é utópica.

Os europeus não estão preparados para essa perda de autonomia. Não acredito que entre uma descontinuidade bem acordada do euro e a perda da soberania, os europeus escolherão a segunda hipótese.

E mesmo que isso não seja verdade, não é possível construir uma federação na qual o governo central controle 2% da arrecadação total de impostos; precisaria arrecadar 15 a 20 vezes mais, o que só pode ser feito através dos anos.

Qual a solução, então? Eu não tenho dúvida: é, por meio de um acordo, e com base em um cuidadoso planejamento, extinguir o euro.

É fazer uma reforma monetária por meio da qual os países voltem a ter suas moedas nacionais, ao invés de terem uma “moeda estrangeira” como é o euro para cada um deles, já que não podem, individualmente, nem emiti-la, nem desvalorizá-la. E é também desvalorizar as moedas dos países endividados, ao mesmo tempo que se estabelece a união bancária de forma a proteger os bancos da desvalorização.

Nesses termos, o Banco Central Europeu não desapareceria. Ele assumiria novas funções: a de administrar essa união bancária -uma base para a futura e gradual construção de uma federação e retomada do euro.

É, portanto, falsa a tese alarmista de que o fim do euro significará o fim da União Europeia. Na verdade, o euro foi uma decisão equivocada, em um momento em que a Europa não estava preparada para uma moeda comum.

Os prejuízos que está provocando já são muito grandes. E o risco de um colapso só aumenta se os europeus insistirem em se autoenganar com soluções equivocadas.

Luis Nassif

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