Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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Da política externa altiva e ativa para o caminho da política externa subalterna e dependente, por Guilherme dos Santos

É necessário projeto e estratégia para o país se colocar do seu tamanho, de maneira autônoma e soberana, visando ao seu desenvolvimento

Da política externa altiva e ativa para o caminho da política externa subalterna e dependente

por Guilherme Afonso Gomes dos Santos

 O Brasil do Lula 1 e 2, com o apoio do chanceler Amorim, ajudou a ampliar o Mercosul, com inclusive apoio da entrada da Venezuela, tinha projetos de consolidar a Unasul, CELAC, IIRSA, política de defesa e integração regional, criou o BRIC e fórum IBAS, depois trouxe a África do Sul para equilibrar sua posição, transformando o bloco em BRICS; quis participar das negociações sobre a energia nuclear iraniana, talvez “esticando” mais que podia, porém foi uma tentativa notadamente positiva de nossa diplomacia.

 Já no Governo Dilma, com o Ministério das Relações exteriores com tendências mais “americanófilas”, sob o comando do chanceler Patriota, o Brasil, que seria o “líder natural” da integração sul-americana, ficou de lado nas negociações da pacificação da Colômbia (dando protagonismo a Cuba como intermediador nas negociações) e se desmoralizou na incompetência da crise do diplomata boliviano.

Depois dos não-governos Temer e Bolsonaro, que apequenaram a posição do Brasil no cenário internacional, o Governo Lula 3, crivado de ONGs e think tanks liberais e com fortes dificuldades internas e oposições, no contexto de crise estrutural da hegemonia do imperialismo estadunidense e do Ocidente, além de não conseguir se desvencilhar do centro de poder para manter equidistância Ocidente-Eurásia – por excessiva cautela e até receio – se posiciona, na prática, de maneira subalterna em suas críticas e considerações em relação aos adversários do bloco  hegemônico otanista-estadunidense.

As referências às ações de lutadores palestinos do Hamas e outros grupos como “ações terroristas” na Assembleia Geral da ONU e as críticas fortes à Rússia em tom até mais enfático que ao Ocidente, sendo que este bloco que usa a Ucrânia como proxy em sua estratégia de desgaste contra a Rússia, mostram um posicionamento mais palatável ao bloco hegemônico. Mais recente, em relação à questão do interesse de adesão da Venezuela e Nicarágua no BRICS, ao vetar categoricamente a entrada venezuelana no Bloco – país este boicotado e sancionado pelo imperialismo e pelos EUA, dono das maiores reservas petrolíferas do mundo e parceiro estratégico histórico do Brasil – a posição do atual governo vai se desvencilhando da postura independente dos governos progressistas passados e vem convergindo com a postura diplomática da hegemonia norte-atlântica, mesmo esta estando em crise, com considerável perda de poder relativa no sistema internacional.

 O Governo Lula 3, de fato, se encontra em dificuldades com a polarização política interna e a heterogeneidade de forças dentro do próprio governo, e com pressão externa, porém um país do tamanho do Brasil, como diz Paulo Nogueira Batista, não cabe no quintal de ninguém; ainda mais um país que visa participar do sistema internacional de maneira soberana. É necessário projeto e estratégia para o país se colocar do seu tamanho, de maneira autônoma e soberana, visando ao seu desenvolvimento, nesse mundo em mudanças estruturais e com o surgimento de novos polos de poder regionais e fóruns multilaterais.

Se a política externa continuar dessa forma, a janela de oportunidades histórica, inclusive no tocante à diversificação de parceiros econômicos, vai passar, acelerando a posição de submissão e dependência do Brasil no sistema internacional.

 Ainda há tempo para um ajuste de coordenadas nesse atual contexto de mudanças geopolíticas e surgimento de novos blocos geoeconômicos, mas esse está escasseando.

Guilherme Afonso Gomes dos Santos – Economista (UFABC), Bach. Em Rel Internacionais (UFABC), Lic. Em História (Unimes). Mestre e Doutorando em Economia Política Mundial UFABC. Contato: [email protected]

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1 Comentário

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  1. O veto à entrada da Venezuela no BRICS foi dar à pulga o tamanho de um elefante ou mesquinharia rasteira, como queiram. A insensatez venceu de goleada e o governo Lula foi manchado por uma posição discrepante. A cerca do quintal subiu um fio e o governo Lula de vizinho passou a capataz. Cada um escolhe o seu lugar …

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