
O governo de Tarcísio Freitas promulgou nesta quarta-feira (28) uma homenagem a um dos expoentes e defensores da Ditadura Militar, Erasmo Dias. Um entroncamento em Paraguaçu Paulista, cidade natal de Dias, passará a se chamar Deputado Erasmo Dias.
Nove centrais sindicais e a União Nacional dos Estudantes (UNE) emitiram nota conjunta na qual pediram ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para vetar a homenagem, aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Em Portugal, o governador não deu ouvidos e seu vice foi quem assinou a lei.
Dias costumava se fazer de vítima sobre seus atos, sem negá-los. “Sou estigmatizado por ter defendido com unhas e dentes o Brasil contra o regime comunista putrefato. Quero receber reparação. Tenho mais direito a ela do que aqueles terroristas que fizeram guerrilha e agora posam de heróis, ditando as regras neste país”, declarou à Folha de S. Paulo, em 2004.
Entre 1964 e 1985, o regime militar fechou o Congresso, censurou a imprensa, lançou para a clandestinidade grupos opositores, torturou e matou. Colaborou ainda com ditaduras pela América Latina. Povos indígenas foram exterminados e casos de corrupção censurados.
Dias era coronel e se notabilizou neste período por episódios de violência contra os que se opunham ao regime autoritário. Em 1964, quando comandante do Forte Itaipú, na Baixada Santista, prendeu sindicalistas e os aprisionou no navio Raul Soares, o navio prisão.
Em 1970, no Vale do Ribeira (SP), comandou o cerco ao grupo de Carlos Lamarca, mas não obteve sucesso. Posteriormente, publicou livros com suas ideias agressivas de segurança nacional que se enveredaram para o que chamava de Doutrina de Segurança Pública.
Invasão da PUC
Mas a fama de Dias veio na noite de 22 de setembro de 1977. Como secretário da Segurança Pública, Erasmo Dias comandou a ocupação do campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O militar esteve pessoalmente no local e foi filmado aos berros, xingando os estudantes e os jornalistas.
O presidente Ernesto Geisel (1975-1979) havia prometido a abertura do regime, mas dentro das Forças Armadas havia oposição. O coronel Dias fazia parte da ala que defendia o endurecimento do regime. Nos eventos da PUC, ele fez valer esse ponto de vista, o que obrigou Geisel a refluir a repressão contra os estudantes.
Linha dura
O Encontro fazia parte das iniciativas para refundação da União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade ilegal desde 1968. Um decreto de Ernesto Geisel, subscrito pelo ministro da Justiça, Armando Falcão, proibia a concentração estudantil em qualquer lugar.
Cerca de 3 mil policiais participaram da operação. No estacionamento da PUC, mais de 1500 estudantes passaram por triagem policial. Cerca de 500, segundo o coronel Erasmo (854 pessoas, segundo reportagem da Folha de S. Paulo) foram transferidos, em ônibus da prefeitura municipal, para o quartel do Batalhão Tobias de Aguiar, onde passaram por processo de cadastramento e qualificação.
Ao final, as autoridades pediram o enquadramento de 32 deles (42 segundo a Folha de S. Paulo) na Lei de Segurança Nacional, acusados de infringir o artigo 39 para o ato de incitar a subversão da ordem, e o artigo 43, que estabelecia pena de 2 a 5 anos de prisão por tentativa de reorganizar partidos, entidades e associações de classe extintas por lei.
Violência como Trampolim
Independente das consequências, o coronel angariou apoio da população que defendia a repressão. Depois de deixar a secretaria da Segurança Pública de São Paulo, Erasmo Dias foi eleito deputado federal pela extinta Arena em 1978. Dali até praticamente o final da vida, se manteve em um gabinete.
Sua atuação parlamentar seguiu na linha dura, mas desta vez voltada à segurança pública. Defendeu reiteradas vezes ações policiais violentas e nunca se cansou de falar de ameaças comunistas, se colocando como antagônico a este grupo político que se via na posição de combater.
Se elegeu deputado estadual outras três vezes – pelo PDS e pelo PPR – e, por fim, vereador de São Paulo pelo PPB. Se manteve aliado de Paulo Maluf em todo esse período. Seu último mandato terminou em 2004 e sua morte se deu em 2010. Está enterrado em Santos no mesmo cemitério em que está Luiz Eduardo Merlino, jornalista assassinado nos porões da ditadura em 1973.
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