Para que não se esqueça, para que não se repita… Heleny Telles Guariba

17 de março, em 1941, em uma pequena cidade no interior de São Paulo, Bebedouro, nascia uma mulher que ganharia a cena brasileira por sua trajetória no teatro, na filosofia e na luta contra a ditadura militar: Heleny Telles Guariba

da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos

No dia de hoje…

17 de março, em 1941, em uma pequena cidade no interior de São Paulo, Bebedouro, nascia uma mulher que ganharia a cena brasileira por sua trajetória no teatro, na filosofia e na luta contra a ditadura militar. Heleny Telles Guariba estudou na Universidade de São Paulo (USP), onde passou a lecionar, na Faculdade de Filosofia. Foi também professora na Escola de Artes Dramáticas (EAD), além de ter promovido diversas atividades culturais e trabalhado como diretora de teatro.

Foi casada com Ulisses Telles Guariba Neto, com quem teve dois filhos, entre os anos de 1962 e 1969. Conciliou a vida materna com o doutorado na França, direção de peças renomadas de Nelson Rodrigues e trabalhos no Teatro Arena de Augusto Boal. E ainda militava na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) – reconhecido grupo militante que demarcou a oposição à ditadura militar.

Em razão da sua atividade de resistência ao regime, a genial Heleny foi presa no ano de 1970, na cidade de Poços de Caldas (MG). Passou por intensas sessões de tortura na Operação Bandeirantes (DOI/Codi/SP) e chegou a ser internada no Hospital Militar durante dois dias, em função da hemorragia provocada pelos espancamentos. Foi transferida para o Presídio Tiradentes e liberada apenas no ano seguinte. Ulisses, seu ex-marido, tinha planos de auxiliá-la a deixar o país para garantir sua segurança. Antes que pudessem concretizar o plano, Heleny simplesmente desapareceu.

Consta que teria sido presa no DOI-CODI do Rio de Janeiro, em julho de 1971, mas não há registros. Heleny representa um daqueles casos de “desaparecimentos totais”, onde não há qualquer vestígio sobre o destino da pessoa presa por forças estatais, assim como ocorreu com Ana Rosa Kucinski, Ízis de Oliveira, mais tarde com Amarildo e com tantas outras milhares de vítimas de desaparecimento forçado em nosso país. Um problema que ainda permanece, com garantia de impunidade graças às respostas pífias que os órgãos de Justiça dão à grave questão do desaparecimento de pessoas dentro de aparelhos policiais.

Em 1970, trajetórias análogas à de Heleny são frequentemente ligadas à Casa da Morte de Petrópolis. O local era um dos principais centros clandestinos de torturas, com funcionamento em uma residência domiciliar na região serrana do estado do Rio de Janeiro. As pessoas enviadas para lá não constavam dos registros oficiais de prisão e nunca mais voltavam. A única sobrevivente foi Inês Etienne Romeu. No ano de 1979, seu testemunho ofereceu um dos poucos sinais existentes, até hoje, sobre o desaparecimento de Heleny. Inês teria visto, na Casa da Morte, Walter Ribeiro Novaes e Paulo de Tarso Celestino, também desaparecidos políticos, acompanhados de uma mulher que acreditava ser Heleny.

Ainda que desaparecida da vida daqueles que a amavam, dos palcos dos teatros, dos debates intelectuais e das salas de aula de Filosofia, Heleny segue sendo recordada em inúmeros espaços. Seu nome batiza ruas na cidade de Campinas e Rio de Janeiro, além do Centro Cultural de Diadema e um teatro na Praça Roosevelt na capital paulista. Foi homenageada na peça de teatro João Cândido – A Revolta da Chibata do grupo União e Olho Vivo, além de ter sido montada uma peça sobre sua vida, “Heleny, Heleny, doce colibri”, de Dulce Muniz.

No próximo dia 31 de março iremos às ruas recordar, novamente, casos como o de Heleny Telles Guariba, para imprimir no espaço público sua presença.
Heleny Telles Guariba, presente!

“Para que não se esqueça, para que não se repita.”

Fonte: Relatório CNV e Livro DMV.
Colaboração de Paula Franco.

Redação

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