Para que não se esqueça, para que não se repita… Dimas Casemiro

Dimas Antônio Casemiro, nascido em Votuporanga/SP, na Fazenda Marinheiro, aos 06 de março de 1946, se ainda estivesse vivo, completaria 73 anos

da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos

No dia de hoje…

Dimas Antônio Casemiro, nascido em Votuporanga/SP, na Fazenda Marinheiro, aos 06 de março de 1946, se ainda estivesse vivo, completaria 73 anos.

Se ainda estivesse vivo, ele teria visto o seu filho Fabiano crescer e se tornar também um exemplar trabalhador, marido e pai. Dimas teria acompanhado o nascimento de seus netos e brincado muito com eles, rolando no chão, assim como fazia com seu filho, nos poucos períodos de paz que tinha em sua casa, sonhando em construir um Brasil melhor, com menos desigualdades sociais.

Assim como centenas de outros jovens brasileiros fizeram nos anos 60 e 70, Dimas deixou sua vida privada para juntar-se a movimentos de resistência à ditadura militar. Ele chegou a pegar em armas nessa luta. Certa ou errada a sua decisão, ao invés de ser preso e julgado conforme as leis vigentes, foi fuzilado em 17 de abril de 1971, em frente à sua casa, no bairro do Ipiranga, em São Paulo/SP.

Segundo apurou a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), Dimas sobreviveu aos tiros e foi ainda submetido a tortura por dois dias, para entregar informações. No dia 18 de abril, foi noticiado falsamente que ele havia morrido em confronto armado, mas seu corpo só deu entrada no IML às 14 horas do dia 19 de abril. Seu caso também foi analisado pela Comissão Nacional da Verdade, que ratificou as conclusões da CEMDP, em abril de 2013.

De acordo com o “modus operandi” que os agentes da repressão adotavam em São Paulo/SP, sua família não pôde fazer o seu enterro. Sequer teve acesso ao corpo. Ele foi enterrado como indigente, no Cemitério de Perus. Em 1975, juntamente com outros milhares de remanescentes ósseos, seu corpo foi transferido para uma vala comum e clandestina.

A vala de Perus foi aberta apenas em 1990, mas os trabalhos de identificação não foram desenvolvidos a contento e logo foram paralisados. Em 2014, quando foi instituído o Grupo de Trabalho Perus (GTP), por inciativa da Prefeitura de São Paulo, da Unifesp e do então Ministério de Direitos Humanos, as ossadas de Perus passaram a ser analisadas por profissionais especializados.

Na manhã do dia 07 de fevereiro de 2018, Thomas Parsons, diretor de Ciência e Tecnologia da International Comission on Missing Persons (ICMP) – cuja Instituição tem parceria com a CEMDP para a realização dos exames de DNA-, entregou em São Paulo um envelope ao GTP contendo os resultados de compatibilidade genética entre os remanescentes ósseos da caixa GTP-0623 e os familiares de Dimas Casemiro que haviam doado amostras para exames de DNA. No mesmo dia, o Comitê de Identificação e o Comitê Científico do GTP, coordenado por Samuel Ferreira, perito médico-legista e geneticista forense, abriram a caixa para realizar a análise e conferência das informações sobre as características físicas de Dimas. A análise confirmou que aquele esqueleto conferia com as características de Dimas, no tocante à estatura, sexo, idade e lesão na mandíbula, causada por projétil de arma de fogo. Dimas Casemiro estava finalmente identificado.

A entrega do corpo à família ocorreu em Votuporanga/SP, no dia 30 de agosto de 2018, em ocasião solene, com honras funerárias, quando Fabiano Casemiro finalmente pôde dizer: “não sou mais o filho de um desaparecido político”. A data foi escolhida por ser o Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados.

“Para que não se esqueça, para que não se repita.”

P.S. – As informações aqui constantes são oriundas de arquivos da CEMDP.
O presente texto faz parte de uma série de relatos que estamos publicando diariamente, sobre eventos que constituem graves lesões a direitos humanos.

Redação

2 Comentários

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  1. A respeito deste período, para que não se repita precisamos de iniciativas do povo contra esta fase turva da nossa história.
    Uma ação interessante foi a faixa ” Ditadura nunca mais” levada ao Maracanã hoje pela torcida do Vasco (pena que nao seja possivel postar uma foto).
    O jogo poderemos ter outro, mas ditadura não mais.

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