2019: mais um ano de baixo crescimento, por Antônio Corrêa de Lacerda

"O governo precisa apresentar um conjunto mais abrangente de medidas para a recuperação, e não o 'samba de uma nota só' da reforma da Previdência"

Jornal GGN – Todos os índices econômicos no país estão se rebaixando, desde o início do ano, confirmando o cenário de estagnação da economia brasileira. E, pelo andar da carruagem, o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 será muito aquém do que esperávamos. A análise é do economista e diretor da Faculdade de Economia da PUC de São Paulo, Antônio Correia De Lacerda, em artigo publicado nesta terça-feira (18), no Estado de S.Paulo.

“O desempenho pífio da economia nos últimos anos tem impactado diretamente o mercado de trabalho. O desemprego atinge 13,2 milhões de pessoas, o equivalente a 12,5% da População Economicamente Ativa (PEA), em média, considerando o trimestre encerrado em abril, com base na Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad), do IBGE”, destaca.

“Em um conceito mais amplo, considerando o total das pessoas desalentadas e subutilizadas, chega-se a um universo de 28,4 milhões de pessoas!”, completa.

O desemprego em alta impacta diretamente no nível negativo de consumo, afinal, são milhões sem condições de acessar o mercado consumidor. Lacerda completa que a estagnação e a retração no próprio mercado de trabalho, coloca as pessoas empregadas em uma situação de receio para gastar, derrubando ainda mais a demanda.

Ele observa ainda que, apesar da taxa de juros básica (Selic) se encontrar em um patamar historicamente baixo para os padrões brasileiros, o crédito ofertado pelos bancos ainda é muito caro.

Nesse cenário, continua o economista “chama a atenção a ausência de políticas e medidas que impulsionam a produção, os investimentos e o consumo”.

“No crédito, por exemplo, há muito a ser feito. No entanto, pelo contrário, as poucas medidas em curso têm sido no sentido de contraí-lo ainda mais com a atrofia dos bancos públicos”, destaca. O governo poderia usar os bancos públicos – como já aconteceu em anos anteriores – para incentivar o rebaixamento de juros nos empréstimos ajudando, de um lado, a população que está endividada a concluir suas dívidas e, de outro, facilitando o crédito para empresas investirem.

Corrêa De Lacerda aponta que o discurso único do governo e da equipe econômica sobre o papel da reforma da Previdência, “como fator de confiança, reversão das expectativas e retomada das atividades”, é superestimado e não resolverá a crise econômica instalada no país.

Ele ainda reforça que é “preciso ir muito além do que medidas paliativas como a anunciada intenção de liberar contas inativas do FGTS e do Pasep”. Há poucas semanas, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que estuda a liberação de recursos de contas desses fundos para estimular a economia.

“Embora isso possa ter algum efeito pontual positivo sobre a demanda, representaria um impacto limitado e localizado, sem poder para representar uma reversão do quadro de apatia vigente”, responde Corrêa De Lacerda.

A saída, segundo o economista que também é conselheiro e atual vice-presidente do Conselho Federal de Economia (CONFECON) é que a criação de um ambiente mais favorável ao crescimento para o próximo ano. E isso, será possível apenas se a equipe econômica do Planalto passar a diversificar suas estratégias e medidas.

“Há especulações no mercado sobre uma possível redução da taxa Selic. Tendo em vista a anemia da demanda, a existência de capacidade ociosa na economia e ausência de grandes choques de oferta, o risco inflacionário é baixo. Portanto, seria uma medida de baixo risco.”

A redução da taxa Selic é positivo porque leva os bancos a cobrar menos para emprestar dinheiro às pessoas e às empresas, ajudando a reaquecer o consumo e a puxar o PIB para cima.

“Para além disso [reduzir a Selic], o governo carece de melhor articulação, tanto internamente quanto na sua relação com os demais Poderes e os agentes econômicos. Da mesma forma, precisa ir além do “samba de uma nota só” da reforma da Previdência e apresentar um conjunto mais abrangente de medidas para a recuperação da economia”, prossegue o economista.

Ele pontua que a questão fiscal, tão abordada pelo governo ao justificar seu foco na reforma da Previdência, é importante sim, “mas sem crescimento econômico qualquer tentativa de ajuste esbarra no impacto restrito da arrecadação em função da fraca atividade econômica”, pontua.

O professor é claro ao frisar que “o fomento à atividade econômica, pelo seu efeito multiplicador, produz impactos positivos sobre a arrecadação tributária e, portanto, sobre o quadro fiscal”.

E o que o governo tem feito é justamente uma política cíclica, ou seja, que mantém o estado de recessão ao insistir nos cortes de gastos, “principalmente de investimentos públicos, que já se encontram no menor nível histórico”. Dessa forma, Bolsonaro e Guedes não conseguirão reverter o quadro econômico adverso “que persiste há anos”, conclui.

Para ler a coluna na íntegra do professor Antônio Corrêa De Lacerda, clique aqui.

Redação

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