E quando o crédito seca nos bancos públicos? por Fernando J.

Nos momentos de crise, recessão econômica, compreende-se que a banca privada se retire do mercado de crédito, seja extremamente seletiva e restritiva. Porém, torna-se trágico e desastroso quando o maior banco público faz o mesmo.
 
 
E quando o crédito seca até nos bancos públicos? E as empresas?
 
Por Fernando J. 
 
Comentário do post “O Xadrez da teoria que produziu 12 milhões de desempregados
 
“Sem consumo de governo (por conta da PEC 55), sem consumo das famílias (por conta do desemprego) e sem o impulso das exportações (por conta da apreciação cambial), de onde viria o crescimento? Da fé cega e da faca amolada dos cortes. Será um desastre continuado, fazendo a economia regredir uma década.”
 
Nos momentos de crise, recessão econômica, compreende-se que a banca privada se retire do mercado de crédito, seja extremamente seletiva e restritiva. Porém, torna-se trágico e desastroso quando o maior banco público faz o mesmo. O BNDES devolve ao tesouro R$ 100 milhões, e sinaliza que vai priorizar os financiamentos da desestatização. E o BB, que supostamente atenderia a média e pequena empresa, como fica? Desde 01.11, o Banco do Brasil, que já vinha operando de forma análoga aos bancos privados quanto a restrição creditícia, passou a exigir garantia real nas operações com empresas classificadas como risco C, garantia pessoal não mais, operações já concedidas permanecem até a liquidação, novas, somente garantia real. Ora, a esmagadora maioria do segmento MPE está situado no risco C, na prática significa que acabou o crédito. 
 
Acrescente-se a isso que, em cenários de crise, a Diretoria de Crédito dá uma volta no parafuso dos parâmetros de análises de clientes, fazendo com que aquela pequena empresa que nos últimos anos sempre foi risco B, caia para C no atual cenário, ampliando ainda mais a restrição de crédito sobre o segmento empresarial. 
 
PROGER – Programa de Geração de Emprego e Renda – A jóia da coroa do BB, linha de crédito exclusiva do BB, com recursos do FAT, destinada a financiar investimentos, prazos de até 6 anos, carência de até 6 meses, juros baixos. O BB era “incentivado, motivado” a oferecer a linha de crédito por causa do baixo risco, visto que 80% do risco banco era coberto pelo FGC – fundo Garantidor de Crédito. Na prática, se uma operação de 100 mil desse chabu, o banco contbilizaria em prejuízo apenas 20 mil, os 80 mil eram empurrados para o FGC. Era. O FGC acabou (não sei quando, mas acabou), e como o Banco do Brasil tornou-se, há muito tempo, adepto da intermediação financeira sem riscos, colocou a linha de crédito no limbo. Acabou-se o “incentivo”, acabou a linha. Conheço gerentes de banco que não assinaram uma única operação de Proger nos últimos 24 meses. 
 
O Proger é uma linha de crédito guarda-chuva, debaixo dela cabe praticamente tudo, atende todos os segmentos empresariais situados na MPE, todos os itens são passíveis de financiamento de longo prazo. Em cenários de crise, fecha-se o crédito, encurtam-se os prazos, elevam-se brutalmente as taxas de juros (risco alto=juros altos) nos bancos privados. Inadmissível que bancos públicos pratiquem o mesmo. 
 
Com o BNDES fora e o BB também fora, será sim um desastre (ferroviário) continuado. 
Redação

13 Comentários

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  1. Fernando,

    há pelo menos um ano, já acompanhava o ferrolho dos bancos públicos nos financiamentos, inclusive agrícolas, minha área de observação. Com a chegada de Meirelles, o Coringa, kaput. Produtores rurais diminuirão suas áreas plantadas, aplicarão menos tecnologia, terão menos o que comercializar. Empresas pequenas e médias que vendem insumos agrícolas de extração natural e de menor impacto ambiental estão paralisando suas atividades, pois BB e Caixa exigem garantia real. Sobram SICOOP e SICREDI, mas até quando a sanha ortodoxa não chegará aí. Caminha-se para uma grande calamidade e, a não ser textos como os seus e de alguns mais, entramos num catatonismo absurdo, vendo o País regredir uma década para um inferno ainda mais profundo em nome de uma política econômica, hoje, desprezada por todos os países do mundo. Estamos f……

    1. Rui,

      Façamos de conta que estamos no Al Janiah. Vamos a algumas premissas: 

      1. Se a atual diretoria for confrontada com esse comportamento, de sair completamente, mas fingir que não saiu do crédito, responderão: ” estamos preservando os capitais do Banco e os interesses dos acionistas”. O País? Não vem ao caso;

      2. Há dois BBs. Um, o antigo, que não sentia vergonha de ser chamado de “banco público”, ao contrário, sentia orgulho. E outro, neoliberal, que surgiu ainda no final do governo Itamar Franco, floresceu durante o FHC I e II, e atravessou incólume os governos Lula e Dilma. Estes, têm horror atávico à expressão “banco público”. Querem ser vistos, reconhecidos e percebidos pelo Mercado como “águias do mercado financeiros”. Rejeitam toda e qualquer política pública. Fingem aceitar;

      3. Com a provável ou já confirmada extinção do MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário, vai para o espaço a última jóia da coroa das políticas públicas praticadas pelo BB, o Pronaf, sua área. O BB neoliberal soltará foguetes com a desobrigação de ter de se ocupar com uma eneorme “perda de tempo”, qual seja, a agricultura familiar;

      4. Com a reestruturação que teve início hoje, 14.11.2016, e o gigantesco PDV/demissão que virá em seguida, o BB caminha para se transformar em uma grande Central de Telemarketing. 

       

  2. Parabéns pela matéria

    Sou um desses micro impresarios, o que esta acontesendo é isso mesmo, vão acabar com tudo, BNDS não vai mais emprestar, segundo o gerente BB. 

    Mais desemprego, mais arrocho.

    Parabéns pela matéria !!!

    1. Mauro,

      É bom receber esse retorno, senão as pessoas poderiam pensar em exagero da minha parte. Não é. Modéstia à parte, conheço profundamente o BB e sua cultura organizacional, onde entrei em 1975 e saí em 2007. As informações que tenho vêm direto da fonte, de quem está na ativa. 

  3. Enquanto o Brasil e centenas

    Enquanto o Brasil e centenas de milhões de trabalhadores voltam para a miséria

    Os tres irmãos que controlam o mais poderoso conglomerado midiático que ajudou a provocar este caos econômico e político no Brasil acumulam uma fortuna de quase 3% do PIB brasileiro . 

  4. Nem desconto

      Nem mesmo as classicas linhas de desconto de titulos estão como estavam, a analise de risco ” B ” não existe mais para MPEs, virou tudo de “C” para baixo, até alguns titulos que sempre foram AAA forma para alem de “C”, tornaram-se tóxicos, “provisionaveis” se constassem em “carteira”.

       Os médios e pequenos fornecedores, não importa se de insumos ou equipamentos, que estavam na falecida cadeia Oleo & Gás , na naval ou terceirizados/quarteizados das empreiteiras, não conseguem nem serem recebidos pelo seu gerente de conta, quanto a quem fornecia “serviços”, ou já faliu ou encontra-se em vias de.

        A “Lava Jato ” criará mais desemprego aberto ,do que qualquer lei referente a terceirização.

  5. Foram enganados novamente.
    Com o golpe e retirada do poder de um governo DESENVOLVIMENTISTA e a entrada de um ENTREGUISTA NEOLIBERAL nesse mesmo poder, o pessoal esperava o que? Desenvolvimento? Será Que não se percebeu, ainda…….., que mais uma vez foram ludibriados? Quem nos comanda agora é o capital financeiro!

  6. Qual a novidade?

    Os mais eficazes meios de adaptação da economia capitalista são a instituição do crédito, a melhoria dos meios de comunicação e as organizações patronais (2).

    Comecemos pelo crédito. Das suas múltiplas funções na economia capitalista, a mais importante é a de aumentar a capacidade extensiva da produção e a de facilitar a troca. No caso em que a tendência interna da produção capitalista para um crescimento ilimitado ultrapassa os limites da propriedade privada, as dimensões restritas do capital privado, o crédito aparece como o meio de ultrapassar esses limites no quadro do capitalismo, intervém para concentrar um grande número de capitais privados num só – é o sistema das sociedades por acções – e para assegurar aos capitalistas a utilização de capitais estrangeiros – é o sistema de crédito industrial. Por outro lado, o crédito industrial acelera a troca das mercadorias, por conseguinte o refluxo do capital no circuito de produção. Percebe-se fàcilmente a influência que exercem essas duas funções essenciais do crédito na formação das crises. Sabe-se que as crises resultam da contradição entre a capacidade de extensão, a tendência expansionista da produção por um lado, e a capacidade restrita de consumo do mercado por outro lado, nesse caso o crédito é precisamente, vimo-lo já, o meio especifico de destruir essa contradição tantas quantas as vezes possíveis. Em primeiro lugar, aumenta a capacidade de extensão da produção em proporções gigantescas; é a força motriz interna que a leva a ultrapassar constantemente os limites do mercado. Mas é uma faca de dois gumes. Na sua qualidade de factor de produção, contribui para provocar a superprodução, na sua qualidade de factor de troca só pode, durante a crise, ajudar na destruição radical das forças produtivas que por ele foram movimentadas. Desde os primeiros sintomas de estrangulamento do mercado, o crédito funde-se, abandona a sua função de troca precisamente no momento em que seria indispensável; revela a sua ineficácia e inutilidade quando ainda existe, e contribui, no decurso da crise, para reduzir ao mínimo a capacidade de consumo do mercado. Citámos os dois efeitos principais do crédito, actuando diversamente na formação das crises. Não somente oferece aos capitalistas a possibilidade de recorrer aos capitais estrangeiros, mas encoraja-os a utilizarem activamente e sem escrúpulos a propriedade alheia, ou, dito de outra maneira, incita a especulações arrojadas. Assim, na qualidade de factor secreto da troca de mercadorias, não só agrava a crise, mas ainda facilita a sua aparição e extensão, fazendo da troca um mecanismo extremamente complexo e artificial, tendo por base real um mínimo de dinheiro-metal, facto que, na primeira ocasião, provoca perturbações nesse mecanismo. Desta forma, o crédito em vez de contribuir para destruir ou mesmo atenuar as crises é, pelo contrário, um seu agente poderoso. Não pode ser de outra maneira. A função específica do crédito consiste – exposta muito esquematicamente – em corrigir tudo o que o sistema capitalista pode ter de rigidez, introduzindo-lhe a elasticidade possível, em tornar todas as forças capitalistas extensíveis, relativas e sensíveis. Só consegue, evidentemente e por isso mesmo, facilitar e agudizar as crises que se definem como o choque periódico entre as forças contraditórias da economia capitalista.” Rosa Luxemburgo

    A crise foi desencadeada pelo excesso, não pela falta. Esta é efeito daquela.

  7. Que quebrem, que quebrem

    Que quebrem, que quebrem todos. A burrice, o preconceito e a cegueira dessa gente tem que ser castigada. Se não quebrarem que eles e suas famílias sintam o impacto da hecatombe social que ajudaram a criar.

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