
Economistas consultados pelo Jornal GGN apresentaram um posicionamento misto sobre a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que decidiu aumentar a taxa básica de juros em 1 ponto percentual nesta quarta-feira (19/03), para 14,25% ao ano.
Enquanto parte dos analistas já precificou a decisão, afirmando que a medida vai ajudar a estabilizar os preços, outros acreditam que existe algo de errado com a economia brasileira justamente por ir à contramão da trajetória de queda vista em outros países.
Confira abaixo a repercussão da decisão do Copom
Bruno Corano, economista da Corano Capital
Para o economista, existe alguma coisa ‘de errado’ com a economia brasileira, que está na contramão do visto em outros países. “Enquanto praticamente todo o resto do mundo reduz juros, ou, na pior das hipóteses, mantém, o Brasil é uma das poucas, se não a única economia, que precisa subir juros”.
“E isso mostra, claramente, que tem algo errado com a nossa economia porque se o mundo inteiro está reduzindo e o Brasil está tendo que aumentar, algo não está sendo corretamente gerenciado no Brasil”, disse.
Marcos Moreira, sócio da WMS Capital
A decisão do colegiado ficou dentro do esperado, sendo a última das três altas inicialmente precificadas desde a reunião de dezembro. “Podemos dizer que, definitivamente, agora a bola está com o (Gabriel) Galípolo”, disse o economista.
Os prognósticos apontam a adoção de um tom mais brando por parte do BC por conta do efeito câmbio – pelas projeções do economista, os juros podem parar na casa dos 15% caso a cotação do dólar fique abaixo dos R$ 5,80. Caso ultrapasse os R$ 6,20, seria preciso uma Selic acima de 15% para tentar reancorar os prognósticos de inflação.
Sidney Lima analista da Ouro Preto investimentos
O analista diz que a decisão do Copom deve desacelerar o consumo e o crédito, afetando a atividade econômica, mas reforça o compromisso com a estabilidade de preços.
Enquanto o impacto inicial tende a ser a valorização do real, o crescimento no longo prazo pode ser afetado por conta do aumento do custo do crédito.
Outro ponto que pode reduzir a volatilidade cambial envolve o aumento do diferencial de taxas entre Brasil e Estados Unidos, que manteve seus juros na faixa entre 4,25% e 4,50%. “Porém, sem um ambiente fiscal mais equilibrado, os efeitos positivos dessa alta podem ser limitados, exigindo um ajuste mais amplo na política econômica”.
Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos
O analista diz que o comunicado divulgado após a reunião veio “mais hawkish” do que o esperado, a começar pela preocupação com os Estados Unidos e a eventual chance de um processo inflacionário se espalhar, dependendo das medidas que Donald Trump adotar.
Outro ponto envolve a “preocupação” em torno dos números da inflação brasileira, que atualmente está em 5,7% – acima da meta de 4,5% agora para 2025 e para 2026 chegando perto da meta. Por conta da reação dos preços, Correia projeta uma possibilidade de um novo aumento dos juros na próxima reunião, para que a Selic feche o ano em 15%.
Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital
O economista lembra que os dois aumentos de juros em 1 ponto percentual eram esperados, dado o direcionamento transmitido desde a última reunião presidida por Roberto Campos Neto. Além disso, o comunicado “traz ali um balanço de risco assimétrico, dizendo que tem mais risco de pressão inflacionária”.
Sobre um ajuste menor da taxa de juros, Bolzan diz ver a medida com bons olhos, uma vez que a inflação segue bastante pressionada e as projeções futuras, analisadas via boletim Focus, estão desancoradas. “Então, realmente necessita-se, nesse momento, de um comitê duro que continue subindo os juros, mas em menor magnitude”.
Camilo Cavalcanti – Gestor de Portfolio da Oby Capital
Com a decisão de alta de 1% da Selic, as atenções se voltaram aos sinais dados pelo Copom com relação à continuidade do ciclo de alta de juros a partir da próxima reunião.
“O BC reconhece que há sinais incipientes de moderação no crescimento e que ainda espera efeitos defasados da política monetária na atividade econômica e expectativas de inflação, e que por isso, faz sentido reduzir o ritmo de alta da taxa básica na reunião de maio”, explica.
Na visão de Cavalcanti, isto sugere que o BC enxerga, de certa forma, a proximidade do fim do ciclo de alta de juros – mas, por outro lado, moderação do crescimento não significa desaceleração relevante, mercado de trabalho segue mostrando dinamismo, e, aliado ao alto grau de incerteza vindo do cenário externo, o Comitê decidiu manter a percepção de uma assimetria de inflação para cima em seu balanço de riscos.
Ricardo Martins, economista-chefe da Planner Investimentos e presidente-executivo da APIMEC Brasil
Ao manter o aumento de 1 ponto percentual e indicar “um ajuste de menor magnitude na próxima reunião”, o economista explica que a “eventual desaceleração doméstica mais acentuada” já está em desenvolvimento conforme observado no PIB do quarto trimestre e, em janeiro, pelo Consumo das Famílias e Serviços, como também “um cenário menos inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional” (…)”.
“Para além da próxima reunião”, Martins diz ser fundamental para essa “magnitude total do ciclo de aperto monetário” a já detectada alteração da dinâmica da inflação de janeiro e fevereiro, excluídos os efeitos do bônus de Itaipu, observadas nas categorias Alimentos (carnes), Serviços (subjacentes), de maior relevância para a desinflação.
ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias)
Em nota, a associação afirma que a decisão do Copom intensifica os desafios enfrentados pela economia brasileira. “Os juros elevados restringem o acesso ao crédito, dificultam investimentos e ampliam as despesas financeiras de famílias e empresas, com efeitos profundos em diversos setores produtivos do país”, diz a associação, embora entenda que a medida tem sido necessária para reduzir a pressão inflacionária.
Contudo, a associação explica que a medida reforça que o governo precisa construir um caminho estrutural para que a taxa Selic seja reduzida de forma perene nos próximos anos, o que vai exigir responsabilidade fiscal e maior controle do gasto público.
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Discordo da opinião generalizada dos economiistas ouviidos na pesquisa. Espero que nova diretoria haja com bom senso e responsabilidade e pelo menos mantenha a Selic atual. Também espero que esqueça um pouco a cotação do dólar em torno de 5,75 é uma cotação de equilíbrio compatível com média das cotações reais (cotação nominal excluída à inflação acumulada no período), média esss calculada com base nas cotações reais de diversos países do mundo. No meu último trabalho estou considerando como de equilíbrio uma cotação entre 5,43 e 5,98,
O Gallows Pole, digo, Galípolo, agiu sem frustrar as expectativas… dos especuladores sanguessugas. Mas não era isso o que a Nação esperava
A decisão do COPOM já havia sido tomada e divulgada desde aquele anúncio no qual antecipou a elevação da taxa SELIC em 3 vezes de 1 pp nas reuniões seguintes. Portanto era o esperado. E caso não aconteça nada de diferente do que tem sido a condução da política monetária o Brasil vai permanecer dentro desse estado esperado. O atendimento da meta não cumprida de inflação será com o enfraquecimento da economia do País. Com a impossibilidade de desenvolvimento da economia. Qualquer tipo de investimento, parte de uma avaliação que se soma ao risco próprio e pertinente ao negócio de um crédito que tem partida no valor da SELIC. Para manter, expandir, melhorar um negócio de qualquer atividade ou tamanho é a mesma coisa. Essa política monetária não retém a inflação, mas sim a própria economia que vive quase estagnada. Sem o Brasil ter uma participação maior no comércio internacional, estará a mercê dessas volatilidades no câmbio e inflação. Só que pra isso tem que ter uma economia. Asfixiando parte da economia cada vez, ou sempre que precisa forçar o enquadramento dessas metas inflacionárias sem considerar mais nada. Fica bem distante.
O BACEN não precisa de uma diretoria para fazer o que o mercado financeiro determina. Hoje com os recursos de um software da chamada inteligência artificial, pode aumentar automaticamente os juros com base nas projeções, geralmente erradas, do mercado. Os juros serão altos do mesmo jeito, mas pelo menos, pouparia os salários dos seus prepostos lotados no BACEN. Quanto as opiniões, ou melhor, dos palpites dos çábios economistas orientados a algorítimos do famigerado mercado, não tem a menor importância para as pessoas de bom senso. ACORDA BRASIL!