
Um apagão de grandes proporções atingiu praticamente todos os estados brasileiros e cerca de 29 milhões de unidades consumidoras. O que o governo federal sabe até agora é que o acontecimento foi causado por sobrecarga numa linha de transmissão no Ceará administrada pela Chesf, subsidiária da Eletrobras, simultânea a outro “evento” não identificado.
Este evento não identificado, admitido pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) como parte de uma “falha sistêmica”, levou o governo, por intermédio do Ministérios de Minas e Energia, a defender uma investigação da Polícia Federal (PF) sobre o caso.
Foram descartados fatores climáticos, como a seca em reservatórios, que o governo informou estarem todos cheios. As principais suspeitas envolvem falha técnica na linha de transmissão entre Quixadá/Fortaleza e as atenções se voltaram à Eletrobras, privatizada no ano passado pelo governo Jair Bolsonaro.
Conforme o jornalista Luís Nassif lembrou em artigo, na gestão de Michel Temer teve início a transferência do controle da Eletrobras para a 3G – de Jorge Paulo Lehman, Beto Sicupira e Marcel Telles, também com ligações com a Equatorial Energia e a compra da Light, no Rio de Janeiro.
O comando da Eletrobras foi entregue a Wilson Ferreira Jr, que já havia dirigido a CPFL, em São Paulo, passou a ser uma só: corte de gastos. Em 2017, estimava em 40% o que denominava de “cargos inúteis” na Eletrobras. Segundo ele, o PMSO (custos com Pessoal, Materiais e Serviços) teriam que ser menores que R$ 7,1 bilhões por ano.
Chesf responsável pela transmissão
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou, em entrevista coletiva nesta quarta-feira (16), que a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), subsidiária da Eletrobras, é a responsável pela linha de transmissão que apresentou falhas no Ceará.
O ONS deve preparar o Relatório de Avalição de Perturbação (RAP) com a investigação sobre o assunto. Ele é o resultado de uma sequência de reuniões que são realizadas entre o ONS e os agentes envolvidos. O RAP segue um procedimento oficial e faz a análise técnica do assunto.
Em janeiro deste ano, após a posse do atual governo, torres de transmissão foram vandalizadas país afora. Na ocasião, a direção da Eletrobras foi obrigada a retardar a saída de quadros técnicos experientes, por conta da privatização de meses antes, para lidar com a situação.
Privatização em jogo
A Eletrobras detém cerca de um terço da capacidade de geração de energia do Brasil e mais de 73,8 mil quilômetros de linhas de transmissão. No entanto, o problema desta terça teria acontecido na rede mantida pela subsidiária Chesf, e não pela Eletrobras.
Uma empresa subsidiária ou filial é uma empresa controlada que integra determinado grupo empresarial. Aquela que possui ou controla a empresa subsidiária é chamada de empresa-mãe. Quando a Eletrobras foi privatizada, a Chesf, portanto, passou a ser controlada pelo grupo que arrematou a Eletrobras.
Por enquanto não se sabe se a causa do apagão foi a privatização, mas a demora para a divulgação das causas é reflexo da privatização da Eletrobras na opinião do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), que culpa também a venda da empresa pelo incidente que deixou sem luz grande parte do Brasil.
“A identificação das causas do apagão anunciado poderá demorar mais devido à falta de quadro técnico experiente e capacitado alvo dos desligamentos (de pessoal) desenfreados por parte da Eletrobras”, acusa o CNE em nota.
Da mesma forma, explica o CNE na nota, o tempo de recomposição do sistema será maior, “pois a redução drástica do quadro de pessoal em todas as empresas da Eletrobras traz essa consequência”.
Sistema de energia e a Eletrobras
Segundo dados da companhia, em setembro de 2022, a Eletrobras detinha 152 empreendimentos, com receita anual de R$ 738,5 milhões. A empresa não controla todo o sistema, sendo que outras empresas prestam os serviços de geração, transmissão e distribuição de energia no país.
A transmissão de energia é concedida pelo governo a empresas por meio de leilões e os contratos costumam ter vigência de 30 anos. Significa que as transmissoras podem construir linhas e subestações, sendo remuneradas por tarifas aprovadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do ONS, disse que, neste momento, nenhuma hipótese dos motivos do apagão é descartada. Ele explicou que a ONS é um órgão técnico. Fator humano é um fator analisado do ponto de vista técnico. “Pode haver falha humana? Pode ter havido uma falha humana”, disse Ciocchi.
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Nassif, a causa chama-se terceirização da mão-de-obra. Ou seja, precarização da
relação de trabalho e diminuição da qualidade do serviço. Aumento dos dividendos
para os acionistas, consequentemente.
Como é um serviço que precisa de mão-de-obra qualificada, bem treinada e bem remunerada,
deu nisso aí. Curto-Circuíto.