O plano de recuperação econômica de Biden, por Luis Nassif

Pretende-se, também, maior fiscalização governamental sobre investimentos de empresas norte-americanas no exterior, para conferir se atendem o chamado interesse econômico nacional.

A guerra da Ucrânia está jogando para segundo plano o programa de recuperação econômica de Joe Biden. Mas ele continua acontecendo.

Um dos pontos centrais é a política de saúde. Historicamente uma agência de regulação de medicamentos, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos(HHS) passa a trabalhar o conceito de Base Industrial de Saúde Pública. Utiliza-se, assim, o conceito pioneiro da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), desenvolvido pela Fiocruz, que começou a ser implementada no governo Dilma Rousseff e foi interrompida com o desmonte ocorrido no governo Temer.

Por esse conceito, os provedores de saúde não são apenas empresas atuando isoladamente, mas uma rede interconectado de instituições públicas e privadas incumbido de produzir e distribuir bens de saúde. Nessa lógica, foi criada uma Torre de Controle da Cadeia de Suprimentos centralizando as informações de produção e logística, de maneira a identificar antecipadamente momentos de escassez.

Outro ponto relevante – segundo Roosevelt Institute – são as 950 páginas do Departamento de Energia para a Base Industrial do Setor de Energia Limpa, propondo planejamento industrial e políticas públicas para enfrentar o desafio. Haverá uma reorientação na produção de energia limpa – até agora beneficiada por subsídios, mas sem planejamento -, a criação de uma nova indústria de mineração doméstica, com preocupações ambientais, e criação de mercados (com apoio público) para garantir a demanda por 11 tecnologias limpas – de energia eólica a imãs de alta potência. 

Um dos mapeamentos foi de produtos provenientes de países aliados da Rússia, como a China. O país controla 80% da produção e refino de terras raras, 61% do refino de lítio, para armazenamento de baterias e veículos elétricos, e 100% do processamento de grafite natural, utilizado para baterias.

Outro ponto de análise é o controle da China sobre a produção de painéis solares. Ela responde por 80% da produção mundial. Para efeito de comparação, os países da OPEP (Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo() respondem por 40% da produção de petróleo bruto e 60% do comércio de petróleo, é composta por 13 países com diferentes tipos de governo.

Já a China, sozinha, responde  por duas vezes mais a participação da OPEP. O plano do DOE prevê investimentos de US$ 8 bilhões para construir 40 gigawatts de fornecimento de energia solar até 2030, o equivalente a 125 milhões de painéis solares fotovoltaico.

Os desafios permanecem

No entanto, o caminho a seguir não é isento de obstáculos. O Build Back Better Act, que injetaria mais de US$ 550 bilhões  em investimentos verdes, continua retido pelo  senador Joe Manchin (D-WV). A Lei de Inovação e Concorrência dos EUA (USICA) tem apoio bipartidário no Senado, mas alcança um grupo restrito de fornecedores, principalmente semicondutores.

Já a Lei de Pesquisa e Desenvolvimento em Bioeconomia, a Compete, autorizaria US$ 45 bilhões para o Departamento de Comércio investir em cadeias de suprimentos domésticas.

Pretende-se, também, maior fiscalização governamental sobre investimentos de empresas norte-americanas no exterior, para conferir se atendem o chamado interesse econômico nacional. A medida visaria, principalmente, analisar a competitividade da produção interna, para quando os subsídios terminassem. 

O projeto de lei autoriza, também, um fundo de US$ 3 bilhões para estimular a cadeia de suprimentos de energia solar. Mas, quem quiser se habilitar, deve-se comprometer com a neutralidade nas ações sindicais – isto é, não combaterem políticamente os sindicatos.  A ideia é que o investimento cria não apenas empregos, mas bons empregos.,

Um dos grandes desafios será preparar a burocracia pública para esse novo papel, de preparar a economia. Segundo o Roosevelt Institute, o projeto de lei inclui US$ 500 milhões em capacitação para um novo Escritório de Mapeamento e Monitoramento da Cadeia de Suprimentos e autorização para que os funcionários façam maior uso da Lei de Produção de Defesa (DPA) – que permite autonomia substancial do poder executivo para responder com agilidade a mudanças nos mercados.

Por enquanto é um projeto de lei da Câmara. Mas há sinais de que será aprovado.

Luis Nassif

3 Comentários

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  1. Os falcões do norte fariam muito bem a saúde deles se deixassem de intrometer-se em assuntos de outros países.
    Perder a posição para a China será o menor dos problemas deles. Eles precisam resolver,e logo, o problema da concentração de renda e,consequentemente,do aumento da pobreza.
    A China está cuidando da casa dela. Ela não é somente o maior produtor mundia dos elementos citados no post. A China,com raríssimas exceções,é a maior produtora mundial em quase tudo,inclusive alimentos e,hoje,apesar de sua população de quase 1,5 bilhão de habitantes,já tem até excedente para exportação.

  2. A razão de ser da federação dos Estados Unidos é a guerra. o expansionismo ilimitado. Nalguns momentos da História foram obrigados a se voltarem para si; resolver sua pendengas internas… mas via de regra prevalece o pensamento de Alexander Hamilton: expandir sempre. Levar a guerra onde for possível. Colhendo os benefícios dos saques, claro.
    Joe Biden não manda em nada. Nada que não seja determinado por Wall Street-City londrina. Nada.

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