Os falcões da guerra assumem o protagonismo, por Luis Nassif

Do lado da Rússia, com a decisão da invasão. Do lado dos EUA e aliados com a política única de enviar armamentos para que a guerra desgaste a Rússia ao máximo - sem se importar com os resultados sobre a população civil

Ao longo de toda sua história, a imprensa corporativa teve altos e baixos. Em alguns momentos, constituiu-se em âncora da democracia e de valores humanistas. Na maior parte das vezes, no entanto, age como mero reflexo de ondas que se formam de forma desarticulada. A mídia, então, passa a atuar pró-ciclicamente. Se a onda for punitivista, a mídia radicalizará o sentimento de vingança; se for garantista, tentará trazer discursos de boa vontade.

O problema é que o punitivismo sempre foi um agente mobilizador mais forte que a solidariedade. Este sentimento, em geral, só aparece após grandes desastres políticos, bélicos ou naturais.

Hoje em dia, o mundo está no momento mais próximo de um confronto global desde o episódio dos mísseis russos em Cuba, nos anos 60. E a imprensa mundial – especialmente a americana – tem sido um fator a mais na radicalização dos espíritos. Há uma tendência inexorável da mídia corporativista de se comportar como as bolhas de Internet, de escolher um lado, radicalizar suas posições e, em caso de ebulição, colocar mais combustível na fogueira.

Crítico desses movimentos de manada da mídia, o jornalista Glenn Greenwald se espantou com o nível de radicalização dos espíritos nos Estados Unidos, conforme mensagens publicadas em seu Twitter.

“Em todas as guerras, em todos os países, qualquer pessoa desafinada de qualquer maneira, que questione as ortodoxias e políticas governamentais, é automaticamente rotulada de traidora, culpada de estar “do outro lado”, porta-vozes de propaganda do Inimigo” diz ele.

No caso dos Estados Unidos, desde o 11 de Setembro nunca houve consenso entre os dois partidos, o Republicano e o Democrata. Agora, os que exigem o envolvimento dos EUA na guerra na Ucrânia se tornaram maioria absoluta, 426 a 7. Esse movimento repetiu a radicalização da opinião pública que, maciçamente, estimula a guerra.

Os que questionam esse consenso partidário são minoria absoluta. Segundo Glenn, são os hereges que a unidade religiosa precisa para odiar.

Segundo ele, em todo mundo há uma enorme resistência à ampliação da guerra. Mas a narrativa predominante nos EUA é que “o mundo” está unido pela guerra.

Trata-se de um dilema mundial. Da parte de Putin, a conquista da neutralidade da Ucrânia e a autonomia das duas regiões dissidentes tornou-se questão central para a sobrevivência da Rússia. E qualquer recuo significaria seu enfraquecimento interno.

Da parte dos Estados Unidos, há um claro comando dos senhores da guerra – o presidente Joe Biden e seu Secretário de Estado Antony Blinken -, dois falcões que há anos se tornaram defensores da indústria bélica e das soluções radicais. Desde 2017, antes da eleição de Biden, Blinken já defendia armar a Ucrânia e usar a OTAN para cercar a Rússia.

De lado a lado, a população da Ucrânia tornou-se bucha de canhão. Do lado da Rússia, com a decisão da invasão. Do lado dos EUA e aliados com a política única de enviar armamentos para que a guerra desgaste a Rússia ao máximo – sem se importar com os resultados sobre a população civil.

Resta pouco espaço para os defensores de uma saída diplomática. É só conferir o que aconteceu no Brasil, com uma mídia que emula a mídia americana de uma maneira medíocre. 

O Itamaraty foi uma das poucas chancelarias a defender uma saída democrática. E foi espancado por uma série de comentaristas de mídia, sem um pingo de responsabilidade institucional.

Por isso mesmo, ainda levará um bom período de desgaste, em que a guerra irá se arrastando , trazendo prejuízos continuados à economia mundial e brasileira.

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. A mídia É UMA RELIGIÃO.
    A mais vagabunda possível, porque, as religiões, mormente as tradicionais primam pela estabilidade mediante dogmas, praticamente imutáveis.
    Para oficializar o Cristianismo como religião oficial do Império Romano, Constantino exigiu um mínimo de racionalidade. Nasceu assim o esteio central da religião cristã, mesmo dos credos dissidentes que vieram depois. O Concílio de Niceia foi em 325, há 1697 anos; portanto, mais de milênio e meio de dogma.
    Na mídia jornalista, ou Imprensa como garbosamente gosta de se chamar… até os Nassif, Greenwald, Jânio… existem; todavia, o mais comum são os simples vendedores de releases, que trocam de “ideias” com mais celeridade com que trocam de cuecas ou calcinhas.
    E, o que confere definitivamente a natureza religiosa do jornalismo é o fanatismo da maioria dita qualificada dos informados que transforma articulistas e âncoras jornalísticos de radio e TV – agora também os youtubers – em verdadeiros pastores, acima de qualquer suspeita.
    Tenho amigos – eu também até 30 anos atrás – que só dormem depois de esgotar todos os noticiários noturnos de TV e seus opinadores… os Sardenbergs da vida.
    O ritual do assistente dos jornais é até mais cerimonioso que nos cultos religiosos.

  2. Talvez isso seja um efeito nocivo dos filmes pós-apocalíticos, Nassif.

    A pessoa vai ao cinema, vê um filme de 2 horas em que os personagens se matam e se amam num mundo que já foi devastado por bombas atômicas. Algumas vezes eles são perseguidos por robôs inteligentes, outras são salvos por aliens angelicais com orelhas pontudas. Qualquer que seja o resultado final, após o filme terminar a pessoa sai do cinema incapaz de notar qualquer modificação da sua própria realidade.

    Todavia, uma guerra nuclear modificará a realidade de todos em qualquer lugar de maneira permanente. Quem não for incinerado imediatamente ficará prisioneiro do inverno nuclear e da radiação que lentamente será espalhado pelo vento por todos os continentes. As partículas radioativas de poeira em suspensão também serão transportadas pela chuva afetando rios e aquíferos a milhares de quilômetros do ponto zero de detonação das armas nucleares. O efeito será permanente. A escala de tempo do dano será geológico.

    Ninguém conseguirá sair desse filme de terror. No entanto, os falcões seguem tocando seus tambores de guerra. Cheirar cocaína e ver filme pós-apocalíptico provavelmente danificou os cérebros desses nóias.

  3. Há muito que os falcões do norte resolveram mostrar toda sua covardia batendo em quem não pode se defender e terceirizando a briga quando quando não querem apanhar.
    Essa gente não quer desgastar a Rússia. Eles querem vender armas,muitas armas. quanto mais tempo demorar a guerra,e eles atuam diariamente para isso,mais terror e mais armas venderão, e esses que são chamados de seus aliados, nada mais são do que consumidores de suas armas e de sua política que,felizmente,está para cair.

  4. Se eu fosse o Putão, arrasaria de vez a Ucrânia e tomaria conta de 100% de seu território.
    Se não fizer isso logo os EUA prolongarão a guerra de desgaste para destruir a Rússia como estado. Querem roubar seu território e a suas riquezas naturais, como sempre fazem.
    Logo após, será a vez da China e de TODOS os outros.
    Estes americanos de merda são megalomaníacos. Se não forem contidos, destruirão o mundo e a raça humana.
    Alguém acha que o Putão, sentado em 6 mil bombas atômicas vai assistir ao saque do seu país quieto?
    Eu não faria isso.

  5. Não há solução a curto prazo, mas com a regulamentação da mídia, implementação de uma mídia estatal com autonomia, regras mais claras, talvez, um dia quem sabe, possamos ter uma mídia imparcial e plural.

    Enquanto isso vamos ficando no boca-a-boca, esclarecendo pra quem conhecemos, a realidade da situação na ucrânia e suas consequências, graças a sites como o do Nassif, é uma situação difícil, basicamente é como viver dentro daquele filme “Eles Vivem”

    http://cinegnose.blogspot.com/2015/10/desperte-da-sua-vida-esquizofrenica-com.html

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