Só o BC não viu, por José Casado

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por José Casado

De O Globo

Só o BC não viu

Para os empresários, durante seis longos anos o “cartel” e a “máfia” ajudaram a desindustrializar o Brasil

Grandes empresas industriais e exportadoras brasileiras decidiram ir à Justiça contra alguns dos maiores bancos globais. Durante seis anos, essas instituições financeiras manipularam um dos principais indicadores econômicos do Brasil — a taxa de câmbio, preço-chave para contratos de comércio e investimentos.

— Empresas e governo pagaram uma conta pesada demais, e estamos falando de centenas de bilhões — diz o empresário Roberto Giannetti da Fonseca, presidente do Conselho Empresarial de América Latina. — Aqui, em 2011, os negócios com derivativos cambiais chegaram a 24 bilhões de dólares por dia.

Entre 2007 e 2013, 30 operadores de bancos estrangeiros conspiraram para influenciar o câmbio do real em relação ao dólar. Combinaram cotações falsas, compartilharam lucros de 30% e dados sigilosos de clientes. Dividiam-se em dois grupos de chat: um autodenominava-se “A Máfia”, outro identificava-se como “O Cartel”.

Representavam Citigroup, Bank of America, Barclays, Deutsche, HSBC, Merril Lynch, Morgan Stanley, JP Morgan Chase, Royal Bank of Canada, Nomura, Tokyo-Mitsubishi, Royal Bank of Scotland, Standard, Credit Suisse e UBS.

Estão sob investigação no Brasil, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Cinco (JP Morgan, Citigroup, Barclays, RBS e UBS) já admitiram culpa em processos nos EUA. As primeiras multas americanas somam US$ 6,4 bilhões.

A investigação brasileira é comandada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica. O Cade aceitou acordo proposto pelo suíço UBS que, em julho, confessou, entregou provas contra outros bancos e delatou 30 pessoas físicas envolvidas na fraude do câmbio do real.

A Associação Brasileira de Comércio Exterior decidiu participar da ação conduzida pelo Cade: — Estamos levantando subsídios para um processo —, conta José Augusto de Castro, presidente. — Essa manipulação ajudou a destruir a nossa estrutura. Somente em vendas de produtos manufaturados perdemos US$ 50 bilhões e a chance de criar dois milhões de empregos.

A trama para supervalorizar a moeda brasileira incentivou importações. Até 2005 o país tinha 17 mil empresas de exportação e 22 mil de importação. Ano passado contavam-se 19 mil exportadoras contra 44,3 mil importadoras.

A especulação, favorecida pela taxa recorde de juros, deixou o país no lado oposto das nações industrializadas: no Brasil, o volume de negócios diários no mercado futuro de câmbio passou a ser cinco vezes maior do que no mercado de cambio à vista. Segundo o banco dos bancos centrais (BIS), o real se tornou a segunda moeda mais negociada no mercado futuro internacional. Só perde para o dólar.

Em recente audiência no Senado, um diretor do Banco Central, Aldo Mendes, minimizou os efeitos da conspiração sobre o real, apesar da confissão de participantes como o UBS. Mendes não admitiu falhas na vigilância e considerou impossível a manipulação da taxa de câmbio (Ptax) no Brasil:

— Nosso modelo é o melhor que existe.

— Ele mentiu ao Senado — diz Giannetti da Fonseca. — As provas estão no Cade, entregues, em confissão, por um dos participantes.

Castro complementa:

— Fiscalizar seria a obrigação do BC, que nada fez.

Para os empresários, durante seis longos anos o “cartel” e a “máfia” ajudaram a desindustrializar o Brasil. Só o Banco Central não viu.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

18 Comentários

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  1. “Entre 2007 e 2013, 30

    “Entre 2007 e 2013, 30 operadores de bancos estrangeiros conspiraram para influenciar o câmbio do real em relação ao dólar. Combinaram cotações falsas, compartilharam lucros de 30% e dados sigilosos de clientes. Dividiam-se em dois grupos de chat: um autodenominava-se “A Máfia”, outro identificava-se como “O Cartel”.

    A partir de  2013 o BC mudou de tática, talvez movido pelas invesigações sobre este cartel de bancos e resolveu detonar o Brasil através da selic.

    Leviatã e Trombini vão acabar com o que restou

  2. Esse negocio de deixar meia

    Esse negocio de deixar meia duzia de gatos pingados se reunirem e da cabeça deles imporem um pesado onus ao povo é insano e até criminoso; como essa pantomima ridicula continua!!?? E ainda esse povo é unha e carne com os maiores interessados pautando suas decisões praticamente baseados na fofoca, incrivel!!

  3. O que eles acham que e

    O que eles acham que e ciencia, nao passa de ideologia no sentido de inversao da realidade. Se os mercados sao eficientes, nao pode, por principio haver fraude. E nos deixam roubar como tolos. A ver se isso tera consequencia paras os cegos surdos e mudos do Bacen. Verdadeiros cabecas de planilha.

  4. Aqui no blog do Nassif esse
    Aqui no blog do Nassif essa tese não cola não.
    Talvez na convenção do PSOL. Tenta lá.

    Não existe vácuo neste planeta!
    Se O Governo não controla o câmbio, alguém vai controlar.

  5. Não acredito!

    Embora eu ache que o BC deveria chamar banco central dos bancos do Brasil, bcbb, isto seria demais. Esta religião cuja fé no juros alto e que se o mercado financeiro lucra muito, tudo vai bem, já me assusta.

    Ai também já seria demais! Embora não custe verificar o que houve. Cadeia nem pensar; ou há alguem do pt no bc?, dúvido. Mas era mais que merecido, se confirmado.

    Mas é interessante que agora que 600 bilhões de dólares, descobertos, que não dá mais para esconder no exterior, venham de volta ao país, 30% só para o “reajste fiscal”, ninguem fala de como esta fortuna vai entrar no mercado. Se os juros fosse pequeno como deveria ser, o dinheiro tem que vir não precisa ser atraido, seria ótimo para a economia, mas se entra no mercado financeiro para explorar o país como sempre fazem, com a ajuda deles, a vinda pode ser até pior.

    Que coisa, os que recebem salário do governo, estes e outros, querem destrui-lo?

     

  6. é a nossa riqueza escorrendo pelo ralo!

    e tem gente que defende o capital e o tal livre mercado. que se deixar livre como eles querem, voltaremos ao escravagismo.

    1. O sempre na suspeição está de bom tamanho

       

      MarFig (terça-feira, 17/11/2015 às 19:05),

      Eu também não teria a dizer mais nada a não ser concordar com você.

      Fui ver quem era o José Casado, e para isso utilizei o link deixado para o artigo em O Globo. Fui bater no blog do Noblat.

      Bem, então é isso: Ricardo Noblat, José Casado ou O Globo: se eu fosse seu inimigo lhe daria a incumbência de escolher quem é pior.

      Como ninguém assumiu o ônus de apresentar o artigo, o que deixa qualquer um entristecido é imaginar que muito provavelmente o texto veio por birra de Luis Nassif com o Banco Central. O que deixa a gente feliz é saber que Luis Nassif deu vazão à birra, dando corda para a oposição, no momento em que o governo já saiu das cordas.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 17/11/2015

    2. MarFig, tem varias coisas

      MarFig, tem varias coisas estranhamente ausentes dessa noticia.  Dessa vez vou ter que calar a boca!  Obrigado por me fazer notar isso!  A rede golple acusando empresarios?  Sem nomes?  Processos?  Sem numeros?  Nos Estados Unidos?  Sem documentracao nenhuma, nada zero?

      Essas sao somente algumas das coisas erradas com esse item.  Tem varias outras.

  7. O fio da meada – Ariadne na cabeça

    Agora é seguir o dinheiro, quem lucrou, se a operação existiu por fraude, a culpa é automática. Os chefes dos bancos e o BC entram pelo domínio do fato, afinal os salários milionários que recebem é para trabalhar.

  8. Só o BC não viu

    Lembro-me que o velho Brizola já dizia que o BC era o SINDICATO DOS BANCOS.

    O tempo passou e o Brasil velho de guerra segue sendo a bola da vez.

    Quando teremos governantes que atuem duramente em defesa do país e terminem com essas roubalheiras ?

    DA PF e do MPF nada podemos esperar, igualmente da República do Paraná.

    A urubuzada deita e rola.

    Ô Dilma, onde estás ?

  9. Não é que o BC não viu, o BC

    Não é que o BC não viu, o BC ajudou que ocorre-se, e a tentativa de independência do BC era para aprofundar o esquema.

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