por Francisco Borges*
Como falar de educação quando estamos no meio de um processo eleitoral tão competitivo e separatista? O tema — que deveria ser pauta diária, principalmente quando estamos em um período eleitoral — passa à margem das duas campanhas na hora de discutir pontos delicados da política brasileira.
Os indicadores do PISA, sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos, foram inflados pelo processo de promoção acelerado que ocorreu no período da pandemia e ainda assim não tivemos crescimento significativo no resultado final. Ao contrário. Permanecemos com indicadores péssimos quando ranqueados mundialmente.
O número de jovens considerados “nem, nem” no Brasil é assustador. Estudo recente mostra que 36% população brasileira de 18 a 24 anos que “nem trabalha nem estuda” é a segunda maior entre nações na esfera da OCDE — perdendo para a África do Sul.
O Brasil também é o 2º com pessoas nessa faixa de idade que estão há mais de 12 meses sem atividade.
Associando a baixa qualidade da educação básica e a desmotivação do jovem quanto ao prosseguimento de estudos, temos a clareza da realidade de um país que “era do futuro” e agora amarga uma falta de capacidade de produção em áreas estratégicas para um país que busca a sua soberania econômica, financeira e social.
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Como resolver a incapacidade produtiva no ensino superior? Sem base, sem motivação, assustados com os primeiros desafios, os jovens que, ao menos, se aplicam ao ensino superior são muito susceptíveis a evasão.
Desacostumados com um planejamento, cursos de 2 anos de duração já são considerados longos, os alunos fogem da estrutura curricular e a necessidade de ser remunerado durante a graduação para poder suportar os custos inerentes de uma formação impede que “a conta feche”.
As ações dos grandes grupos de educação superior para poderem sobreviver também assustam. Facilitam os cursos reduzindo atividades, contratam professores com valores hora aula cada vez menores, transformam cursos de graduação em programas desinteressantes e sem valorização pela qualidade do que ofertam e pelo preço que cobram.
As manchetes neste período eleitoral sinalizam uma amarração de fatores que indicam uma situação quase que caótica.
A graduação já não tem mais valor pelo diploma que oferece, mas sim pela empregabilidade que proporciona. Expandir oferta de cursos e de vagas é algo insano em um país que ocupa menos de 10% das vagas ofertadas a cada ano. E tal cenário tem se consolidado sem a devida preocupação.
Para piorar o cenário, há o bloqueio de verbas no montante de R$ 2,4 bilhões, anunciada pelo governo federal. A medida agrava a situação já precária dos institutos e universidades federais.
Segundo a senadora Leila Barros (PDT-DF), o corte representa nada mais nada menos que 11,4% da dotação de despesas discricionárias do ministério. E, no caso das universidades vinculadas e das instituições federais de ensino, corresponde a uma redução de 5,8% nos limites de movimentação e empenho. Assim, com o bloqueio de R$ 147 milhões, os institutos da rede federal de educação profissional, científica e tecnológica acumulam uma perda de R$ 300 milhões desde junho. Nas universidades federais, a soma do contingenciamento, desde o meio do ano, resulta em um bloqueio de R$ 763 milhões com relação ao que havia sido aprovado no orçamento deste ano.
Apesar de historicamente figurar entre as principais questões levantadas em períodos eleitorais, ao lado da saúde e da segurança, o tema educação tem tomado menos espaço do que deveria. Sanear o mercado de oferta pelos indicadores de qualidade estabelecidos é o segundo passo para regularizar de cima para baixo uma perspectiva de formação de jovens que terão que conduzir os negócios e o país nos próximos anos. O primeiro é fazer com que o tema se torne prioridade.
*Francisco Borges, mestre em Educação e consultor da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) em Gestão e Políticas Públicas voltadas ao Ensino.
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Existe uma relação direta de todas essas preocupações que foram citadas. Todas elas são a consequência de um País que abdicou de ser alguém neste mundo. A questão separatista, que se apresenta não apenas no preconceito alimentado, jogando uma pessoa contra a outra, um Estado ou Região contra outro, mas também na manutenção da guerra fiscal sem qualquer propósito de ganho para o Brasil. O fato de o País não ter buscado crescer como um todo, cobra os seus efeitos na formação educacional onde a improdutividade tem sido responsável, tanto pela baixa qualidade do ensino como também pela quantidade de jovens que nem estudam nem trabalham. O País não produz oportunidades em quantidade, que possam utilizar nas funções específicas os formados no ensino superior e tampouco oferece ocupação aos que não prosseguiram os estudos. Um País que não se desenvolve e que parece não querer fazer esforço pra alcançar esse objetivo. O problema é que essa conta vai ficando cada vez mais cara para toda a sociedade. O universo sub-aproveitado em que o País vai se tornando põe em risco a continuidade de tudo. Civilização que não tem desenvolvimento também não tem futuro nenhum. Como resgatar a motivação não apenas do jovem, mas de tudo o que afeta e interessa ao País.
O descuido com a Educação, da básica à superior, pode inviabilizar definitivamente o País. A idéia é essa mesmo. Povo ignorante, povo vencido, convencido e explorado. O mundo unipolar está mudando e o império precisa garantir alguns vassalos.