Duas visões sobre educação

Sugerido por mcn

Nassif e amigos do Blog, seguem dois textos para alimentar nosso debate sobre a melhoria da qualidade da Educação Básica no Brasil. São duas formas de pensar antagônicas. Curiosamente, ambas apresentam resultados expressivos.

O 1º exemplo é uma análise do sistema educacional da Finlândia. O país considera a Educação uma atividade essencialmente criativa e não sujeita a padronizações rígidas. Esses e outros princípios pautaram reformas nacionais de longo prazo, baseadas em amplos consensos entre governo e sociedade, com relações de compromisso e confiança mútuas.

O 2º exemplo são as opiniões do economista norte-americano Eric Hanushek, professor da Universidade de Stanford. Ele defende ferrenhamente uma visão “empresarial” da Educação, com estímulos agressivos à competitividade e responsabilização dos professores, em função dos resultados de desempenho acadêmico dos alunos. Considera que o professor – mais do que qualquer outro fator – é determinante para o sucesso econômico de um país.

Da Agência Senado 

Estudo sobre a Finlândia aponta caminhos para reforma educacional no Brasil

País europeu só conseguiu se destacar nesse quesito após uma reforma de longo prazo

Num momento em que o Brasil discute novos parâmetros de educação, um estudo sobre o setor na Finlândia, elaborado pela consultora legislativa Tatiana Feitosa de Britto, mostra que o país europeu só conseguiu se destacar nesse quesito após uma reforma de longo prazo. Intitulado “O que é que a Finlândia tem? Notas sobre um sistema educacional de alto desempenho”, o estudo está disponível no portal do Senado.

Ao receber parlamentares finlandeses nesta terça-feira (28) no Senado, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) afirmou que o país, que até 1950 era pobre e exportava papel higiênico e madeira, conseguiu se destacar graças ao investimento em educação.

– A Finlândia, graças ao investimento na educação de base, se transformou num país importante nas universidades, numa visão científica e tecnológica, e hoje bastante rico, disse.

Segundo Tatiana, a Finlândia passou a ser reconhecida como exemplo educacional após os primeiros resultados do Pisa(Programa Internacional de Avaliação de Alunos), em 2001, desenvolvido pela Organização para a OCDE(Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) com o objetivo de monitorar o desempenho dos sistemas educacionais. No Pisa, a Finlândia é o país com a menor diferenciação entre escolas, o que indica alto nível de igualdade no sistema educacional.

Conforme o estudo, as reformas que levaram o país a esse patamar foram implementadas ao longo de quatro décadas, a partir da década de 1960. Uma das principais mudanças implementadas pelo país, de acordo com a consultora, foi oferecer educação básica universal e gratuita a toda a população de 7 a 16 anos de idade.

A Finlândia investiu também na formação de professores, com cinco anos de duração e exigência de mestrado, e na elaboração de um currículo básico nacional, dando autonomia às escolas para que formulem seus currículos específicos, respeitada a carga horária exigida.

Recentemente, segundo Tatiana, o sistema de ensino finlandês passou por nova reforma, com o fortalecimento da educação profissional integrada ao ensino médio e a criação de uma rede de instituições superiores politécnicas. No ensino médio, mais de 40% dos alunos hoje optam pela modalidade integrada à educação profissional. Ela destaca que os diplomas, tanto do ensino médio regular quanto do integrado à educação profissional, dão acesso aos dois tipos de instituição de ensino superior finlandesa: as universidades e as politécnicas.

Pisa

De acordo com a consultora, de três em três anos, em cada país participante do Pisa é aplicado o exame em uma amostra representativa de alunos de 15 anos de idade que tenham completado pelo menos seis anos de escolaridade. O teste abrange habilidades desenvolvidas pelos estudantes em três áreas: leitura, matemática e ciências, sendo que, a cada rodada, é dada ênfase a um desses campos. A prova do Pisa, segundo Tatiana, diferencia-se por não adotar uma abordagem curricular.

A intenção do exame é mensurar o nível de preparo dos jovens ao completar a escolaridade considerada indispensável para enfrentar os desafios da sociedade do conhecimento. De acordo com a consultora, a primeira rodada do Pisa, em 2000, contou com 28 países membros da OCDE e outros 14 não membros, incluindo o Brasil. Em 2012, além dos 34 países membros da OCDE, participaram outros 30.

Finlândia x Brasil

Tatiana ressalta que não se deve falar da transposição direta da experiência finlandesa para outros contextos, devido às suas peculiaridades históricas, políticas e culturais. No entanto, mesmo não existindo uma “receita mágica”, a consultora enfatiza que o Brasil pode refletir e tirar lições de exemplos bem-sucedidos.

A consultora acredita que pode ser útil para pensar o caso brasileiro o exemplo de reforma de longo prazo. Segundo Tatiana, a reforma na Finlândia só foi possível graças à construção de amplos consensos entre os partidos e a sociedade.

Outro fator que pode inspirar a transformação da educação brasileira seria o fato de a Finlândia não ter adotado um pensamento dito “empresarial” na educação. Esse pensamento, segundo Tatiana, engloba uma fixação de prescrições curriculares rígidas e padronizadas, testes padronizados externos para avaliar os alunos, o estímulo da competição entre os estabelecimentos de ensino e responsabilização direta dos profissionais da educação pelos resultados alcançados.

—A centralidade dos profissionais da educação e a compreensão do processo de ensino-aprendizagem como um processo criativo por natureza, em que devem predominar relações de compromisso e confiança mútua, são aspectos importantes a serem considerados em nosso meio, afirmou.

“O que é que a Finlândia tem? Notas sobre um sistema educacional de alto desempenho”. Arquivo em PDF disponível aqui – http://goo.gl/It8AHH

Da revista Desafios do Desenvolvimento (Ipea)

Eric Hanushek – “O futuro do Brasil depende de bons professores e de alunos competitivos”

Cláudia Guerreiro

Polêmica. Esta é a primeira expressão que costuma surgir nas referências a respeito do economista norte-americano Eric Hanushek, pioneiro no desenvolvimento de pesquisas que avaliam o impacto da qualidade dos professores e os efeitos do ensino no desenvolvimento. Professor da Universidade de Stanford e pesquisador do Instituto Hoover, aos 70 anos, Hanushek parte da premissa de que o professor – mais do que qualquer outro fator – é determinante para o sucesso econômico de um país. Entusiasta da meritocracia, defende abertamente a premiação dos mestres de alta performance para que se mantenham engajados na formação de alunos competitivos. Quanto aos maus professores, devem ser realocados. “Não podemos sacrificar nossas crianças apenas para manter o emprego de todos aqueles que acharam que poderiam ser professores”

Eric Hanushek vem provocando há três décadas controvérsias entre educadores e sindicatos por acreditar ser fundamental a responsabilização direta do professor pelo desempenho do seu aluno. Foi ele o primeiro a afirmar, entre outros pontos, que o mero aumento de salário não tem influência direta sobre a qualidade do ensino, a não ser que o aumento venha acompanhado de uma política de premiação dos melhores professores. Para ele, um estudante que tem um mau professor pode ficar prejudicado em sua vida acadêmica para sempre. Suas pesquisas o levaram a outra constatação, incômoda para algumas escolas e teóricos da educação: a propalada ideia de que turmas reduzidas apresentam melhores resultados é um mito.

A investigação feita pelo economista sugere também que um professor de qualidade será sempre bom, independentemente do nível de conhecimento – maior ou menor – de seus alunos. Logo, todos lucram com a presença de mestres incluídos nesta classificação. Assim, do ponto de vista dele, este tipo de valor deve ser claramente reconhecido pelas escolas. A começar por salários diferenciados. Hanushek acredita que mudanças positivas em sala de aula e, por conseguinte, na economia de um país, só irão acontecer quando os professores verdadeiramente eficientes forem reconhecidos pelo sistema. Conhecedor do sistema educacional brasileiro, ele vem afirmando que, com o atual desempenho do país em rankings internacionais de ensino, são mínimas nossas chances de crescer em ritmo chinês ou do Brasil se tornar mais competitivo no cenário internacional.

Desenvolvimento – Nos últimos anos, o Brasil obteve notável crescimento econômico, apesar de alguns setores da sociedade chamarem atenção para investimentos insuficientes em educação. Como o senhor avalia essa situação?

Eric Hanushek – O Brasil cresceu rapidamente. Esse crescimento se reflete melhorando as instituições econômicas básicas do país para que os recursos sejam mais bem utilizados. Contudo, os ganhos recentes na educação dificilmente podem ser considerados as causas do crescimento, mas eles vão ajudar o desenvolvimento futuro do país.

Desenvolvimento – Mas nos últimos anos o Brasil conseguiu colocar 97% das crianças em sala de aula. Por qual razão esses ganhos não teriam influenciado nosso crescimento econômico?

Eric Hanushek – Os números que reuni nas últimas décadas mostram que avanços na sala de aula têm peso decisivo para a evolução dos indicadores econômicos. Mas o que impulsiona a economia é a qualidade da educação, não a quantidade de alunos na escola. O Brasil permanece nas últimas colocações em rankings internacionais de ensino. Com esse desempenho, as chances do país crescer em ritmo chinês e se tornar mais competitivo no cenário internacional são mínimas. Se as notas dos estudantes subissem apenas 15% nas avaliações, a cada ano o Brasil somaria meio ponto porcentual às suas taxas de crescimento. Isso significaria avançar em um ritmo 10% maior.

Desenvolvimento – De que maneira as políticas públicas brasileiras poderiam atender melhor a esse modelo de desenvolvimento associado à educação?

Eric Hanushek – A introdução de melhores sistemas de responsabilidade para escolas e professores é um elemento importante na melhoria da educação brasileira. A grande demanda por melhorias educacionais está levantando a qualidade dos professores no Brasil. Mas melhorar a qualidade dos professores geralmente requer o recebimento de melhores incentivos. Sistemas de responsabilidade são absolutamente necessários. Além disso, é importante recompensar as pessoas que estão fazendo um bom trabalho. Ou seja, é importante pagar pelo desempenho.

Desenvolvimento – Programas de governo que oferecem dinheiro às famílias para que mantenham seus filhos na escola, de modo a evitar a evasão escolar, seriam equivocados?

Eric Hanushek – Os incentivos financeiros do governo para as famílias visando encorajar maior presença nas escolas têm obtido sucesso nesse aspecto. Porém, esses programas não obtiveram sucesso nas melhorias do aprendizado do estudante e em suas conquistas. Se os estudantes forem para a escola e não aprenderem nada, não vai haver melhora na economia. É muito importante garantir uma escolaridade de alta qualidade para os estudantes. É o aprendizado do estudante que importa, e não a mera presença na escola.

Desenvolvimento – Aos professores eficientes, somam-se um currículo escolar com real qualidade, prédios escolares com condições ergonômicas satisfatórias e pais interessados na educação dos filhos. Ainda assim, teríamos estudantes com níveis intelectuais e de interesses diferentes. Como extrair daí bons resultados que influenciem significativamente a economia de um país?

Eric Hanushek – Novamente, professores de alta qualidade podem motivar todos os estudantes a se saírem bem na escola. É mais complicado lidar com estudantes desmotivados ou que chegam despreparados à escola. Ainda assim, boas escolas já mostraram poder superar esses fatores.

Desenvolvimento – Vivemos em sociedades altamente competitivas. O senhor defende uma educação mais competitiva, que formará jovens preparados para enfrentar os desafios dessas mesmas sociedades. De que forma – e em quanto tempo – os professores conseguirão atender a essa exigência?

Eric Hanushek – Sociedades modernas são competitivas. Os melhores trabalhos vão para as pessoas mais bem treinadas. E mais do que isso, cada economia está em uma competição mundial. Trabalhadores brasileiros competem com trabalhadores chineses, vietnamitas e americanos. Nós vemos essa competição em todo lugar. A Seleção Brasileira de futebol está no topo do mundo porque seus jogadores são extraordinariamente bons (em grande parte por causa da competição para assegurar seu lugar no time). Existem poucas evidências de que as escolas se saem melhor se evitarem a competição que nós vemos em todas as partes bem- -sucedidas da economia.

Desenvolvimento – As escolas clássicas, inspiradas na Academia de Platão e no Liceu de Aristóteles, tinham profundas preocupações em forjar os valores éticos dos estudantes. Em nossos tempos, Maria Montessori apresentou a proposta pedagógica de buscar harmonizar a interação corpo, espírito, inteligência e vontade, método este que só encontrou ressonância em pequenos nichos de escolas particulares. Insistindo na questão anterior, ainda há espaço para uma educação que coloque em primeiro plano a questão dos valores e não do mercado?

Eric Hanushek – Se preocupar com valores e ética não é algo incompatível com boas escolas. Escolas podem transmitir altos níveis de habilidades cognitivas, enquanto também desenvolvem éticas e valores morais. Na verdade, existem poucas evidências de que o maior desenvolvimento de habilidades acadêmicas prejudica o desenvolvimento de valores. Essa é uma falsa dicotomia (normalmente empurrada por pessoas que não querem ser vistas como as responsáveis pelo principal objetivo das escolas, que é o desenvolvimento de habilidades acadêmicas).

Desenvolvimento – Do seu ponto de vista, educação, economia e desenvolvimento andam de mãos dadas. No entanto, em um país com as características sociais, culturais e territoriais do Brasil, padronizar o nível excelente em educação é um desafio. De que forma pode ser superado?

Eric Hanushek – O governo brasileiro e os brasileiros em si devem reconhecer que o futuro do Brasil depende da melhoria na qualidade das escolas. Se as pessoas não estão dispostas a melhorar as escolas, elas estão aceitando o fato de que o poder econômico do país vai permanecer bem abaixo do que poderia estar. As preocupações recentes sobre o nível e a distribuição de riquezas no Brasil só podem ser expressas por meio de melhoria das escolas.

Desenvolvimento – Dentro dessa proposta, qual o espaço para as características próprias de cada região e para o multiculturalismo, conceitos cada vez mais pregados pelos novos movimentos sociais que lutam contra a globalização?

Eric Hanushek – Existem grandes vantagens na preservação da herança cultural do Brasil. Mas isso pode ser feito dentro do contexto do desenvolvimento e comércio mundial. Muitos outros países do mundo mostraram que isso é possível. Além disso, a qualidade de vida dentro da cultura brasileira pode ser melhorada por meio de escolas de alta qualidade.

Desenvolvimento – O senhor afirma que não adianta aumentar o salário dos professores simplesmente para satisfazê-los, mas que é importante valorizar e incentivar os bons mestres. Como selecioná-los sem se cometer injustiça com os demais, considerando que cada profissional tem características singulares que podem influenciar de um jeito ou de outro no aprendizado de seus alunos?

Eric Hanushek – Em cada país onde isso foi estudado, nós vimos que existem grandes diferenças na efetividade dos professores. Alguns professores são simplesmente muito melhores que outros. Se o nosso interesse é na educação das nossas crianças e no desenvolvimento de habilidades na população, nós devemos recompensar aqueles que fazem o melhor trabalho em ensinar. Além disso, para a pequena proporção que não está fazendo um trabalho aceitável, nós devemos encontrar meios de realocá-los em outras ocupações. Não podemos sacrificar nossas crianças apenas para manter o emprego de todos aqueles que acharam que poderiam ser professores.

Perfil

Eric Alan Hanushek é PhD em Ciências Econômicas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), pesquisador do Hoover Institution e professor da Universidade de Stanford, nos EUA. Desde a apresentação de sua tese de doutorado pelo MIT, A Educação de Negros e Brancos, ele vem provocando controvérsias por defender abertamente meritocracia, muitas vezes deixando em segundo plano as políticas afirmativas. Foi consultor para o governo americano em diversos programas voltados ao assunto. É reconhecido por ter apresentado uma das mais amplas pesquisas já realizadas sobre o papel dos professores na formação do aluno e suas implicações na economia dos países. É autor ou coautor de 20 livros sobre economia e educação.

Desenvolvimento – No Brasil há quem defenda a ideia de que certas profissões, como a de médico ou de professor, seriam muito mais sacerdócio, um tipo de vocação ou chamado, do que carreiras comuns. Por trás desse discurso esconde-se em boa parte a justificativa de pagamento de salários baixos aos professores. Afinal, até que ponto os bons professores podem ser forjados pelos atrativos materiais?

Eric Hanushek – Muitos. Talvez a maioria dos professores seja motivada simplesmente por educar nossos jovens, de acordo com essa ideia do sacerdócio, mas isso não significa que devamos puni-los por escolher esse trabalho. Nós queremos recompensar os professores excelentes para incentivá-los a se manter nas salas de aula. Insisto: o futuro do Brasil depende, em boa parte, de bons professores e de alunos competitivos. E isso vale para qualquer outro país.

Desenvolvimento – Quais são as características fundamentais que identificam um bom professor? E as que destacam o profissional excelente?

Eric Hanushek – O problema é que os pesquisadores têm sido inaptos a identificar as características que fazem um bom professor. Bons professores vêm com habilidades, características e histórias muito diferentes. Logo, nós devemos estar dispostos a fazer julgamentos acerca de quais professores realmente fazem um bom trabalho e a recompensá-los para que eles se mantenham nas salas de aula.

Desenvolvimento – De que forma esses mestres podem fazer a diferença na vida de crianças e jovens, vindos muitas vezes de contextos sociais violentos e sem perspectivas?

Eric Hanushek – Professores excelentes acham meios de lidar com estudantes em desvantagem. Existe grande número de pesquisas que mostram que boas escolas e bons professores podem superar históricos ruins de estudantes.

Desenvolvimento – É muito comum se evocar os exemplos do Japão e da Coreia do Sul na defesa de investimentos pesados em educação, mesmo sendo culturas fundamentalmente diferentes da brasileira. Mas, afinal, quais lições práticas desses exemplos das nações asiáticas podem ser transportadas para outras nações emergentes da América Latina, ou mesmo da África?

Eric Hanushek – Em países asiáticos, a sociedade como um todo costuma reconhecer a importância da escolaridade. Essas sociedades não permitem que professores ruins fiquem nas salas de aula por muito tempo. Além disso, esses países costumam ter escolas extremamente competitivas. Pessoas que desejam avançar para as melhores faculdades e universidades devem obter grandes notas em exames nacionais. Oferecer fortes incentivos é uma medida que pode ser facilmente tomada pelas escolas brasileiras.

Desenvolvimento – Nos últimos 20 anos, sucessivos governos brasileiros têm promovido a inclusão educacional por meio de subsídios diretos ou incentivos indiretos a escolas ou faculdades particulares. O programa mais conhecido é chamado de ProUni, no qual o governo federal financia até 100% das mensalidades em faculdades particulares. Quais as consequências positivas ou negativas dessa política?

Eric Hanushek – Os fundos das universidades claramente produziram algumas das instituições de ensino superior com alto nível no Brasil. O problema com essa estratégia, porém, é que ela apenas serve a uma parcela muito pequena da população. O Brasil deve expandir a educação básica e melhorar a qualidade de sua escolaridade para a maior parte da população se quiser desenvolver uma força de trabalho no nível mundial e que possa participar da economia global moderna.

Desenvolvimento – Nos países ocidentais, quando o assunto é a preservação da diversidade ambiental, cultural ou étnica, ou ainda no caso de campanhas educativas de tolerância aos homossexuais, tende a haver uma unanimidade de vozes em apoio a essas iniciativas. Contudo, o Brasil tem registrado críticas fortes por parte de grupos religiosos contrários às iniciativas oficiais de educar crianças e adolescentes no sentido de que a homossexualidade, por exemplo, teria uma natureza “normal” ou seria “correta”. Enfim, quais os limites da adesão da educação pública ao politicamente correto?

Eric Hanushek – Muitos desses são julgamentos que a sociedade brasileira deve abandonar. É um infortúnio quando a sociedade não pode ter um debate civil sobre prioridades e objetivos sem ter pessoas sendo acusadas de má-fé ou visões incorretas.

Desenvolvimento – No Brasil, fala-se muito em melhorar a capacidade dos professores, de modo a que se tornem mais bem remunerados e eficientes. Um professor mais eficiente torna, necessariamente, o aluno mais eficiente?

Eric Hanushek – Como indiquei anteriormente, acho que é necessário olhar para quão efetivos os professores são em melhorar o aprendizado dos estudantes. A efetividade de um professor simplesmente não está totalmente relacionada ao treinamento e à história, então não se deve apenas olhar as características do professor. Salários pagos pelas características que não estão diretamente relacionadas à efetividade em sala de aula não vão ajudar a melhorar as escolas.

Desenvolvimento – O senhor poderia citar os principais fatores que contribuem para que um país seja chamado de primeiro mundo?

Eric Hanushek – Eu acredito que a definição principal de um país de primeiro mundo é aquele que tem um sistema econômico operando próximo ao limite do que é possível – usando os melhores processos de produção, empregando a maior parte da população em atividades habilidosas, sendo competitivo nos mercados internacionais por produtos e serviços. Todos esses aspectos estão obviamente correlacionados a um alto PIB per capita.

Desenvolvimento – O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Brasil cresceu 47,5% entre 1991 e 2010. Que avaliação o senhor faz do Brasil após a publicação desses dados? Isso poderá tornar o país mais competitivo?

Eric Hanushek – O IDH é designado para dar ampla indicação de como um país está se saindo em desenvolver as habilidades de sua população. Eu, pessoalmente, não gosto da ênfase na aquisição escolar, porque anos de escolaridade não estão relacionados de maneira muito próxima ao nível de habilidades ao redor dos países. De novo, o desafio do Brasil é levantar a qualidade da educação para todos os seus estudantes – porque é assim que o país poderá melhorar a qualidade da força de trabalho futura.

Desenvolvimento – O senhor cita a longa liderança dos Estados Unidos em seu poderoso motor para o progresso científico e tecnológico, devido ao grau de abertura de sua economia e à segurança institucional. O Brasil caminha hoje nessa direção?

Eric Hanushek – O Brasil tem feito alguns progressos essenciais nessas dimensões. Para promover crescimento, é necessário liberar tanto trabalho quanto produtos de mercado de regulamentações e restrições. É também necessário respeitar os direitos da propriedade privada e tentar minimizar a quantidade de intrusão governamental na operação da economia privada. Os países que mais se beneficiaram do investimento no ensino, como Coreia do Sul e Finlândia, têm um ponto em comum: são economias abertas. Quando boa educação vem aliada a uma economia aberta, seu efeito no PIB é três vezes maior do que em países mais fechados. O progresso que o Brasil tem feito nessas direções é encorajador.

Desenvolvimento – Qual a sua avaliação do Brasil hoje no mundo como país emergente, que retirou mais de 20 milhões da linha de pobreza e que, de certa forma, contribuiu no processo de redução da pobreza mundial?

Eric Hanushek – O progresso da economia brasileira tem sido muito forte. As coisas que são necessárias levam muito tempo para serem totalmente conquistadas, e o sucesso de longo prazo virá caso o Brasil continue comprometido com políticas fortes e consistentes. Mas o país já mostrou a determinação e a capacidade de ganhar melhorias na economia em nível mundial. O Brasil é certamente um modelo para muitas nações da América Latina. E tem a possibilidade de se tornar um modelo mundial para o sucesso.

Redação

11 Comentários

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  1. A meritocracia na educação,

    A meritocracia na educação, como a direita brasileira propõe, é uma falácia. O sistema de mérito e recompensas numa empresa para funcionar deve obedecer uma regra básica: o piso salarial do funcionário mediano deve ser considerado justo por todos. Assim, o prêmio por desempenho passa ser considerado um dinheiro para comprar mais ítens de conforto pessoal. No sistema meritocrático que funciona, o melhor funcionário anda de Corolla e o mediano, de Palio.

    Ao se instituir um sistema de mérito onde o piso salarial é considerado baixo, as propaladas melhorias não ocorrem. Primeiro porque os “perdedores” na classificação sentirão rancor pela empresa, causando menor produtividade desse grupo. Segundo, que o prêmio por melhor desempenho precisa ser significativo para que o salário final seja suficiente para sair da indigência, senão os potenciais “vencedores” não entram na competição.

    O problema é que o salário dos professores não é considerado justo por ninguém! E o salário mais o prêmio por desempenho, adotado por governos de direita, não supera um salário numa empresa privada! Claro, o resultado é uma pior educação, pois causa raiva na categoria dos professores e é uma competição não-atrativa.

    O correto é, primeiramente, adotar um salário digno para todos os professores da rede pública no Brasil; que faça essa categoria sair da classe C/D para a classe B. Isso, por si só, melhora sim a educação, pois passa a atrair novos profissionais que escolham a profissão por gosto, e não por necessidade, como é hoje. Depois, sim, a partir daí, é possível adotar um sistema de metas.

    (Um adendo: há sempre pessoas que dizem que o aumento salárial igualitário não funciona. Porém, os exemplos passados ou são de países onde o salário já era bom, mas foi aumentado; ou são das cidades petrolíferas brasileiras onde o salário era ruim e aumentou para ficar menos ruim. O que proponho é um aumento significativo, que mude a faixa de renda onde os professores pertencem; não um aumento cosmético, que não muda nada, feito só pra dizer depois que não funciona.)

     

  2. Educação

    Outro dia estava assistindo ao filme curtindo a vida adoidado e achei interessante um pequeno detalhe: o protagonista estava faltando a aula de “Direitos do consumidor”. Matérias como esta e/ou direitos trabalhistas e constituição deveriam ser obrigatórios nos currículos escolares para melhorar preparar a nova geração de cidadãos.

  3. Não há receita

    Ou seja, a educação é ao mesmo tempo um lugar de certezas e incertezas.

    Se tivermos uma boa educação vamos ao paraiso. Sem elas estamos condenados à barbarie e à estagnação econômica. Então, não temos dúvida: “para a escola, crianças”.

    Agora, o que fazer na escola?

    – Ora, muito simples, fazer aquilo que uma boa escola deve fazer, ter bons currículos, ter bons professores, sei lá, mil coisas…

    Aí, fica claro que ninguém sabe o que fazer. Nem o pragmático Hanushek se arrisca a responder o que é um bom professor e foge pela tangente, atribuindo a outros essa suposta falha (“O problema é que os pesquisadores têm sido inaptos a identificar as características que fazem um bom professor”).

    Disso tudo, boa mesma foia seleção desses dois textos: esclarecedores.

     

  4. Os cursos de Pedagogia

    O assunto mexe com nossa realidade, por isso, deixo um pitaco: é a corrupção generalizada, é  sistema eleitoral deformado, e leis eleitorais mudadas conforme conveniencias (agora mesmo, já se começa a discutir a volta da eleição única, enquanto demais políticos têm reeleições indefinidas…), enquanto a eleição para o STF dá no que dá, enquanto o poder do dinheiro é o que geralmente determina nossa democracia, é a mídia concentrada, é a falta de lei da ´mídia, é a anistia dada aos torturadores e a não punição aos mesmos, é o nosso medo de ir além do “possível”, é a formação catequizada e repetida pelos professores (Paulo Freire, Construtivismo), os cursos de Pedagogia, assim como a qualidade dos cursos universitários em geral, e em todos os níveis, as maçantes inclusões de matérias nos currículos, irrealistas e desanimadores ao invés de despertar alunos para currículos mais próximos de cada interesse, é a falta de sociologia e filosofia nos currículos (e é a falta de professores qualificados pra tais matérias).É o conformismo do nosso povo que não sabe nem quem é o síndico do prédio onde mora, que falta as assembléias, ou esquece em quem elegeu.

      1. Saudações.
        Leciono a mais de

        Saudações.

        Leciono a mais de dez anos, portanto, creio que já tenho uma boa experiência na área. O que o economista prega é o pensamento neoliberal para a educação, o proefessor como um funcionário de uma empresa – financeira de preferência – tem metas a cumpri, não atingiu a meta, está fora e não serve para o sistema. Devemos lembra que essa receita já é aplicada no Chile, no qual, os estudantes estão pedindo reformas extremas e urgentes. Esse sistema que o autor vende já é questionado no seu país, innclusive com suspeita de fraudes nos testes pois os educadores lá, como aqui, São Paulo é o nosso exemplo, tentando assegura a famigerada bonificação, ajudam os alunos nas avaliações. Educadores devem ser tratados com respeito e seriedade e isso começa com a valorização da categoria, melhores condições de trabalho e amparo adequado aos educandos.

         

  5. Meritocracia

    Paulo Renato apanhou muito (do PT) quando implementou o provão nas escolas. Até hoje o partido não aprendeu a importância da meritocracia, vide APEOSP em São Paulo, barrando qualquer progresso que se queira.

  6. os cursos de história pra formação de professores

    e os cursos de história de formação de professores com a catequização da história afro, com o norteamericanismo da afrodescendência pra chamar negros ou pretos por esses nomes

    SABER BEM A DIFERENÇA  ENTRE  GENÓTIPO (1)  E  FENÓTIPO (2).

    (1) ASCENDÊNCIA  GENÉTICA 

    (2) APARÊNCIA

    O RACISMO NOS USA  É MUITO MAIS FUNDAMENTADO NA GENOTIPIA.

    NO BRASIL PREDOMINA UM RACISMO QUE VALORIZA MAIS A  FENOTIPIA

    Daí que vemos o ridículo de simpatizantes e militantes negros ostentarem com orgulho tolo tranças e roupas africanas (ou de uma parte dos africanos). As aparências e a criação de um racismo tupiniquim imitando o racismo norte americano (diferente). E que tal todos nós passarmos a ter a disciplina dos nossos indígenas e passarmos a usar vestes como eles?
     

    http://bobmartins.blogspot.com.br/2014/02/essencial-para-discussao.html

  7. Basicamente é só comparar o

    Basicamente é só comparar o sistema de ensino dos EUA com o de qualquer outro país desenvolvido do mundo para ver quem tem razão.

    Até nos EUA esta meritocracia está caindo. MAs como já armaram toda sua estrutura em torno disto, desfazer não é tao simples como fazer.

     

    Sobre a questão financeira, vc tem que relativisar o que este Sr. Diz. Ele mesmo concorda que professores não devem ganhar o mesmo que garis.

  8. Duas visoes. A d 1 sistema c/ sucesso e a d 1 economista…

    Nao é sério. 

    E parte de uma mentalidade horrorosa. Bons professores nao precisam de bônus para se sentirem engajados no seu trabalho. Precisam de receber respeito, liberdade para fazer o que acreditam, boas condiçoes de trabalho (ah, o economista acha que o fato de turmas pequenas serem mais adequadas é mito… Sei. Quero vê-lon uma sala de aula de fundamental para ele sentir a coisa na pele…) e um salário decente, que dê para ele se dedicar a uma escola só e ter tempo de estudo e preparaçao. 

     

  9. “O Brasil permanece nas

    “O Brasil permanece nas últimas colocações em rankings internacionais de ensino.”

    Pode-se acreditar num economista que diz uma bobagem destas?

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