É a lama, é a lama, por Carlos Ernest Dias

A esposa e eu fomos nesta sexta feira visitar a cidade de Brumadinho, dista cerca de 60 km da nossa casa. Depois de um rápido tour pela cidade, quando pudemos perceber a tristeza geral, e depois de tentarmos sem sucesso chegar até o leito da lama nos distritos, acabamos desistindo e paramos para almoçar no Fazendinha, na entrada da cidade.

Antigo, farto e bem-sucedido restaurante, ali estavam vários policiais militares e outras equipes de trabalho almoçando, enquanto a Globo News exibia as imagens cedidas pela Band da lama invadindo o pátio da empresa e não dando chance de fuga aos funcionários da Vale, a pé, de carro, de locomotiva ou de máquina.

O clima, claro, era pesado, e o calor, insuportável.

Pelo menos uma coincidência existe entre Mariana e Brumadinho: a falta de chuvas e as altas temperaturas nas semanas anteriores às tragédias.

Enquanto almoçávamos, estranhos gases se faziam presentes no céu deixados por aviões a grandes altitudes.

Muito estranhos.

Enquanto aviões jogavam gases, helicópteros jogavam pétalas.

Que nossas riquezas do subsolo são cobiçadas, isso é do tempo dos jesuítas.

Mas que nossas chuvas sejam cobiçadas, isso é do tempo do Star Wars.

Nossas chuvas, nossas maiores riquezas.

Nossos rios, nossos maiores prazeres, que o digam os povos originários.

Nossas serras, vomitando lama, como disse um Pataxó.

Nosso destino, levado rio abaixo, para mais enriquecer uma meia dúzia de empresários globais, já muito ricos.

É a lama, a lama, como previu Tom Jobim.

Mas isso foi quando a fronteira oeste foi desbravada por plantadores gaúchos e similares.

Agora precisamos é de deter a lama, e limpar a água, e replantar a floresta.

E de remover a lama do caminho, solicitando máquinas e máquinas à própria empresa Vale.

Plantar no mínimo 50 metros de floresta em torno de cada nascente.

E deixar crescer a floresta em todos os topos de morro.

E fazer conexões entre as florestas para que os bichos circulem e tenham alimento.

Melhor é alimentar nossos bichos do que alimentar homens e mulheres chineses, alemães e norte-americanos, eles que cuidem dos seus bichos.

Precisamos é de bem-estar, e não de polícia.

Precisamos é de chuva, da nossa velha e boa chuva, como celebram centenas de canções brasileiras de todos os gêneros e estilos.

Precisamos é de chuva, e não de lama.

Precisamos é de chuva.

Redação

Redação

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