Em meio às declarações do lobby em torno das escolas cívico-militares, o ex-ministro da Educação e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Renato Janine, explorou o conceito básico de educação para ilustrar a falácia da militarização das unidades públicas de ensino, em entrevista ao jornalista Luís Nassif, no programa TVGGN 20h, exibido na noite desta segunda-feira (3), no Youtube. [Assista no final da matéria].
“A questão é muito simples. A educação tem que formar pessoas para pensar por si própria, para ser disruptiva, ou seja, as pessoas têm que ser capazes de modificar os paradigmas, mudar as formas de pensamento e se há uma forma de conseguir evitar isso é militarizando a escola”, afirmou Janine.
À luz do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (PECIM), criado em 2019 pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), o tema voltou à tona em um dos principais estados do país com a aprovação pela Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP) do projeto que prevê a criação em massa dessas unidades. A matéria, inclusive, já foi sancionada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Ainda ontem, o site Metrópoles revelou o lobby por trás dessa militarização da educação no país. Reportagem de Jessica Bernardo e Luiz Vassallo mostrou como a Associação Brasileira de Educação Cívico-Militar (Abemil), fundada e presidida pelo Capitão do Exército Davi Lima Sousa – que é suplente de deputado federal do PL do Distrito Federal – já faturou mais de R$ 11 milhões em contratos sem licitação para prestar uma “orientação técnica” que viabiliza a mudança de formato nos colégios.
Para Janine, no entanto, a questão da militarização das escolas é desmontada a partir do próprio conceito de educação. “O grande ponto que estão querendo trazer colocando militares, geralmente aposentados e que vão ganhar mais que os professores, é a disciplina. Existe toda uma doutrina, segundo a qual o problema da escola é falta de disciplina. Isso tá no senso comum e fica a ideia de se as pessoas estiverem ordem, prestando continência, ou cortando o cabelo rente, tudo isso vai melhorar, mas não vai! A pessoa que tudo que ela aprender é obedecer vai ter muita dificuldade de lidar com o mundo em que estamos”, pontuou.
“O trabalho atual pede iniciativa, para não falar na vida pessoal, e as pessoas vão ter que tomar decisões o tempo todo, mas se elas só aprendem um conjunto de regras, isso não vai dar certo, não tem como dar certo, porque o conceito já está errado”, explicou o ex-ministro.
Segundo ele, “qualquer pessoa com bom senso vai dizer que a educação é fundamental”, mas no Brasil a ideia de piorar a educação “é que tá no horizonte”. “Podemos falar sobre a depreciação da carreira, sobre a necessidade de valorizar a educação, mas vamos dizer para o aluno que esse é um mau negócio, para o aluno e para todos”, concluiu Janine.
Confira a íntegra da entrevista a partir dos 25 minutos. Clique aqui para se inscrever no canal gratuitamente.
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