quinta, 28 de março de 2024

Da indiferença ao apoio reverso: fios de esperança surgem nas urnas, por Carlos Marciano

O que vemos no Brasil é um líder ruvinhoso que além de comemorar a pausa no teste da vacina por uma picuinha contra seu adversário político, ainda humilha o povo que governa chamando-os de “maricas”

Crédito: Reprodução/Isto É

da objETHOS

Da indiferença ao apoio reverso: fios de esperança surgem nas urnas

por Carlos Marciano

Nas últimas semanas a pandemia e a política dividiram o tempo dos noticiários pelo país, infelizmente não com informações sobre o fim da primeira e a tranquilidade da segunda. Ontem (15) eleitores das pequenas e grandes cidades brasileiras saíram de suas casas para cumprir seu dever com a democracia, em uma eleição que deixa sua marca na história em duas frentes: a ausência de partidos carimbados dominando o pleito das prefeituras nas capitais (como PT, PSDB e o PSL, que na última eleição presidencial teve significativa relevância); e a alta taxa de abstenção, a maior nas últimas duas décadas.

Esse segundo fator já era até esperado, afinal, estamos chegando a nove meses desde que os cuidados para barrar a proliferação do coronavírus foram instaurados no país. Uma gestação que está longe do fim, principalmente com o relaxamento nas medidas de prevenção como pode-se observar em algumas zonas de votação.

Apesar dos esforços do Tribunal Superior Eleitoral em exigir o uso de máscara, disponibilizar álcool em gel, estimular o distanciamento e estipular um horário preferencial para as pessoas do grupo de risco, sobraram no país aglomerações e eleitores utilizando proteção facial apenas dentro das seções de votação.

Em crises de saúde como essa é normal esperarmos que o Chefe de Estado incentive os cuidados e vibre com os avanços para sanar tal problema, mas o que vemos no Brasil é um líder ruvinhoso que além de comemorar a pausa no teste da vacina por uma picuinha contra seu adversário político, ainda humilha o povo que governa chamando-os de “maricas”, minimizando, mais uma vez, as consequências da pandemia, afinal, “todos nós vamos morrer um dia”.

Se ainda achou pouco para uma semana, saiba que houve também uma afronta a nível internacional. Desiludido com a derrota da sua referência norte americana, Bolsonaro ressaltou que caso a saliva não baste para dialogar com Joe Biden, ainda nos resta a pólvora. O resultado foi muita vergonha alheia e uma infinidade de memes.

Embora o presidente ainda tenha muitos apoiadores espalhados pelo país, os resultados da eleição de ontem de certa forma revelam um descontentamento da população com aqueles que têm o apoio do presidente. Dos sete candidatos a prefeito apoiados assumidamente por Bolsonaro, apenas dois continuam na disputa durante o segundo turno; Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro, e Capitão Wagner, em Fortaleza.

Vale destacar ainda a queda de Celso Russomanno nas pesquisas para a prefeitura de São Paulo. Após Bolsonaro manifestar apoio ao candidato do Republicanos, ele caiu de segundo para quarto, sendo ultrapassado por Guilherme Boulos (PSOL), que disputará o 2º turno com Bruno Covas (PSDB).

No dia em que foi comemorado 131 anos do declínio da monarquia no Brasil, será o resultado nas urnas um sinal de esperança para renovações políticas também em 2022? Talvez, mas muita coisa estará em jogo até lá.

No entanto, o desfecho nas capitais sinaliza sim uma mudança na consciência política, mostra que não basta um apoio grande para se reeleger. Aos políticos a sociedade mostra que é preciso ser coerente nas ações, ou sentirão na garganta o gosto amargo do cargo se esvaindo, assim como sentiram alguns prefeitos que não conseguiram sequer chegar ao segundo turno.

Carlos Marciano
Doutor em Jornalismo e pesquisador do objETHOS

Redação

2 Comentários

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  1. Do texto: “..muitos apoiadores (de bozo) espalhados pelo país”. Contudo, são segmentos facilmente identificáveis, uma parte podre de algumas polícias e gado neopentecostal. Vale destacar que Marinha e Aeronautica nunca alinharam com este louco que ocupa a presidencia e o Exército já está pulando fora.
    Agora, o que dizer do meu RJ que elege com 3a maior votação um pm licenciado que durante campanha exibia-se acompanhado de pms da ativa travestidos de seguranças e, qdo instado a explicar tal guarda, mentiu ao dizer que era segurança legal, o que foi desmentido pela PM pois a segurança legal a que tem direito, sabe-se lá porque, limitava-se a Copacabana (onde o pm licenciado mora) e o sujeito qdo pego desfilava em Campo Grande.
    A muito grande a chance de este 3o mais votado juntar-se ao 2o mais votado ( um dos zetos qq coisa) formando um par inutil de “vereadores federais” aboletados em Brasilia disseminando ódio e fofoca.

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