O fator Eduardo Campos no cenário da disputa presidencial de 2014 não foi capaz de tirar o sono dos estrategistas da reeleição da presidenta Dilma Rousseff.
Tem provocado bocejos ainda maiores nos governistas a candidatura de Aécio Neves
pelo PSDB.
Da parte do governo e do Partido dos Trabalhadores, o favoritismo de Dilma aparece estampado não apenas nas pesquisas de opinião públicas, mas nas que circulam nos bastidores do PT e do governo.
As pesquisas qualitativas colocam Dilma como a legítima herdeira do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos olhos do eleitor. A quase unanimidade dos entrevistados expressa com convicção o reconhecimento de que sua vida mudou para melhor nos governos Lula e Dilma. Curiosamente, isso ocorre mesmo numa faixa de eleitores que não votou no PT, em Lula ou em Dilma, e que nutre uma certa aversão ao petismo. É marginal o número de entrevistados que não admite ter ocorrido nenhum avanço nos governos petistas.
Dilma é a grande beneficiária desse período prolongado de inclusão, crescimento e de uma realidade de quase pleno emprego. Nas pesquisas qualitativas, ela é considerada uma sucessora à altura de Lula, com o adicional de que a ela (e não a Lula) é atribuída uma ação firme contra a corrupção. Nas pesquisas quantitativas, a presidenta dá um banho. A pesquisa CNI/Ibope do mês passado, por exemplo, registra 59% de aprovação ao seu governo
(soma das pessoas que consideram a sua gestão ótima ou boa). No segundo ano de seu primeiro mandato, Lula tinha 29%; o tucano Fernando Henrique Cardoso tinha 35% em 1996.
O voto na oposição se resume cada vez mais a uma posição ideológica e, de alguma forma, “ressentida”, contra Dilma, o PT ou mesmo Lula. “Ressentida” no sentido de que é um voto ideológico, de profundo convencimento, de um ator social que remou contra a maré eleitoral nas três últimas eleições presidenciais. É nesse eleitorado que o tucano Aécio Neves e o
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, terão que iniciar a arregimentação de votos, se quiserem ao menos reverter a tendência quase absoluta a uma vitória de Dilma Rousseff já no primeiro turno. Correm também o grande risco de isolamento político, se fizerem
o discurso apenas para esses convertidos.
A dificuldade de Aécio Neves (PSDB-MG) ir para as eleições com alguma chance de sucesso começa no seu partido. Embora tenha se mantido à margem da disputa política entre PT e PSDB no cenário nacional no período de maior desgaste dos tucanos — os dois mandatos de governador de Minas tiveram esse poder –, os acordos internos que fez para conseguir o
lugar de candidato do PSDB o empurram para um tipo de disputa política muito agressiva, a
exemplo da que tirou José Serra do páreo em 2002 e em 2010, e derrotou Geraldo Alckmin em 2006. Dentro do PSDB, a política orgânica se baseia no modelo de oposicionismo
feito pelo PT nos governos FHC, com a diferença de que seu discurso não é capaz de sensibilizar as grandes massas porque sua inserção social é muito restrita.
Os tucanos passaram 10 anos de mandatos petistas tentando não apenas descaracterizar o PT como o arauto da moralidade, mas configurá-lo como um exemplo de venalidade (e essa
ofensiva parece ter sido bem-sucedida, inclusive pelo que mostram as pesquisa internas do PT). A outra tentativa, de convencer o eleitorado de que são eles, agora, os guardiões da moralidade, parece não ter sido vitoriosa. As pesquisas mostram que a excessiva agressividade de representantes políticos cujo discurso de moralidade não foi convincente os colocou no mesmo balaio de todos os outros políticos: nos olhos dos eleitores, hoje nenhum deles (exceto Dilma, que parece implacável, aos olhos dos entrevistados, no combate à
corrupção) merece o crédito do eleitor.
Na prática, o que tem acontecido com o eleitorado é que o descrédito generalizado na honestidade dos políticos colocou a questão ética em último plano, na hora do voto. Ganham mais peso quesitos que demonstrem a capacidade do candidato de melhorar a vida deles.
A entrevista do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, ao Programa Roda Viva, da TV Cultura, que foi ao ar na noite de ontem, indica que o maior partido de oposição não conseguiu romper o padrão udenista de seu discurso. Agressivo, Guerra insiste no discurso de que o PT errou
por convicção, enquanto os mineiros do Mensalão do PSDB de Minas cometeram erros circunstanciais. Nada indica que o eleitor se convença de uma afirmação tão contraditória, mesmo quando ela é feita com agressividade, para acuar inquiridores.
É nesse caldo de cultura que Aécio Neves inicia a sua vida de pré-candidato. O ex-governador
mineiro aceitou assumir o papel de porta-voz das “denúncias” da oposição contra o PT um ano inteiro antes do início do processo eleitoral oficial, num momento em que, embora a condução econômica dê munição aos opositores de Dilma, a política de erradicação da miséria atinge praticamente sua plenitude, o Prouni se alastra e toma uma dimensão que poucos previram e o emprego não recua, mas estabiliza-se em patamares muito acima do padrão histórico do país. Do ponto de vista do eleitor, o ganho de bem-estar com as políticas sociais e de crescimento econômico dos governos petistas é muito mais relevante do que o soluço inflacionário que catalisa os ataques oposicionistas no último mês.
Uma disputa política baseada em intensa ofensiva pode tornar Aécio conhecido nacionalmente. Ele não o é. É apenas um político mineiro, por enquanto. Mas a luva de box que, aliás, não combina com a sua natureza de trucidar o inimigo no bastidor e deixar o sorriso decidir no ringue – não conquistou votos em eleições passadas, nem parece ter esse poder agora. E ele está brigando com a mulher que, salvo por uma hecatombe na economia que prejudique de forma muito significativa os ganhos obtidos pela população de baixa renda, é uma referência quase materna para os beneficiados da primeira e da segunda geração dos programas sociais petistas.
Quanto a Campos, ele até entendeu que bater de frente dá mais desgaste do que voto; que precisa trabalhar nos bastidores para rachar a base de apoio do governo; que não deve falar mal de Lula. Isso resultou na fórmula que parece presidir sua pré-candidatura: é governista, mas concorre com a presidenta Dilma Rousseff, a que manda no governo. Uma equação muito complicada.
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Acho que Dilma se reelege.
E
Acho que Dilma se reelege.
E não acho que Aécio ou Campos esperam algo diferente. A expectativa, entendo eu, é levar a eleição para 2º turno para ganhar visibilidade para 2018 e, além disso, apoiar as eleições estaduais, que não estão nem um pouco certas, ao contrário da eleição federal.
Mais uma vez um excelente
Mais uma vez um excelente comentário de Maria Inês Nassif.
A aprovação governo Dilma surfa na mesma onda que ocorreu com Lula. Trata-se da inclusão social de milhões de brasileiros.
E não só esses milhões que foram diretamente beneficiados, mas, outra boa parte da sociedade que terá condições de manter uma relação de comércio com esses novos inseridos, além de todos aqueles que reconheciam a injustiça social, e a miséria, como consequência de políticas de governos fracassadas.
A aceitação maciça desta política dificulta qualquer discurso propositivo das oposições que não soe como continuidade da políitica do atual governo.
Por outro lado, o discurso das ideias reais do PSDB, neoliberais, não agrada ao eleitorado brasileiro, por isso a constatação do discurso de Serra na última disputa para a presidência, o de Sérgio Guerra no programa Roda Viva, e o provavel discurso de Aécio na próxima campanha presidencial, afinal, a tentativa destes discursos é agradar o pegueno grupo que se identifica com o pensamento político do PSDB, grupo este que conta com algumas das maiores fortunas nacionais, tornando o PSDB o maior arrecadador do famoso “caixa dois” de campanha.