Sociólogo diz que Dilma foi punida por conluio da classe média e setor de serviços

‘Conluio antidistributivo’ puniu Dilma, e campanha será mais radicalizada, diz sociólogo

Há um “conluio antidistributivo” no Brasil que puniu a presidente Dilma quando ela tentou reduzir as taxas de juros e desvalorizar o real. Empresários compensaram queda no rendimento de aplicações com alta de preços, impedindo uma guinada na política econômica.

A análise é do sociólogo Adalberto Moreira Cardoso, 52, diretor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que inclui no “conluio”, parte da classe média rentista e o setor de serviços. Para ele, a campanha eleitoral deste ano será radicalizada, e as mídias sociais alimentam a animosidade.

Doutor pela USP e autor de dez livros –entre eles “A Construção da Sociedade do Trabalho no Brasil” (FGV, 2010) e “Ensaios de sociologia do mercado de trabalho brasileiro” (FGV, 2013)–, Cardoso enxerga Dilma como nome mais forte. Mas, ao contrário do que ocorreu com Lula, prevê que a presidente “não vai poder surfar acima das brigas entre candidatos. Ela vai ser o alvo principal dos ataques”.

A seguir, trechos da entrevista concedida por telefone, do Rio de Janeiro.

Folha – Qual sua visão do processo eleitoral?

Adalberto Cardoso – A campanha será mais radicalizada, muito violenta. Não só em relação aos ataques pessoais entre candidatos, mas também nas ruas. Várias cidades há disputas muito intensas pelo poder. Pela primeira vez em 12 anos, a oposição está vendo de fato uma chance de voltar ao poder. No caso do PSB, de chegar ao poder. Ambos estão agindo de maneira muito dura na oposição. As novas mídias sociais estão permitindo o afloramento de um radicalismo raivoso por parte da população. Ele sempre existiu, mas antes não parecia. Nas redes sociais isso fica muito explícito. Isso alimenta uma animosidade entre os contendores muito pouco saudável para a dinâmica da democracia. As redes sociais não têm contribuído para formar opinião, mas para radicalizar as opiniões que as pessoas já têm. Isso é ruim numa dinâmica em que estarão em questão os horizontes da política, o futuro que queremos. Essa eleição reinaugura a disputa política propriamente dita. O PSDB, que agia de maneira errática nas últimas três eleições, está claramente com um projeto mais definido, mais conservador, mais à direita, definindo um eixo de retomada de um projeto que foi bem-sucedido no primeiro mandato de FHC.

Mas que fracassou no segundo mandato. O que o Aécio tem afirmando é o projeto do segundo mandato de FHC. O primeiro foi mais claramente neoliberal, com políticas de abertura da economia. Todo o receituário neoliberal, com muita intensidade, foi implementado. No segundo, deu-se um passo adiante, do meu ponto de vista ainda mais equivocado. O primeiro mandato teve a virtude de ter controlado a inflação a um preço muito alto, que foi o do emprego formal, industrial. O Brasil entrou numa rota de desindustrialização a partir de 1995, 1996, que só se aprofundou com o tempo. Chegou-se ao final do segundo mandato com 40% de emprego formal. O emprego industrial, que tinha atingido 22%, foi para 11% da PEA. Houve uma desindustrialização dos empregos e um aumento brutal do desemprego. O custo social das políticas adotadas foi muito alto. As pessoas se esquecem de que o Brasil estava numa rota de dolarização quando Lula ganhou a eleição. O projeto de FHC era de dolarização da economia. Armínio Fraga já tinha transformado quase 40% da nossa divida interna em nominada em dólar, expondo profundamente a economia às intempéries internacionais.

O projeto Aécio é semelhante ao de FHC?

É de voltar às políticas de FHC. Seu possível ministro da Fazenda é Armínio Fraga, um dos responsáveis pela grande fragilidade do Brasil no segundo mandato do FHC. Ele colocou o Brasil numa rota de dolarização da economia num momento em que a dolarização já tinha destruído a economia da Argentina. Ele está fazendo o programa do PSDB, baseado nas políticas neoliberais de financeirização da economia.

Qual o significado da candidatura de Eduardo Campos?

É uma oposição que saiu do governo, uma candidatura de oportunidade. Com a saída de Lula da disputa, ele se sentiu livre para, entre aspas, trair o seu aliado principal. Entre aspas porque a lealdade dele era em relação à pessoa de Lula, não ao partido. Uma aliança típica das oligarquias no Brasil. Ele, como filho de oligarca, agiu como tal. É perfeitamente legitimo. Foi um movimento oportunista, assim como foi oportunista a aliança com Marina Silva, com quem ele não tem a menor afinidade ideológica.

Ideologicamente, como essa candidatura se posiciona?

Campos ainda não disse a que veio em termos de seu projeto de governo. Diz 2 de 7 que podemos fazer mais e melhor, que vamos dar continuidade ao governo Lula e esquecer Dilma, como se a Dilma tivesse traído as diretrizes de Lula. É como se estivesse reafirmando sua fidelidade a Lula. Não há outra possibilidade a Campos do que partir para ataques pessoais. A questão da corrupção vai surgir de novo. Faz parte das campanhas em todo o mundo. A corrupção, infelizmente, vai ser de novo a tônica do debate eleitoral no Brasil. Isso vai respingar para cima de Lula e dos governos anteriores. Campos não tem projeto de governo. Vai ser difícil para ele quando a Dilma começar a mostrar os resultados de sua administração –e ela tem muito para mostrar. Ele vai ter que apresentar um programa com alguma credibilidade. De um lado da oposição estão André Lara Resende e Eduardo Giannetti. De outro, Armínio. Vai ficar claro é que existe um projeto neoliberal e de aliança com o sistema financeiro do lado da oposição nas duas candidaturas. De outro lado, há uma candidatura mais voltada para o neodesenvolvimentismo, que de alguma forma olha para a produção, para a economia real.

Se essa campanha vai ser mais radicalizada, como isso vai acontecer do lado do governo?

Todas têm sido muito radicalizadas. A única que não, foi em 2002, quando o PT apresentou um programa alternativo e o governo que estava saindo era muito mal avaliado. Não foi possível bater na pessoa de FHC. Houve uma certa divisão de trabalho na campanha, e ficou para o Ciro Gomes bater. Isso permitiu que Lula surfasse acima das disputas pessoais. Isso não vai ser possível nessa campanha. Dilma não vai poder surfar acima das brigas entre candidatos. Ela vai ser o alvo principal dos ataques. Eduardo Campos sabe que a única possibilidade de ir para o segundo turno é destruir Aécio. O inimigo de Campos não é Dilma; é Aécio. Dilma estará no segundo turno, se houver segundo turno. A campanha ainda não começou. Hoje tudo indica que haverá um segundo turno. A oportunidade única de Campos é impedir que Aécio mantenha a intenção de voto que ele tem hoje. Haverá uma luta no campo da oposição.

Mas ambos aparecem muito juntos, numa relação de boa vizinhança, não?

Não. Marina já disse que o projeto deles não tem semelhança com o PSDB.

Ela está correta?

Ela tem um projeto que é diferente do de Campos. Ela tem uma visão da política que é mais comunitarista, não individualista, que é o caso de Aécio e do PSDB em geral. Ela tem um viés conservador de outro tipo. É um conservadorismo voltado para a vida comunitária, contra a ideia de financeirização, de subordinação do Brasil ao capital financeiro internacional. Ela tem um projeto; Campos não tem. Ele estava costurando uma aliança com o agronegócio quando Marina foi para o partido dele e isso foi desfeito. Então, Aécio se colocou como candidato do agronegócio. Ela tem uma diferença em relação ao PSDB. Ela foi oposição ao PSDB a vida inteira e continua sendo. Do ponto de vista dela, não tem aliança possível com o PSDB. Uma aliança entre os dois partidos que possam marchar juntos para destruir a Dilma no segundo turno dificilmente vai acontecer por causa de Marina.

O que pode acontecer se o segundo turno for entre Aécio e Dilma?

O mais provável é que haja um apoio à Dilma do que a Aécio. Campos está muito mais próximo desse campo da coalizão de governo do que do PSDB. Ele tem se mostrado um político muito pragmático.

O sr. fala que a candidatura Dilma é neodesenvolvimentista, mas o crescimento do país é baixo e a desindustrialização segue.

Crescimento baixo depende do parâmetro. Se olhar para a China, é baixo. Mas se olhar para a América Latina, o Brasil está crescendo na média. O Brasil não está sozinho no mundo. É um erro comparar o Brasil com a China, que é a segunda economia do mundo, que é um regime autoritário.

Mas o governo é desenvolvimentista?

O governo é de uma coalizão, na qual o PT tem a liderança. Implementar políticas com esse Congresso não é fácil. O executivo tem sido refém de uma política que tem troca de favores no Congresso. Por causa do tempo de televisão, que é um grandes elementos da dinâmica política do Brasil. O tempo de televisão é a grande moeda em ano eleitoral e no ano anterior e anterior. Há políticas que não podem ser implementadas por haver uma base política conservadora. O governo chegou tarde à conclusão de que a economia brasileira está profundamente fragilizada. Do ponto macroeconômico está bem, com sinais de que pode piorar depois. A economia do país foi fragilizada ao longo dos últimos 20 anos.

O sr. pode explicar melhor?

Em parte por conta da âncora cambial dos dois mandatos de FHC. Ainda que tenha que tenha acabado em 1999, ela retornou via taxa de juros, uma das maiores do planeta. O dólar chegou a bater R$ 3. Lula restituiu a âncora da economia brasileira via taxa de juros. São 20 anos de política que Dilma tentou reverter quando começou a baixar de maneira consistente a taxa de juros. Dilma foi punida pelo mercado, inclusive pela indústria.

Punida como?

Quando a taxa de juros chegou num patamar que todos, inclusive a Fiesp, saudaram como uma taxa civilizada, juros reais de 2%, todo mundo começou a aumentar preço. Porque o empresariado no Brasil deixou de investir quando a taxa de juros ficou muito baixa, ao contrário do que acontece no mundo inteiro. No mundo inteiro, quando a taxa de juros está muito alta, os empresários não investem. No Brasil é o contrário: os empresários investem com taxa de juros alta, porque ela reduz o risco do investimento. Por incrível que pareça! Quem financia o investimento no Brasil é o BNDES, o investimento é com juros subsidiados. Com taxa de juros alta, os empresários podem ganhar no mercado financeiro. O que ajuda a segurar preço não é o fato de que a demanda é contida pelos juros altos. Porque os empresários compensam os preços das mercadorias ganhando no mercado financeiro. Não é preciso aumentar preço: eles estão ganhando em outro lugar. Quando a taxa de juros cai, a primeira atitude do empresário que começa a perder dinheiro no mercado financeiro é aumentar preço. A economia é oligopolizada. Em todos os setores importantes, três ou cinco empresas ou grupos têm mais de 50% do mercado. Como essa profunda oligopolização, os grandes grupos têm o poder de arbitrar preços. Dilma foi punida fazendo o que todo mundo pediu: redução consistente de taxa de juros e aumento consistente do câmbio, desvalorização do real. Quando o câmbio bateu em R$ 2,4 e os juros em 7,5% todo mundo reagiu contra. Há agentes econômicos com grande poder de veto a medidas que representam, do ponto de vista dos rentistas, perda de renda. Esses agentes não permitiram dólar alto e juro baixo.

Há um pacto pró juro alto no Brasil?

Existe um conluio antidistributivo no Brasil. Reúne as classes médias, que querem juro alto para garantir sua aposentadoria, sua viagem internacional, para garantir dólar baixo. Interessa a essa classe media e parte dela está contra o governo, é conservadora. Vai votar contra, apesar de ter ganhado muito com a taxa de juros. Essa classe média é antidistributiva, é contra as políticas do tipo Bolsa Família, de melhoria da vida dos mais pobres. A indústria reclama da taxa de juros, mas, quando a taxa de juros cai, responde com aumento de preços. O resultado é aumento de preços, não investimento. Aí é o aumento da taxa de juros para conter a inflação. O BC não tem outra saída a não ser aumentar os juros. O setor de serviços é o maior responsável pelos aumentos de preços. São três agentes muitos poderosos: tem consumidores, uma certa fatia de rentistas que é grande, de 25% a 30%, que ganha com as taxas de juros dos fundos públicos; têm a indústria e o setor de serviços. Quando se aumenta a taxa de juros, se transfere diretamente recursos do Tesouro nacional para esses agentes. A taxa de juros é fruto de uma luta política entre agentes econômicos para o aceso dos fundos públicos no Brasil. O governo percebeu a sinuca de bico em que estamos metidos decorrente de muitos anos de taxas de juros muito altas e inflação baixa –para os padrões brasileiros.

Como esse conluio pode ser enfrentado?

A indústria brasileira foi muito fragilizada. A China ficou 20 anos com o câmbio muito desvalorizado e todo mundo foi para lá. Antes tinha sido o Brasil, o México. Isso não tem mais volta, é uma configuração da economia mundial. O Brasil perdeu, mantendo muito valorizada sua moeda nesse período. O processo é de longo prazo. A China levou 30 anos para chegar onde está. O Brasil tomou outro caminho e não se reverte uma política assim em pouco tempo. A política de redução de juros e desvalorização do câmbio durou um ano e meio com Dilma, e ela foi punida pelos agentes que são contra essa guinada. Isso não quer dizer que essa guinada não possa ser dada. Ela provou do custo de dar essa guinada. Poderia ter tentado bancar isso politicamente.

Por que ela não fez isso?

Porque parte do PMDB também é rentista, parte da base do governo também é rentista. A única pessoa que conseguiu uma maioria estável no Congresso foi FHC, no primeiro mandato. Foi um rolo compressor. No segundo mandato, não foi possível. Houve uma coalizão forte nos dois primeiros anos de lula. Depois do mensalão, acabou. Lula ficou mais dependente do PMDB. Dilma continua com uma base muito fragmentada, sem unanimidade no PMDB e inclusive no PT. Numa situação de grande fragmentação, todo o presidente eleito vai depender do PMDB, que vai continuar sendo o fiel da balança no Congresso. Os presidentes vão continuar reféns de uma forma de fazer política que é a do toma-lá-dá-cá.

Esse conluio, como o sr. define, implica crescimento baixo?

Essas pessoas [do conluio] não tão preocupadas com crescimento. A crítica ao baixo crescimento é resultado da crítica em geral à política econômica. Mas não há recessão. A Europa é que está parada desde 2009. O que impede o crescimento é a taxa de investimento. É uma reação dos empresários à percepção sobre o cenário econômico.

Mas o governo também não falha ao não ser mais ativo no investimento?

Houve um problema sério de transformação da vontade de investir do governo em investimento real. Os projetos de infraestrutura continuam com problemas sérios de execução. Há uma coalizão anti-investimento. Isso decorre, em parte, dos controles instituídos pelos partidos políticos. O Ministério Público acha que o sistema político é corrupto e parte do princípio de que a decisão de investimento por parte do poder publico é corrupta do nascimento. Há uma coalizão anti investimento por parte de todos os mecanismos de controle. Não estou dizendo que não deva ter controle. Mas chegou-se a um paroxismo em que é muito difícil investir. Esse governo demorou a entender isso. Lula conseguiu, por seu voluntarismo, fazer uma série de projetos. Vários estão ainda pelo caminho: ferrovias, São Francisco, barragens. É fácil lançar o projeto, mas a execução, do ponto de vista dos controles, é muito difícil. Projetos do PAC estão capengando. Ao perceber isso, Dilma fez concessões, que é uma forma de privatização. Agente privado não tem que fazer concorrência, não tem controles. E, por definição, o mercado não é corrupto.

A chance maior é a da reeleição?

Dilma é a candidata mais forte. Passaram os últimos quatro anos tentando destruir o legado de Lula, inclusive o seu jornal e a imprensa em geral no Brasil. Não conseguiram. Lula continua sendo a pessoa mais importante na política brasileira hoje. Ele vai entrar de cabeça na reeleição e é um cabo eleitoral importantíssimo. Só se ouve que o governo é ruim. Apesar disso, ela tem 40%. Claro que essa campanha, orquestrada por uma oposição que vê a chance de chegar ao poder, minou parte da base dela. Tirando a possibilidade do inaudito, ela está no segundo turno e é a candidata mais forte.

Como o sr. avalia essa discussão sobre a classe média e como ela deve se comportar na eleição?

Não concordo com a afirmação de que o Brasil é um país de classe média. É uma definição estatística, não sociológica, que só mede o consumo das famílias. É uma definição ruim, arbitrária e equivocada. Uma parte da classe média vai cotar na Marina e em Campos achando que está votando de maneira mais à esquerda. Identifica nela uma novidade, coisa progressista, mesmo que ela não seja isso. Outra parte vai voltar nos candidatos mais à esquerda, uma classe estudantil que é militante, que foi para a rua. Outra vai continuar fiel ao PT, que lê o cenário como um complô contra o PT. Outra parte vai votar no PSDB, achando que o mercado é o caminho e que o Estado é gigante. Uma proporção grande da classe média pensa assim. Isso tudo dá 20% e não ganha eleição. A eleição vai ser decidida pelos outros 80% que incluem os 50% que são pobres e muito pobres e 30% dessa classe popular que ascendeu e que tem demanda reprimida. Esse pessoal vai ser o fiel da eleição.

O sr. espera grandes manifestações de rua nos próximos meses?

Grandes manifestações, como no ano passado, com um milhão nas ruas, é difícil ter de novo. Mas a política está na rua. Isso não vai acabar. As pessoas vão continuar se fazendo ouvir na rua. Todo o ano de Copa e eleição há a discussão sobre a interferência do esporte na política.

Todo o ano de Copa e eleição há a discussão sobre a interferência do esporte na política. Qual sua visão?

Essa discussão vem desde os anos 1970, na ditadura. Para o governante, de todos os níveis, é melhor que o Brasil ganhe. Isso pode contribuir para amainar os ânimos, para pacificar, para reduzir um pouco o calor da disputa política. Mas não acho que se o Brasil ganhar vai ser bom para a Dilma. As pessoas sabem distinguir. O brasileiro é muito mais inteligente do que se imagina. 

Redação

28 Comentários

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  1. Pela entrevista,  observa-se

    Pela entrevista,  observa-se que é um sociólogo lulopetista cego. Daqueles que não se podem tomar a sério. Ora, é natural ter preferências partidárias, mas a honestidade impõe admitir falhas inevitáveis em todo e qualquer Partido, como em políticos de todos os matizes.

    Segundo suas palavras, “os projetos de infraestrutura continuam com problemas sérios de execução. Há uma coalizão anti-investimento”. Essa foi a grande novidade, para mim. O espírito de conspiração está prejudicando até os investimentos!!! Como consequencia, nada do que dá errado no país é culpa do governo. A responsabilidade pelo nosso atraso é dos Partidos políticos (os outros, claro), do sistema político, da classe média, dos rentistas, dos empresários que só querem juros altos e, por fim, mas que não podia faltar, do governo FHC, findo doze anos atrás.

    Enfim, com todo o respeito a seus eventuais títulos e livros publicados, não se nota uma análise séria e consubstanciada da realidade, ao menos nesse artigo.

    1. Continue com Sardenberg e

      Continue com Sardenberg e Mirian Leitão porque eles tem credibilidade de sobre. Ou mesmo com Rodrigo Constantino ou o Alexandre Scharseiláoquê. Mas acho que ninguém tem mais credibilidade e isenção do que Maílson da Nóbrega. Sempre atento aos fatos.

  2. “Dilma é a candidata mais

    “Dilma é a candidata mais forte. Passaram os últimos quatro anos tentando destruir o legado de Lula, inclusive o seu jornal e a imprensa em geral no Brasil.”

    Como a folha deixou passar isso?

    O revisor não leu?

    1. Imprensa livre

      O revisor leu, sim. è que,segundo as más línguas por aqui, isto é apenas uma fachda de neutralidade e isenção do jornal.

    2. Marcos Antonio, vc está dando

      Marcos Antonio, vc está dando luz a cego.

      A foia vai desestabilizar o Governo Dilma com mais uma baixa no emprego. O desse entrevistador!

  3. A leitura mais próxima da

    A leitura mais próxima da realidade até aqui feita. Infelizmente Dilma foi sabotada por todos, até mesmo pela ala petista viúva de Lula. Vai ser uma pena e um grande retrocesso se Dilma não conseguir cumprir seu ciclo.

  4. “Como esse conluio (o do

    “Como esse conluio (o do pacto pró juros altos) pode ser enfrentado?”

    Com a ley de médios, responderia eu, se estivesse no lugar desse excelente, mas educado demais, cientista político

    1. vc está certo, Günter, mas…

      De fato, Günter. De 2002 até 2013 a renda per capita aumentou em 30,3%, enquanto a da América Latina (e Caribe) aumentou 35,8%.

      Mas convenhamos que não é uma distância significativa, sobretudo considerando que a América Latina, segunda região que mais cresce no mundo neste século, em média se beneficiou muito mais do ciclo de commodities do que o Brasil, (já que todo o setor de mineração e a agropecuária correspondem em conjunto a menos de 10% do PIB brasileiro), e que a Argentina, que corresponde a quase 20% do total exceto Brasil, está recontando suas taxas de crescimento para metade do que havia sido informado.

       

    1. Rentismo é o processo de

      Rentismo é o processo de percepção de juros por empresas e poupadores que guradam seu dinheiro por algum tempo em caderneta de poupança ou fundos de renda fixa, rende uma MERRECA que não satisfaz ninguem, não se vive disso porque a longo prazo esse capital se derrete, vai acabar com o rentismo como? Proibir os juros? Poupança sem juros?

      1. Merreca?
        A cada milhão investidos em títulos da dívida pública se tem R$ 5.000 garantidos por mês, já descontada a inflação.

        Com 4 milhões investidos se tem salário de juiz federal sem fazer absolutamente nada.

        1. Geralmente os incomodados com

          Geralmente os incomodados com o chamado “rentismo” são funcionários públicos, que tem seu salário assegurado para todo o sempre. Nós outros temos que fazer das tripas coração para sobrar um pezinho de meia que não nos jogue na pobreza durante a velhice; quando conseguimos não perder da inflação, no longo prazo, já é uma vitória. Agora, se isso é crime, melhor dizer ao governo que pare de emitir títulos para se financiar.

          1. E quem vai investir nos meios
            E quem vai investir nos meios de produção (o que torna a inflação mínima) se pode ficar na mamata dos _maiores juros do planeta_?

            Tem outros meios de se garantir o futuro (INSS, previdência privada, poupança) que não levem o país para o brejo no futuro.

  5. industriais rentistas?

    A visão do professor tem algumas imprecisões. Uma delas é essa afirmação de que as empresas não financeiras seguram aumentos de preços obtendo receitas financeiras. Isso é facilmente contestado observando-se que as grandes empresas não financeiras tem resultados financeiros irrelevantes ou mesmo bastante negativos. Basta pegar os balanços na internet. A CBD, por exemplo, teve prejuízos financeiros de R$1,2 bi em 2012 e 2013. É a estrutura altamente centralizada e corpo de ministros sofrível que emperra o diálogo com empresários.

    Outro erro é dizer que o Brasil cresce na média da América Latina. O Brasil cresce bem abaixo. Em que pese uma desaceleração no Chile, Argentina, Colômbia talvez. Mas nas médias dos anos recentes, esses países tem crescido mais que o Brasil.

    Quanto a Dilma apanhar da coalização rentista-financista-mídia por ter tentado disciplinar os juros, está correto. Mas ela teria mais êxito se soubesse se articular com os empresários nacionais.

  6. Ações Políticas x mitigações

    Prezados.

    Análise muito útil do professor Cardoso e isso me faz remeter há 15 anos atrás quando a direção do PT ao perceber que tinha atingido um coeficiente eleitoral garantido substituiu a militância política por marqueteiros eleitorais.

    Essa direção sempre foi conservadora e via nas alianças com os velhos setores a chance de chegar ao poder sem mudanças políticas, demonstrariam como eles conseguiriam fazer bem a mesmice (Lula restituiu a âncora da economia brasileira via taxa de juros, ou esqueceram que o BC de Lula foi dirigido livremente por um banqueiro eleito deputado federal pelo PSDB, versão mais operacional de um Arminio Fraga).

    Nada se muda sem mudanças políticas e substituir a militância (eramos chatos sim, mas honestos e esperançosos) por acordos espúrios com o  que de pior originado na ditadura militar não trará avanços consolidados, viveremos sempre o risco das “migalhas que cairam dessas mesas de negociações” direcionadas para os oprimidos serem removidas pelos mesmos que participaram desses acordos posteriormente se lançarem aos braços de opositores.

    A alternativa de mudança política e corajosa nessa transição seria para cada votação do congresso, para cada decisão da Justiça (corrupta), mobilizarmos milhões e exigirmos avanços concretos ao invés de mensalão e cargos para o inimigo como se procedeu desde 2002.

  7. Certo, Certo. Pelos

    Certo, Certo. Pelos comentários então, o Prof. Cardoso com seu invejável currículo está errado (inclusive com as estatísticas apresentadas) e os comentários de pessoas não identificadas são as cheias de sabedoria e razão. Se enxergem.

  8. Realmente o viés

    Realmente o viés neodesenvolvimentista poderia ter sido uma das grandes melhoras do governo Dilma em relação ao governo Lula, cuja política industrial foi pontual e teve casos de resultado bastante questionável (notadamente a política de “campeões nacionais” do BNDES). No entanto, se as intenções eram boas, a execução infelizmente deixou a desejar em muitos aspectos. Complementando os argumentos do entrevistado, o que deu errado na política neodesenvolvimentista de Dilma?

    Câmbio

    O entrevistado apresenta uma teoria interessante no que diz respeito aos empresários ganhando com a arbitragem TJLP x SELIC, o que é completamente plausível. No entanto, há outros componentes que levam a um complô contra a desvalorização do Real, alguns inclusive já levantados pelo próprio Nassif: o processo de redução do valor agregado da produção industrial brasileira, com a importação cada vez maior de componentes, faz com que uma desvalorização do Real tenha um impacto muito maior nos preços de produtos nacionais que no passado. Eventualmente ocorreria um movimento de “renacionalização” de parte da produção, mas o governo teria que bancar um período possivelmente recessivo e de inflação ligeiramente mais alta, até que as coisas entrassem nos eixos. Nesse ponto, é evidente que o viés oposicionista da mídia somado à fraca base de apoio do governo são suficientes para barrar medidas que, embora necessárias no longo prazo, sejam potencialmente recessivas em um primeiro momento.

    Também acredito que o autor erra ao dizer que o câmbio valorizado é de interesse apenas da classe média “que viaja ao exterior”. Isso é ignorar o fato que as classe populares também têm consumido um grande volume de mercadorias importadas – uma visita a um dos diversos “camelódromos” espalhados pelo país é suficiente para demonstrar isso. Por outro lado, setores da classe média que trabalham em indústrias expostas à competição internacional percebem as consequências da valorização cambial na pele, enquanto outro setor não mencionado pelo autor que tira grande proveito do “Real forte” e que acaba tendo um papel relevante na definição da política monetária é a burocracia de Brasília, que já recebe vencimentos acima da médida da iniciativa privada e ainda não sofre concorrência internacional – e nem nacional, porque o instituto da estabilidade permite que muitos servidores públicos se acomodem e produzam muito menos que o justificável por seus polpudos salários.

    Por outro lado, acredito que o tamanho (e o interesse) da classe média na taxa de juros alta está superestimado. Grande parte desta classe média se beneficiou com a queda na taxa de juros, principalmente no que diz respeito aos financiamentos imobiliários. Tudo bem que isso coincidiu com uma alta – de acordo com muitos – especulativa nos preços, que acabou “comendo” parte da vantagem dos juros mais baixos. Mas a queda na taxa de juros se deixou sentir em outros tipos de financiamento (cartão de crédito, cheque especial, consignado), sem contar no grande acerto do governo em fomentar a competição ao reduzir os spreads dos empréstimos em bancos públicos.

    Na prática, o que tem ocorrido – não apenas na política cambial, isso é um comportamento recorrente no governo Dilma -, ao invés de ir no cerne do problema fica-se “tapeando” com medidas paliativas. Assim, o IOF no cartão de crédito sobe, o IOF para empréstimos sobe ou desce dependendo dos humores da taxa de câmbio, as regras para liquidação cambiam mudam, os impostos de importação sobem para evitar a “invasão” dos importados, a Receita pega no pé de que compra produtos no exterior pela Internet … tudo isso para não mexer em um dos principais fatores a afetar o valor da moeda: a taxa de juros.

    Por último, onde o governo errou e o que ele poderia ter feito diferente? Talvez uma redução “de pancada” na taxa de juros, no início do mandato, teria mostrado que os juros têm na realidade pouco efeito nos índices de inflação brasileiros (fato já explicado várias vezes pelo Nassif). Uma alta moderada nos preços em 2011 teria grandes chances de se dissipar até as eleições de 2012, minimizando o impacto eleitoral da medida. Além disso, a eventual alta no câmbio decorrente da queda nos juros iria resfriar a economia e diminuir pressões inflacionárias. Com o tempo, a viabilização de uma indústria exportadora permitiria a retomada do crescimento no PIB em bases muito mais sólidas que as que temos hoje.

    Política industrial

    O governo Dilma, com o correto diagnóstico em relação ao risco de desindustrialização (embora ele não possa admitir isso publicamente), lançou o Plano Brasil Maior para buscar o fomento à indústria nacional. No entanto, quais são os resultados de fato desse plano? Talvez o exemplo maior de política a ele relacionada é o Inovar-Auto, que essencialmente obrigou qualquer empresa que deseje ter um volume relevante de vendas no Brasil a montar uma operação nacional. É inegável que várias empresas estão se instalando no país por conta do programa, mas quais são os trade-offs? Os carros continuam caros e com nível de equipamentos e qualidade construtiva inferiores a seus concorrentes internacionais (à parte a lei do ABS e Air Bags). Os valores exportados continuam historicamente baixos, e há dúvidas se as novas indústrias são competitivas internacionalmente ou são apenas consequência de uma obrigação legal. Não seria muito mais simples ajustar o câmbio para valores mais competitivos e assim aumentar naturalmente a competitividade de todos os setores? Sem contar que o Inovar Auto, como outras políticas “neodesenvolvimentistas”, gera um overhead regulatório imenso, ao estabelecer uma série de procedimentos e regras a serem seguidos, para comprovar a produção nacional, receber créditos de IPI, cotas de importação livres de “IPI adicional” … um cipoal que interessa principalmente à burocracia estatal (que assim arruma o que fazer e justifica seus 14k de salário inicial – no caso dos servidores do MDIC e da Receita Federal) e aos escritórios contábeis e de advogados. Por último, a combinação da redução na taxa de juros e desvalorização da moeda possibilitaria a criação de alternativas de financiamento de longo prazo ao BNDES, diminuindo a necessidade do financiamento público à política industrial e liberando recursos do Tesouro para investimentos em infraestrutura e políticas sociais.

    Política de desoneração

    Aqui está, ao meu ver, uma das implementações mais confusas do governo Dilma, e mais um exemplo da tática “gradualista” de evitar grandes reformas e tentar “comer pelas beiradas”. Então, ao invés de se extinguir o PIS e o Cofins e eventualmente substituí-los por um aumento na alíquota do Imposto de Renda, são desonerados apenas alguns setores, e de uma forma que não necessariamente beneficia o setor como um todo. Sem contar que, novamente, as regras ficam cada vez mais complicadas, para o deleite da burocracia e dos escritórios contábeis e de advocacia.

    O casuísmo também tem sido um fator recorrente nas decisões relacionadas à política de desoneração fiscal. O exemplo mais emblemático é o dos combustíveis: com um medo quase atávico da inflação, a Fazenda desonerou a gasolina e o diesel. No entanto, isso teve efeitos nefastos: ao zerar a alíquota da CIDE, o governo tirou receitas importantes dos estados, que eram usadas na manutenção e recuperação de suas rodovias. Além disso, o mesmo processo tirou a competitividade da indústria do etanol, fato que foi combatido com outra desoneração, dessa vez para a indústria sucroalcooleira. No entanto, essa última não foi suficiente para restaurar a competitividade do álcool. Enquanto isso, ao manter a gasolina a preços inadequados, o governo consegue várias “façanhas”: aumentar a poluição e piorar os engarrafamentos, piorar as contas externas devido à importação de gasolina, descapitalizar a Petrobras, inviabilizar o setor de etanol (e o de biodiesel por tabela), degradar a situação das rodovias estaduais … tudo isso por causa da “marvada” inflação …

    No entanto, talvez o exemplo maior da confusão que o governo faz com sua política de (des)oneração fiscal é o IPI dos automóveis. Talvez porque o Inovar Auto seja uma das únicas políticas industriais que “decolou” (apesar dos questionamentos acima), fazendo com que o setor automotivo passe a ter uma proporção perigosamente elevada do PIB industrial do país, o governo não sabe mais o que faz com a política fiscal do setor, sendo pressionado de um lado pela STN, ansiosa por fazer superávit primário, e da indústria automobilística do outro, que exige a manutenção das alíquotas de IPI reduzidas. Sem contar que o setor está com tanto poder que por pouco não conseguiu emplacar a maluquice de adiar a lei do Airbag e do ABS, ou abrir uma exceção para a Kombi (gerando a sensacional pérola do Mantega: “Kombi não é veículo”). É de se perguntar se esse curioso conluio entre as grandes multinacionais automotivas e os sindicatos metalúrgios paulistas realmente tem sido bom para a economia do país …

    Serviços

    O entrevistado está correto em culpar os serviços por parte da alta da inflação, ele só não explicou o que permite tal alta, talvez porque parte da resposta é “politicamente incorreta”: é exatamente a queda na desigualdade de renda, particularmente por meio da valorização do salário mínimo, que dá fôlego para a inflação no setor de serviços! Longe de mim insinuar com isso que tal política não foi meritória (quem seria contra a redução na desiguladade?), mas é evidente que ela atua de duas formas no setor: aumentando seus custos, já que grande parte da mão-de-obra no setor recebe o salário mínimo, e ao mesmo tempo gerando um choque de demanda, uma vez que esse público passa a demandar serviços a que talvez não tivesse acesso anteriormente. Como não é possível importar serviços na maioria dos casos (embora uma certa liberalização na política migratória seria interessante para evitar bolhas em determinados setores especializados, como os de engenharia e medicina), as soluções para se evitar a inflação no setor são: aumento na produtividade e fomento à competição. O primeiro depende de melhoria na situação educacional, o que leva tempo (mas deve-se destacar o Pronatec como ferramenta potencialmente importante para a melhoria da produtividade no setor – uma das “bolas dentro” do governo Dilma). Uma simplificação das leis trabalhistas e dos impostos incidentes sobre a folha de pagamentos também seria bem-vinda, mas aí já se estaria mexendo em uma das “vacas sagradas” da legislação brasileira – a CLT, que apesar de ter vários dispositivos que na prática não são interessantes nem para os empregados, não pode ser mexida porque qualquer alteração seria uma “usurpação de direitos”. A quem interessa interditar a discussão? Como uma Lei elaborada nos anos 40 pode estar ainda atual no século XXI, considerando-se todas as alterações surgidas no mercado de trabalho nesses anos? Por último, em relação à competição, cai-se de novo no tema da taxa de juros: melhores condições de financiamento levariam à criação de mais empresas, mais concorrência e menor espaço à alta de preços. nos 

    Investimentos em infraestrutura

    Aqui eu acho que o entrevistado exagerou um pouco: embora há de fato um exagero dos órgãos de controle (e também dos de licenciamento ambiental) que acaba atrasando as obras, grande parte da baixa execução dos empreendimentos de infraestrutura do governo decorre da incompetência gerencial mesmo. No momento em que o PAC deixou de ser uma carteira prioritária de empreendimentos e foi expandido para praticamente todas as obras de infraestrutura do governo federal, explicitou-se a falta de capacidade de execução da burocracia de Brasília. Afinal, se tudo é prioritário, na prática nada é prioritário … Portanto, o apelo às concessões não é apenas uma forma de “se escapar” dos órgãos de controle, mas também da própria ineficiência do Estado. Sem contar que, em um momento de alta de juros e arrecadação oscilante, a capacidade de investimento do governo federal está severamente limitada.

    O futuro

    Considerando-se que a vitória da Dilma é praticamente certa, só podemos torcer para que ela: substitua sua equipe econômica por um time mais criativo, disposto a aproveitar o primeiro ano de mandato para disparar mudanças relevantes na política econômica, sem perder a legitimidade oferecida pela massiva votação na presidenta; reformule o PAC para que ele volte a ser uma carteira de empreendimentos realmente prioritários, e prossiga no modelo de concessões para os projetos que podem ser tocados de forma viável pela iniciativa privada; substitua, na política industrial, a atuação excessivamente setorial por um modelo que traga benefícios concretos para todos os setores; e, finalmente, coloque a mão no vespeiro da reforma tributária – mas eu acho que nesse ponto nem meus tataranetos vão ver um governante com a coragem para tocar essa agenda 🙁

  9. A análise do sociólogo

    A análise do sociólogo Adalberto Moreira é perfeita. Ele só se equivoca quando fala das origens oligárquicas de Eduardo Campos (PSB).

    Eduardo é neto do falecido ex-governador (de Pernambuco) Miguel Arraes de Alencar. Arraes e Pelópidas da Silveira (ex-prefeito do Recife,também já falecido) lideraram a chamada “Frente do Recife”, através da qual (na década de 1950) as esquerdas chegaram à Prefeitura do Recife em aliança com setores liberais ou conservadores moderados, mas com prevalência de uma visão social dos problemas a enfrentar como governantes e de políticas públicas para solucioná-los ou pelo menos minimizá-los.

    Essa frente ampliou-se e se transformou na “Frente Popular de Pernambuco”. Uma das primeiras e mais bem sucedidas alianças de centro-esquerda que acabou chegando ao Governo de Pernambuco (em 1962) com a vitória de Miguel Arraes (PTB) sobre o candidato da direita, João Cleofas (UDN), apoiado pelos poderosos usineiros da Zona da Mata Pernambucana.

    Arraes, advogado e funcionário de carreira do extinto IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool) iniciou sua carreira política como secretário da Fazenda do governo Agamenon Magalhães (PSD), que apesar de ser um político conservador (à direita) fez um governo de viés social, ao estilo getulista (construindo vilas operárias no Programa Social contra o Mocambo, para operários de fábricas da Região Metropolitana do Recife, porém sem incomodar os usineiros de açúcar e sua tradicional forma semi-feudal de conduzir seus negócios).

    Acostumados a tratar seus trabalhadores rurais (cortadores de cana) com extrema brutalidade e incomum desumanidade, os poderosos usineiros se viram fortemente contrariados com a chegada de Arraes ao governo (com apoio de comunistas, socialistas, cristãos progressistas  e liberais da direita moderada).

    No Sertão e no Agreste, onde não menos poderosos fazendeiros também comandavam com mão de ferro suas propriedades e onde os mais fortes economicamente via de regra se tornavam os coronéis (ou chefes políticos) de municípios de pequeno e grande porte, tampouco se agradaram com os ventos liberalizantes que a vitória de Arraes representava.

    Arraes seguiu à risca seu programa social de governo, que previa reformas em benefício dos trabalhadores rurais, que prometia tirá-los da condição de semi-escravidão em que encontravam. Sob seu governo foi assinado o histórico e emblemático “Acordo do Campo”, em que os “garbosos” e arrogantes usineiros e senhores de engenho, a contragosto sentaram-se lado a lado com as lideranças dos trabalhadores rurais e tiveram que pagar salário mínimo e garantir direitos até então negados a esses camponeses.

    Antes de Arraes era comum as questões sociais serem tratadas como caso de polícia em Pernambuco. O livro do ex-deputado estadual e promotor de Justiça Paulo Cavalcanti narra como, por exemplo, no município de Goiana, era comum trabalhadores rurais ligados aos sindicatos rurais serem perseguidos, torturados e em alguns casos até assassinados por usineiros e senhores de engenho da região canavieira.

    Muitos desses trabalhadores violentados em sessões de tortura eram “socorridos”, já mortos, em unidades hospitalares públicas e posteriormente encaminhados para o necrotério do Cemitério Público de Goiana com papéis amarrados a um dos dedos dos seus pés, dando conta da  suposta causa da morte: “morte por problemas de baço”.

    Nada era investigado, porque as lideranças políticas e as forças policiais, em geral, serviam como aparelho paramilitar dos usineiros e senhores de engenho. E usavam dessa condição para perseguir trabalhadores sindicalizados que se organizassem para reivindicar direitos trabalhistas.

    Também era comum os trabalhadores rurais e cortadores de cana das usinas e engenhos de açúcar serem obrigados a comprar nos chamados “barracões de usina” os gêneros de primeira necessidade que precisavam para se alimentar e sobreviver. O problema é que esses produtos eram vendidos a preços extorsivos, muitas vezes duas ou três vezes mais caros em relação ao preço em que eram vendidos nos “armazéns de secos e molhados” e nos mercados públicos das cidades da Zona da Mata.

    O que ocorria é que como os produtos eram caros e o salário dos trabalhadores muito baixos, em geral abaixo do mínimo, eles acabavam muitas vezes ao final do mês sem receber salários e ainda por cima devendo a usineiros e senhores de engenho. Dessa forma os seus patrões além de burlarem a legislação trabalhistas ainda os prendiam pela dívida, como se fossem semi-escravos ou servos da gleba do período feudal europeu.

    Pouco antes da posse de Arraes, e no apagar das luzes do governo (do também usineiro) Cid Sampaio (PSD) ocorreu o  chamado “Massacre da Usina Estreliana”, no município de Ribeirão, quando o  usineiro José Lopes da Siqueira Santos, proprietário da Usina Estreliana, chacinou com rajadas de metralhadora cinco trabalhadores rurais que foram exigir pagamento de diferença de salários, porque estavam com suas famílias passando fome.

    No governo Arraes sempre tentou intermediar acordos trabalhistas e determinou que a polícia fosse retirada das usinas, fazendas e engenhos. Que deixasse de servir como força paramilitar à serviço das elites e dos chefetes políticos dos municípios do interior pernambucano.

    Os trabalhadores passaram a receber salários melhores. E o comércio dos municípios polo da Zona da Mata melhorou sensivelmente, vendendo radinhos e pilha, relógios e móveis que os  trabalhadores antes não podiam comprar.

    Mas os “coronéis” do interior e a elite canavieira nunca perdoou Arraes. E esses segmentos de direita foram a ponta de lança civil do golpe militar que depôs Arraes em 1964. Preso e deposto pelos militares, e logo após um período de prisão no Arquipélago de Fernando de Noronha, Arraes seguiu para o exílio (parte na França, parte na Argélia) para garantir sua própria segurança e a segurança de sua família.

    Voltou em 1979 e recebido por uma multidão no Aeroporto dos Guararapes, no Recife, e posteriormente em um comício no Largo da Feira do bairro de Santo Amaro, no centro do Recife, Arraes disse que estava voltando “não para ser bonzinho para os militares”, mas para continuar sua luta em favor da unidade e libertação do povo brasileiro.

    Miguel Arraes de Alencar, que tomou posse em 1963 e foi apeado do governo em 1964, voltou a governar Pernambuco em outras duas oportunidades (1987 a 1990 e 1995 a 1998). Sempre investindo em programas sociais: como o Chapéu de Palha (voltado aos cortadores de cana, vítimas do desemprego sazonal da Zona Mata – e similar ao atual “Bolsa Família”); e como os programas de eletrificação rural e de perfuração de poços artesianos, que levou água e energia elétrica para pequenos municípios e para quase 90% das áreas rurais do interior pernambucano.

    Seus programas sociais ajudaram a reduzir as profundas desigualdades sociais no campo e nas pequenas e médias cidades de Pernambuco. Já que em Recife e municípios da Região Metropolitana da capital pernambucana os movimentos sociais e sindicatos de trabalhadores garantiam outros avanços.

    Foi dessa linhagem política que surgiu a liderança de Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes. E o único do clã Arraes que manifestou interesse em enveredar pela política partidária.

    Eduardo (ainda como estudante de Economia) participou do movimento estudantil na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) na década de 1980. E no segundo governo do avô (1987-1990)foi seu oficial de gabinete.

    No terceiro governo de Miguel Arraes (1995-1998), já com experiência parlamentar acumulada como deputado estadual e deputado federal, Eduardo Campos foi nomeado para secretário da Fazenda. E nesse posto foi fiador do polêmico episódio dos “precatórios” que custou a derrota eleitoral de Miguel Arraes (em 1998) para o ex-aliado Jarbas Vasconcelos (PMDB), capitaneando uma aliança de centro-direita, com PFL  e PSDB em seu palanque.

    Apesar do baque eleitoral, Arraes ainda chegou a dar a volta por cima, elegendo-se como um dos deputados federais mais votados, pelo PSB, em 2002, praticamente sem fazer campanha, e apenas fazendo pequenas caminhadas em feiras livres das cidades da Zona da Mata, Agreste e Sertão. Eduardo também se elegeu deputado federal na mesma eleição. E depois foi nomeado por Lula para ministro da Ciência e Tecnologia.

    Já ex-ministro, Eduardo lançou-se ao Governo de Pernambuco em 2006, derrotando Mendonça Filho (PFL), vice de Jarbas Vasconcelos, e vingando a derrota eleitoral do avô em 1998.

    No governo, embora mantendo alguns programas sociais do avô, como o Chapéu de Palha, a pretexto de “modernizar” o “arraesismo” Eduardo adotou experiências privadas de gestão. O que o aproximou do meio empresarial e lhe rendeu críticas dos antigos aliados dos sindicatos rurais e dos movimentos sociais contra essa sua lógica, tida como conservadora (de direita), de “choque de gestão” e “governo de resultados gerenciais”.

    Embora aliado do “lulismo”, Eduardo rompe aliança com o PT nas eleições para a Prefeitura do Recife. Profundamente rachado o PT lança o senador Humberto Costa para a sucessão do prefeito João da Costa (que não conseguiu encaminhar seu próprio processo de reeleição dentro do PT). E aproveitando dessa divisão o governador Eduardo Campos acabou emplacando seu aliado Geraldo Júlio (PSB), elegendo-o prefeito do Recife.

    A patranha fez Eduardo Campos sonhar com voos mais altos, rumo ao Palácio do Planalto. E é a partir daí que exercita certa “dissidência” em relação ao governo Dilma e ao chamado “lulo-petismo” (com o qual os conservadores desdenham dos governos trabalhistas do PT). Dissidência essa que logo se transforma em oposição frontal, que leva Eduardo a postular uma candidatura presidencial em aliança com a ex-petista Marina Silva (que não conseguiu oficializar o registro de seu partio – Rede).

    Eduardo tem feito acordos e conjecturas heterodoxas e perigosamente contraditórias para a biografia de seu avô. Mas dizer que ele vem de linhagem oligárquica é no mínimo um grave equívoco ou desconhecimento contextual da dinâmica da política pernambucana. Pois embora fazendo alianças pontuais com poucas dissidências de oligarquias interioranas, Arraes jamais foi um oligarca, ao contrário, ajudou e muito para enfraquecer o poder das oligarquias mais reacionárias e à direita, que sempre fizeram política clientelista para se firmar no governo. Mas sem jamais avançar socialmente em nenhum aspecto.

    O problema é que ideologicamente Eduardo está a se movimentar como barata tonta. Critica Dilma de um lado, mas está tendo dificuldade de dizer a que veio e que propostas diferentes teria para “fazer mais” do que fez e vem fazendo a líder petista. O que se vê é uma perigosa aproximação dele com proeminentes lideranças da direita mais reacionária (como o catarinense Jorge Bornhausen) e com economistas e pensadores neoliberais contemporâneos, o que faria corar o seu avô (Miguel Arraes).

    Na verdade esse camaleonismo de Eduardo está mais confundindo do que propriamente definindo um norte de governo. E em certa medida o afasta de segmentos de esquerda dos quais sempre foi aliado. O caso do escritor Ariano Suassuna (um histórico eleitor do “arraesismo” e apoiador de primeira hora de Eduardo) que já sinalizou apoio à reeleição da presidente Dilma é emblemático neste sentido. O renomado escritor diz que vota “a favor do Brasil” e não contra Eduardo, e que o jovem líder do PSB ainda terá sua chance de chegar  à Presidência.

  10. Crianças, lição de como

    Crianças, lição de como identificar um “pensador” que está mais para o lado da idologia do que da crítica. 

    Este sociólogo pode ter dezenas de livros e doutorados em qualquer parte do mundo. Isso não interfere em bons conteúdos. Quais são os benefícios do primeiro mandato do FHC que ele mesmo aponta? País financeiramente estável, abertura da economia, automento do emprego etc. Quais são os malefícios do governo Dilma que nós vivemos hoje? País financeiramente instável, fechamento da economia, inflação mais alta deste a criação do plano Real etc. Em suma, quando ele diz que “Dilma foi punida por conluio da classe média e setor de serviços”, ele está dizendo: “Oi, leitor, eu sou petista, eu sou da Dilma, e vocês não podem criticá-la; se o fazem, ela passa a ser a vítima, enquanto o FHC do segundo mandato, que se assemelha muito ao atual governo da Dilma, é o vilão, mas a Dilma não é vilã, ela é vitima”. 

    Aprenderam na aula de hoje, crianças? Qualquer pessoa que se preze a ideologia transparece contradições internas, pois a verdade não pode encontrar morada em ideias má intencionadas…

    1. Esse menino, volta pra escola

      Esse menino, volta pra escola e aprende a ler mais um bocado antes de escerever estultices. Veja o que o autor da entrevista disse sobre o governo FHC: “O primeiro foi mais claramente neoliberal, com políticas de abertura da economia. Todo o receituário neoliberal, com muita intensidade, foi implementado. No segundo, deu-se um passo adiante, do meu ponto de vista ainda mais equivocado. O primeiro mandato teve a virtude de ter controlado a inflação a um preço muito alto, que foi o do emprego formal, industrial. O Brasil entrou numa rota de desindustrialização a partir de 1995, 1996, que só se aprofundou com o tempo. Chegou-se ao final do segundo mandato com 40% de emprego formal. O emprego industrial, que tinha atingido 22%, foi para 11% da PEA. Houve uma desindustrialização dos empregos e um aumento brutal do desemprego. O custo social das políticas adotadas foi muito alto. As pessoas se esquecem de que o Brasil estava numa rota de dolarização quando Lula ganhou a eleição. O projeto de FHC era de dolarização da economia. Armínio Fraga já tinha transformado quase 40% da nossa divida interna em nominada em dólar, expondo profundamente a economia às intempéries internacionais”. (grifos meus)

  11. Correção: Dilma foi punida

    Correção: Dilma foi punida por ser fraca e não ter pulso para administrar a economia

    Quando em 2003 Lula decidiu seguir uma agenda econômica totalmente diferente de FHC, decidindo por juros baixos, todo o mercado criticou  ferozmente. E qual foi a reação dele? Ignorou e manteve o rumo, com grande sucesso. Lula tinha pulso para seguir até o fim um plano de Governo a que se propôs. Por isto no final de seu mandato a economia cresceu a 7,5%, com a inflação sob controle.

    Dilma também tentou abaixar os juros, mas ao primeiro sinal de aumento inflacionário recuou indecisa. Uma mulher sem pulso, sem convicção do que faz, que se tornou refém do rentismo, uma marionete nas mão do mercado.

    Por isto o país cresce menos do que a América Latina.

    Se tivessemos uma oposição decente neste país ( risos), uma terceira via inteligente, com certeza Dima não seria a favorita nestas pesquisas. Em terra de banguela quem tem um dente é rei.

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