Futebol brasileiro: lucro para especuladores ou projeto de desenvolvimento?, por Marcos Dantas

Em resumo, o que está em disputa é qual será o conglomerado especulativo que vai dar as cartas no futebol brasileiro, no século XXI.

Futebol brasileiro: lucro para especuladores ou projeto de desenvolvimento?

por Marcos Dantas[1]

O jornalista Rodrigo Capelo, em sua coluna n’O Globo de 6 de janeiro, destampou o real impasse que vem impedindo a constituição de uma liga de futebol dos clubes brasileiros, similar às que existem na Espanha, Inglaterra, Alemanha, outros países. Os nossos principais clubes se dividiram em dois grupos: a Libra e a Forte Futebol. Por trás da primeira, encontram-se o Codajas Sports Kapital e o BTG. Por trás da segunda, o escritório de advocacia Alvarez & Marçal, a Live Mode e o XP. Mas atrás do primeiro grupo está o fundo financeiro árabe Mubadala. E atrás do segundo grupo, o fundo financeiro estadunidense Serengeti. Em resumo, o que está em disputa é qual será o conglomerado especulativo que vai dar as cartas no futebol brasileiro, no século XXI.

O Brasil já foi (e pode voltar a ser) a 6ª maior economia do mundo. Atualmente, graças aos desastrados governos Temer e Bolsonaro, caiu para a 12ª. Mesmo assim, o PIB brasileiro mais ou menos empata com o da Coréia do Sul (é pouco superior segundo o FMI, pouco inferior segundo o Banco Mundial), é 500 milhões de dólares superior ao da Espanha, quase alcança o da Itália (100 milhões de dólares a menos), ficando naturalmente bem atrás das economias dos Estados Unidos, China, Alemanha, Reino Unido ou Japão.

No mundo futebolístico, sabemos que Alemanha e Reino Unido são grandes potências econômicas. Itália e Espanha também são. A pergunta é: por que o Brasil não pode ser, pelo menos, uma potência econômica futebolística do nível de Itália e Espanha, sobretudo considerando que em termos de futebol, enquanto esporte, sem dúvida, é superior a todos os quatro países citados neste parágrafo, considerando as conquistas mundiais de sua seleção e grandes clubes, a importância histórica de seus maiores craques, até mesmo a quantidade de atletas brasileiros (e, também, brasileiras) que atuam em times, no exterior, sobretudo na Europa? Basta lembrar que na última final da Liga dos Campeões da Europa, entre Real Madrid e Liverpool, em maio passado, estavam em campo, pelos dois times, cinco atletas brasileiros, e outros três nos respectivos bancos.

A resposta passa por muitos fatores, claro, mas um deles pode ser entendido como falta de projeto nacional. De umas décadas para cá, aceitamos como tão natural quanto o céu azul, exportarmos nossos melhores jogadores para a Europa e outros lugares, assim como também aceitamos voltarmos a ser, basicamente, exportadores de produtos primários, rebatizados como “commodities” para ficar mais bonitinho…

O futebol e também outros esportes, gostemos ou não, tornaram-se neste século XXI, uma poderosa atividade econômica. Estudos internacionais indicam que os esportes movimentam hoje em dia cerca de 1% do PIB mundial. No Brasil, um estudo elaborado para a CBF, informa que o futebol movimentou em 2018, 0,7% do PIB brasileiro. Temos cerca de 90 mil atletas praticando profissionalmente esse esporte. Como, em torno dos atletas, mobilizam-se técnicos, preparadores, assessores, também prestadores de serviços de segurança, limpeza, transportes etc., talvez umas 300 mil pessoas, ou mais, vivam do futebol em nosso país, sem falar das famílias cujas rendas dependem dos ganhos desses jogadores.

Quando se pensa em ganhos dos jogadores, vem à cabeça os salários astronômicos de um Neymar ou Gabigol. Ilusão. Segundo aquele mesmo estudo[2], somente 350 atletas, ou 0,004% de 90 mil, no Brasil, ganhavam mais de R$ 50 mil por mês, e apenas 13 faturavam acima de R$ 500 mil. Ao contrário, 55% dos atletas recebiam o equivalente a um salário mínimo e 33%, de mil a 5 mil reais mensais. São trabalhadores que não estão ganhando mais do que o necessário ao sustento imediato da família e, adiante, quando o corpo não mais permitir a prática profissional do esporte, terão que buscar algum outro meio, possivelmente precário, de sobrevivência.

Os atletas, sejam os poucos muito bem pagos, seja a grande maioria mal paga, trabalham em algum “clube”. Quase todos os “clubes” são entidades centenárias, nascidas no tempo do esporte amador e lúdico, definidas como de “utilidade pública”, sem fins lucrativos, voltadas para oferecer também, não raro principalmente, ambientes de lazer e diversão para os seus sócios. Esses “clubes” são administrados por  dirigentes amadores, eleitos por uma elite de sócios, detentores de títulos patrimoniais, beneméritos ou equivalentes. No entanto, esses dirigentes amadores, para sustentarem a estrutura profissional do futebol, precisam se meter em negociações que envolvem muito dinheiro, com emissoras de TV, anunciantes nos uniformes, contratos e transferências de atletas etc. É óbvio que, intermediando tais negociações, ninguém é amador…

A contradição entre esse falso amadorismo e a realidade capitalista do futebol brasileiro, levou os nossos “clubes” a enfrentar cada vez mais graves crises financeiras, inadimplências fiscais, daí deterioração crescente na qualidade de seus próprios times. Vender jovens e promissores atletas para o exterior, tornou-se uma solução “natural” e alguns “clubes” passaram mesmo a se especializar em formar jovens visando exportação. O que não impediu “clubes” tradicionais, com torcidas relevantes e muita história, como Botafogo, Vasco da Gama, Cruzeiro, Grêmio se tornarem frequentadores habituais da segunda divisão.

Essa decadência tem duas graves consequências. A primeira é identitária: a criança que começa a se interessar pelo futebol, como toda criança, passa a admirar atletas estrangeiros ou no exterior, assim como, naturalmente, os clubes onde jogam, também os seus países. Nesta última Copa, não poucos brasileiros e brasileiras preferiram torcer pela Argentina, algo, no futebol, inimaginável há alguns anos, nem sempre pelo ranço que passaram a sentir da nossa politicamente enxovalhada camisa amarela, mas por se terem tornado fãs de Messi. Tínhamos orgulho do nosso futebol, dos nossos clubes, do nosso país por causa, entre outras, do nosso futebol. Era o momento em que nos afirmávamos como superiores no mundo, daí podíamos acreditar que também seríamos superiores, mais cedo ou mais tarde, em tantas outras atividades. Precisamos recuperar o lugar do futebol no imaginário brasileiro como fator de identidade e amálgama nacional.

A segunda consequência é propriamente econômica. É a perda da oportunidade de a 12ª economia do mundo (que poderá voltar a ser a 6ª) incorporar a economia do futebol no projeto de reconstrução nacional que estamos encetando no Governo Lula, e que precisará ser projetado para o século XXI, não para reinvestimentos no passado.  Para tal, precisamos  entender o futebol como um negócio. Dirijo-me, obviamente, aos que ainda têm visão romântica do esporte, pois tipos como John Textor ou Ronaldo Nazário já entenderam isso há muito tempo.

Entender o negócio. A principal fonte de renda dos “clubes” é sua torcida. Porém, não mais no significado usual de “torcida” mas como audiência. Explico. Se empresas imprimem suas marcas em camisas e demais peças de uniforme de “clubes” é porque sabem que elas, as marcas, serão visualizadas por milhões de pessoas que assistem, pela televisão, às partidas. É a “torcida” enquanto audiência que atrai o investidor publicitário. Por óbvio, o tamanho da torcida “precifica” o anúncio estampado nos uniformes. Quanto maior a torcida, mais os espaços na camisa, calções, outros adereços, são caros. E quanto mais caros os espaços no uniforme, mais o “clube” pode contratar jogadores igualmente caros – e bons. Por isso são caros. E quanto mais jogadores caros e bons o “clube” contrata, mais torcedores ele conquista. Quanto mais torcedores, ou melhor, audiência, mais caro é o espaço na camisa. Assim, por efeito recursivo, observa-se no Brasil e no mundo crescente processo de concentração da riqueza futebolística em alguns poucos “clubes”.

Sabemos que o Flamengo é o clube com maior torcida em todo o Brasil, seguido por Corinthians, São Paulo, Palmeiras e demais. Essa liderança se reflete nos valores que podem cobrar para estampar marcas de patrocinadores em seus uniformes. Em 2022, os anúncios somados no uniforme do Flamengo, oito ao todo, superavam R$ 132 milhões. Em seguida, com nove anunciantes, vinha o Corinthians, faturando R$ 111 milhões. Seguia-se o Palmeiras, com apenas dois anunciantes na camisa que, porém, lhe pagavam R$ 81 milhões[3].

Por que o objetivo do negócio-futebol é a audiência, o espaço do espetáculo futebolístico não é o estádio embora assim pareça, mas a televisão e, cada vez mais, os canais de streaming. O alvo da publicidade não pode se limitar às 20 mil, 30 mil, 100 mil pessoas que frequentam algum estádio de futebol. A publicidade quer atingir milhões, até bilhões de seres humanos, como nas finais de Copa do Mundo. Assim, o “clube”  negocia os direitos de transmissão dos seus jogos com o meio que vai, de fato, levar suas camisas – e os corpos dentro delas – à maior audiência possível. Como se viu durante a pandemia, jogo de futebol sem público nos estádios é até possível, mas, para o capitalismo, não é possível ficar-se sem jogo de futebol transmitido pela TV pois é por ela que os anunciantes realmente atingem seus consumidores e, com ela, os “clubes”, sobretudo os maiores, bancam os seus altos custos.

O futebol, como outros esportes, organiza, desse modo, uma cadeia produtiva que gera enorme valor. O trabalho que produz esse valor é o do atleta. Ele atrai a atenção da audiência. São suas qualidades que “precificarão” o espetáculo futebolístico para as emissoras de TV, os anunciantes publicitários, os investidores nos “clubes”. A partir do jogador ou jogadora, desenvolve-se toda uma indústria de material esportivo que, explorando a imagem do atleta, torna camisas, tênis, outros objetos, mercadorias de uso costumeiro na nossa sociedade. Adidas ou Nike não produzem camisas de time ou tênis apenas para o uso dos jogadores mas para vendê-las a um imenso público consumidor que, ao usá-los, expressa suas identidades ou pertencimentos não somente com o atleta ou time, mas com a própria sociedade consumista em que vivemos; expressam-se como parte integrante dessa sociedade.

Para que o jogo de futebol possa ser assistido, são necessários aparelhos de televisão ou celulares, além de um amplo e sofisticado sistema mundial de telecomunicações. Uma gigantesca indústria eletro-eletrônica que, desde fins do século XX, passou a ser, em grande parte, dominada pelo Japão e Coréia, incube-se dessa parte. O futebol precisa dessa indústria, essa indústria precisa do futebol. Geralmente, as Copas do Mundo ou Olimpíadas são os momentos de lançamento de “novas tecnologias”, “novos modelos”, e substancial incremento nas vendas.

Os jogos precisam de estádios, mais recentemente renomeados “arenas”. Logo, envolve todo o ramo da construção civil e seus fornecedores. O público que pode frequentá-los também é um público para a televisão, tanto quanto as platéias de programas de auditório. A própria arquitetura da “arena”, mais compacta que a dos velhos estádios, aproximando arquibancadas e campo, deve servir para as tomadas de imagens de TV, bem como seus frequentadores: jovens bonitos, sobretudo bonitas, apropriados às mensagens associadas ao consumismo e seus anunciantes.

Por tudo isso, o elo determinante da cadeia produtiva são as corporações de comunicação, proprietárias dos canais de TV ou de streaming. Elas comandam o espetáculo, para elas é produzido o produto, digo, mercadoria. No mundo, hoje, as transmissões de futebol e mesmo de outros esportes são praticamente dominadas por canais de TV ou streaming controlados por três corporações estadunidenses: Time-Warner, Disney e Fox. Elas adquiriram a maioria dos “direitos de transmissão” de jogos e torneios na Europa, Estados Unidos, América Latina, os mundiais da FIFA, as Olimpíadas do COI. No Brasil, a Globo ainda disputa com essas corporações estrangeiras, um lugar ao sol, graças ao seu conhecimento do mercado interno e às suas relações políticas no futebol brasileiro[4].

Por trás dessas corporações, encontra-se o capital financeiro. E, no geral, os mesmos grupos de investimento controlam cerca de um terço ou mais do capital acionário de cada uma delas, caracterizando evidente concentração e centralização de capital. Vanguard Group, BlackRock, State Street, FMR/LCC e Fidelity detinham somados, em 2018, cerca de um terço das ações da Walt Disney Co., da Time Warner, da 21st Century Fox. Do mesmo modo, à frente dessa mercantilização definitiva do futebol e de outros esportes, também se encontra o capital financeiro: afinal o que são os “fundos soberanos” árabes donos do PSG e outros clubes europeus; John Textor, dono do Botafogo no Brasil e do Lyon, na França; o chinês Zhang Jindong, dono da Inter de Milão; e tantos outros personagens que emergiram nos últimos anos determinando os destinos de times e atletas, se não investidores ou especuladores (se preferirem) financeiros? A velocíssima rentabilidade dos negócios com futebol atrai esse capital volátil. Essa é a tsunami que avança sobre os esportes, até agora incontrolável. Se não poderá ser contida, ao menos, talvez, possa ter seus efeitos mais desastrosos, controlados.

Ligas que não dão liga. Não é pois nada casual que dois projetos de ligas estejam disputando o monopólio financeiro do futebol no Brasil, como informou Capelo. Libertar o futebol brasileiro do pseudo amadorismo das CBF e federações estaduais é uma necessidade. Mas deixá-lo cair, com total liberalidade, nas mãos do capital sem pátria, não deveria ser um destino manifesto…

 Nos últimos dois anos, alguns “clubes” brasileiros entregaram a gestão e renda de seus times de futebol a “sociedades anônimas futebolísticas” (SAFs), nos termos da lei 14.193/2021. A exceção, até agora, do Cruzeiro, cujo controle da SAF foi adquirida pelo ex-jogador Ronaldo Nazário, todos os demais passaram a ser propriedade de algum investidor estrangeiro, não raro detentor também de outros clubes, no exterior. Recentemente, vimos algumas das consequências desse tipo de arranjo, na transferência do jogador Jeffinho, do Botafogo, para o Lyon da França, ambos controlados pelo mesmo investidor, John Textor.

A lei das SAFs poderia ser uma boa saída para modernizar empresarialmente o futebol brasileiro, livrando-o dos dirigentes “amadores”, se não tivesse sido idealizada, pelo lado dos “clubes”, como mais uma tentativa de resolver seus crônicos déficits financeiros e fiscais. Se tivesse sido pensada para tornar o futebol brasileiro internacionalmente competitivo e, por via da consequência, não deficitário, um Textor qualquer não poderia adquirir 90% da SAF do Botafogo, só para ficarmos no exemplo que mais frequenta os noticiários, muito menos plantar algum atleta nesta ou naquela equipe de sua “propriedade” apenas para, com isso, movimentar milhões de dólares no mercado das finanças fictícias.

Para pensarmos o futebol e outros esportes como indústria, o novo e promissor Governo Lula precisará intervir nesse cenário até agora exclusivo de negócios pouco claros. E tem poderosos instrumentos para isso: afinal tem dinheiro (governo tem sempre dinheiro) e dinheiro sempre atrai “interesses” como a lâmpada atrai mariposas.

Para começar, é necessário corrigir os equívocos da lei das SAFs, aproveitando que Textor e outros já estão falando em mudá-la[5]. O governo deve se empenhar em aprimorar essa lei que, por enquanto, contempla apenas os interesses dos investidores e, até por isso, pode encobrir todo o tipo de picaretagem que, infelizmente, cerca e vai continuar cercando o futebol. Alguns pontos:

1) decisão opcional. A transformação do “clube” em SAF é opcional, ou seja, depende das vantagens ou desvantagens percebidas pelos dirigentes “amadores” nessa mudança. E, na prática, acaba dependendo do tamanho do déficit que esses mesmos dirigentes criaram ao longo de anos. A transformação do futebol em empresas capitalistas precisa ser geral, compulsória, sem exceções, independentemente dos interesses e vontades dos atuais dirigentes dos “clubes”. Precisa ser parte de um projeto de País, não instrumento para resolver dívidas geradas por dirigentes mal intencionados e juridicamente irresponsáveis.

2) controle. A lei atual praticamente permite a “venda” de todo o futebol de um “clube” para um único investidor, podendo este ser indivíduo ou empresa. Estabelece um limite mínimo de 10% do capital que continuará pertencendo ao “clube”, na forma de ações “classe A”, que dão ao “clube” o poder de vetar certas decisões do sócio controlador, caso possam descaracterizar a  relação de identidade entre o time de futebol e seu “clube” de origem. A lei deveria estabelecer que metade do capital da SAF será detida pelo “clube” de origem, como é, por exemplo, na Alemanha. Esse capital poderia ser subscrito pelo valor dos “intangíveis”: marca, torcida etc., mas nunca pelos bens patrimoniais do próprio “clube”, como a lei atual permite para cobrir aqueles 10%. Assim o “clube” teria, na forma de dividendos e outras remunerações, direito a também metade dos lucros, os quais seriam obrigatoriamente aplicados na quitação de débitos fiscais e previdenciários, até liquidá-los, e em outras obrigações de natureza educacional-cultural que os “clubes” precisariam assumir.

3) desnacionalização. A lei atual não estabelece qualquer vedação à aquisição de times brasileiros por investidores estrangeiros, sejam indivíduos, sejam empresas. Será necessário proibir o investimento estrangeiro em nosso futebol ou, pelo menos, impor algum limite (10%?, 20%?) a esses investidores.

4) programas educacionais e culturais. A atual lei não diz nada a respeito, mas parte dos lucros a serem revertidos aos “clubes” de origem, deveria ser aplicada em esportes amadores e olímpicos, na formação de atletas, inclusive fornecendo meios e condições para os(as) jovens atletas  frequentarem escolas básicas de qualidade.

5) desenvolvimento e identidade nacional. A lei também não está nada preocupada com aquelas relações indicadas acima do futebol com toda a economia, bem como com a cultura nacional. Seja como forte fator de identidade nacional, seja pelos efeitos multiplicadores de sua cadeia produtiva, o futebol pode ser visto como um dos investimentos axiais em um novo modelo de desenvolvimento projetado para o século XXI.

Aqui entra a grande questão: como atrair ou viabilizar os investimentos? Ora, o 12º PIB do mundo possui poderosos grupos industriais, agroindustriais e bancários que poderiam ser incentivados a entrar no negócio futebol. Não preciso citar nomes. E para estimulá-los, o governo poderia acionar o BNDES, como parte de sua nova política desenvolvimentista, para colocar seus instrumentos a serviço também desse programa. Trata-se, pois, de pôr a mente para funcionar de modo criativo e elaborar um projeto abrangente e consistente.

O objetivo seria, a médio prazo, fazer do nosso futebol exportador, não de atletas, mas das imagens desses atletas atuando nas próprias “arenas” brasileiras –também favorecendo o balanço de pagamentos com as rendas daí derivadas. Assim voltar a fazer as nossas crianças e jovens se orgulharem e se identificarem com nossos jogadores e clubes. Sem falar de milhares de jovens, rapazes e moças, que poderão ver no futebol e também em outros esportes, perspectivas de emprego e carreira muito melhores do que entregar encomendas de comida no lombo de bicicletas ou motocicletas pelas ruas precárias de nossas cidades.


[1] Professor Titular (aposentado) da UFRJ

[2] EY/CBF. Impacto do futebol brasileiro, 2018, disponível em https://conteudo.cbf.com.br/cdn/201912/20191213172843_346.pdf, acesso em 19/12/2022

[3] BORTOLOTI, R. e BELOTI, V. (2022). Com novo patrocínio, Flamengo ganhará R$ 132 milhões em parcerias na temporada, Coluna do Fla, 27/08/2022, disponível em https://colunadofla.com/2022/08/com-novo-patrocinio-flamengo-ganhara-r-132-milhoes-em-parcerias-na-temporada/, acessado em 20/12/2022

[4] MOURA, Denise. Capital financeiro e espetáculo: o controle do futebol por corporações mediáticas, In DANTAS, M., MOURA, D., RAULINO, G., ORMAY, L. (2002). O valor da informação: de como o capital se apropria do trabalho social na era do espetáculo e da internet, São Paulo: Boitempo, 2022, pgs. 213-268.

[5] “SAF deve voltar a ser discutida no Congresso”, O Globo, 27/01/2023, disponível em https://oglobo.globo.com/blogs/panorama-esportivo/post/2023/01/saf-deve-voltar-a-ser-discutida-no-congresso.ghtml, acesso em 06/02/2023; “John Textor diz que Botafogo não pagará mais o RCE e dispara contra lei do SAF: ‘está quebrada'”, Yahoo Esportes, disponível em https://esportes.yahoo.com/noticias/john-textor-diz-que-botafogo-002413129.html, acesso em 06/02/2023

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2 Comentários

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  1. Concordo com a maior parte da opinião neste artigo. Com uma grande divergência: os clubes sociais não tem mais relevância alguma. No passado os times puderam ser reconhecidos por estamparem signos de um clube esportivo. Hoje é o contrário, o time de futebol é que carrega o clube. O time que eu torço faz imenso esforço para reduzir sua dívida. O futebol conseguiu eliminar o déficit, mas o clube social continua deficitário e não há meio de resolver. O artigo defende excessivamente os clubes, que são os principais responsáveis por impedir o desenvolvimento do futebol. A lei das SAF deveria incentivar torcedores a se tornarem acionistas, não existe maior convergência de interesses possível. Mas a lei e as federações dão maior poder decisório aos clubes pequenos, irrelevantes e som pouquíssimos torcedores. Os times de grande torcida são os que podem liderar um maior desenvolvimento do futebol, mas as regras os colocam em confronto com pequenos e oportunistas.

  2. Tá fogo… numa única edição desse GGN, Economia não é mais Economia (https://jornalggn.com.br/coluna-economica/romper-a-camisa-de-forca-do-bc-exige-estrategia-e-menos-rompantes-por-luis-nassif/), Jornalismo não é mais Jornalismo (https://jornalggn.com.br/midia/crise-que-envolve-banco-central-e-governo-expoe-jornalistas-de-economia-por-sidney-rezende/) e agora Futebol não é mais Futebol…

    Ufa! Ainda bem que não tem nenhuma matéria sobre Direito, Medicina, Arquitetura, Engenharia, Farmácia etc., porque se tivesse, também descobriríamos que nada disso é o que se propõe a ser, está tudo reduzido a dinheiro, em última análise, poder.

    E ainda há quem diga que o capitalismo pode, sim, dar certo. (Isso quando não dizem que apenas o capitalismo estimula o necessário para produção de conhecimento, de arte, de técnica…)

    – “O que você vai ser quando crescer, meu filho?”
    – “O que der mais dinheiro.”
    – “Bom menino, é assim que se fala!”
    – “Poupe-me de elogios. Minha parte em dinheiro, pai.”

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