Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
[email protected]

Wilson e a saga do politicamente correto, por André Araújo

Wilson e a saga do politicamente correto

por André Araújo

Sob a capa das boas causas imensos males são causados na História. O Presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson pode ser considerado o pai moderno da “política de causas” conceito oposto à política da realidade ou “realpolitik” na expressão germânica.Vem de um conceito que nasceu com Maquiavel e foi aperfeiçoado por Talleyrand, Metternich e Bismarck.

Ao fim da Primeira Guerra, tendo os EUA nela entrado no penúltimo ano, Wilson foi uma espécie de árbitro da paz.

Como os EUA estavam em melhor situação política e econômica dos que as potencias européias dilaceradas pela guerra, Wilson sentiu-se o “paladino da paz”.  Nesse papel de apóstolo de causas criou as bases “morais” e irrealistas da paz na Europa, os chamados “14 PONTOS”, uma cartilha de boas intenções longe da realidade possível.

Com base nos seus princípios de uma nação para cada povo criaram-se nações inviáveis e estopins de guerras futuras, como a Tchecoslováquia e a Iugusolávia. Wilson tinha horror aos impérios centrais, enfraqueceu a Alemanha, enterrou o Império Austro Húngaro e esfacelou o Império Otomano. Nos seus vácuos preparou-se a Segunda Guerra.

Wilson foi também o fundador da doutrina da “transparência”: os governos não deveriam ter segredos, tudo precisaria ser levado ao conhecimento do povo, proibiu os “protocolos secretos” essenciais aos Tratados.

Nasceu com Wilson a política exterior de causas contra a diplomacia realista herdada de Talleyrand e Metternich.

Seus esforços delirantes e de um mundo de Poliana não foram aprovados pelo seu próprio Congresso. O Tratado de Versalhes, a constituição da paz na Europa e a Liga das Nações, eixo central de sua política de causas, não foram validados pelo Congresso de seu próprio Pais. Os EUA não acreditaram na obra de seu Presidente.

O princípio do “politicamente correto” é o ninho da serpente das cruzadas moralistas, das “primaveras democráticas” americanas que hoje desintegraram o Oriente Médio. Ao combater um tipo de mal (Sadam, Kaddafi e Assad) criaram males muito maiores que aqueles que visavam combater.

O pior é que o “politicamente correto” nascido nos Estados Unidos contaminou o mundo. Eles deram força excessiva a minorias e moralistas e, na esteira, provocam a implosão de Estados Nacionais hoje divididos como nunca.

Jimmy Carter foi herdeiro de Wilson e igualmente governou por “causas”, avaliado como mau Presidente até hoje.

Wilson teve um fim complicado. Sofreu um derrame mas não deixou a Presidência. Por um certo tempo, até o fim de seu mandato, o Pais foi governado por sua segunda esposa, Edith Bolling, que passava aos Ministros as supostas ordens de Wilson que só ela conseguia captar.

Na História da humanidade mais massacres, destruições, revoluções e rupturas de sistemas políticos foram causadas por “apóstolos moralistas” do que por tiranos. O tirano costuma ser racional na sua ambição, já o cruzado moralista, inspirado por fervor cívico-religioso, não mede o mal que causa em nome de sua visão apoteótica, sempre irrealista.   

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

18 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. wilson….

    Caro sr. André, não é o fenômeno que tomou conta do Brasil? Não entramos de cabeça neste catastrofismo para doar a Amazônia a interesses estranhos a nosso povo e nosso país? Precisamos salvar o mundo. Bradam ongs, anunciois publicitários, governos e empresas estrangeiras. A bondade de suas açôes são propagandeadas em todos os lugares, de shoppings centers a favelas, ambientakmente bem estruituradas.  

    1. Moralismo, ecologismo,

      Moralismo, ecologismo, direitos humanismos, transparentoides, cruzadas anticorruptas, são instrumentos do JOGO DO PODER, a “causa” é a justificativa, a “praxis” e a desenfreada busca pelo poder na linha nós somos os “bons”, eles são os”maus”, a midia interesseira e o povão cego seguem a onda.

  2. O politicamente correto não

    O politicamente correto não se confunde com o falso moralismo. Também não explica a invasão do Iraque e Afeganistão pelo Bush com evidencia falsificada e unanime apoio da mídia estado-unidense e sem autorização da ONU. O intervencionismo bélico vem da maquina de guerra mais a ignorância de um povo que se acha melhor que os outros, voltados contra o inimigo islâmico, com medo de terroristas, além de invadirem países passaram legislações para espionar os próprios cidadãos, tirando as câmaras de tortura para onde pessoas sao levadas e mantidas por anos incomunicáveis sem direito a julgamento.

  3. Fico com uma pergunta = então

    Fico com uma pergunta = então há países que parecem fadados a serem governados tiranicamente, pois a destruição do tirano de plantão significa quase que a destruição do próprio país – como os casos de SAdam e o IRaque e a Líbia e Kadafi? É um beco sem saída que, quando penso, é desanimador. 

    1. Acredito que há uma evolução

      Acredito que há uma evolução natural pela qual se sai da tirania mas a invasão estrangeira não é a solução, é um metodo artificial para remover o tirano por força externa, o que não legitima o governo sucessor. Sddam e Khadafi iriam morrer algum dia, a sucessão nunca repete o tirado mesmo quando tenta, Trujillo na Republica Domenicana tentou ser sucedido por Ramfis e não deu certo, hoje a Republica é uma democracia de razoavel qualidade.

  4. Obrigado André,para mim ficou

    Obrigado André,para mim ficou claro a “possível” origem destes governos moralistas,quando vc diz q o

    politicamente correto contaminou o mundo, eu REALMENTE acredito nisso, é o que o Nassif sempre diz

    aqui o “efeito manada”,achei interessante q existiu a tal cartilha de 14 pontos !!

    Obs:Não entendo como os seus artigos não repecurtem aqui,acho q o povo de centro esquerda e erquerdíssima

    q é a maioria aqui ñ quer saber de economia,cultura, seus artigos são umas pérolas(ñ é para ficar se achando hein!)

    será q só esse rapaz aqui de ensino médio completo é q enxerga isso? O povo está em Marte?(ou seria eu?KKK!!)

  5. Sadam,Kadafi e Assad, são

    Sadam,Kadafi e Assad, são belos exemplos,não de iniciativas politicamente corretas,mas   de ambições e estratégias imperialistas,anteriores a Wilson. Basta lembrar o “Destino Manifesto”,que data do século XIX ,no seu último quartel.

    O politicamente correto, confesso, que sempre foi um incômodo intelectual e ideológico,tanto pela sua formulação quanto pelas supostas causas que o forjaram.Como num jogo de  xadrez,   a ameaça de um xeque duplo: a esquerda concordava  por sentir-se fustigada,a direita ou os indiferentes, engajavam-se por não enxergar   nenhuma   tonalidade  rubra  no seus propósitos. E, a mídia,  porque  ampliava  o espectro de alienação politica,sem riscos ideológicos nítidos.

  6. Para os que acreditam nas boas intenções do ser humano

    Quanto ao moralismo, acredito que há um processo dialético entre ação e pensamento “bem intencionado”.

    O grande problema é quando ser quer criar uma espécie de “ação bem intencionada”.

    Aí, vira tragédia.

    Por que? 

    Porque creio serem duas coisas distintas. O pensamento é puro, perfeito. A ação é complexa, contraditória.

    Daí a necessidade de haver uma relação dialética entre ambas. O pensamento criticando a ação e tensionando-a para reformá-la.

    Mas, querer transformar “boa intenção” (pura, perfeita) em ação?

    O resultado disso é um só: autoritarismo e tragédia.

    Afinal, quem é o dono da verdade? O que é o bem?

    Ora, ora, só um néscio acredita nisso – na possibilidade de um agente público ser portador do caminho, da verdade e da vida. Capaz de distinguir o certo do errado, pelos outros e para os outros. 

    As relações humanas são construídas sob tensões, conflitos. A ideia é media-las de modo a encontrar um denominador comum, um “meio termo” possível. E isso não é fruto da cabeça de um iluminado. 

    Por isso, foram criadas instituições mediadoras, democracia, regras (leis), voto, etc.

  7. POLÍTICAS CONTRA NEGROS E INIMIGOS

    nos Estados Unidos:

    John Ehrlichman, o então chefe de política doméstica do presidente Nixon, admitiu para o jornalista Dan Baum o teor racista da política de drogas ao afirmar:

    “Na campanha presidencial do Nixon em 1968, e depois na Casa Branca, nós tínhamos dois inimigos: a esquerda anti-guerra e as pessoas negras. Entendeu? Sabíamos que nós não podíamos criminalizar quem era anti-guerra ou negro, mas convencendo a população a associar hippies à maconha e negros à heroína, e depois criminalizando fortemente os dois, poderíamos desestabilizar ambas as comunidades. Poderíamos prender seus líderes, invadir suas casas, impedir suas reuniões e caluniá-los todas as noites nos jornais noturnos. Sabíamos que estávamos mentindo sobre as drogas? Claro que sim.”

    https://theintercept.com/2016/08/11/brasil-importa-politicas-de-seguranca-racistas-e-falidas-implantadas-nos-eua-do-seculo-passado/

    Sabemos que países mais fortes roubam dos mais fracos os bens que necessitam e para isso mentem, criam grupos terroristas, mercenários, se aliam ao narcotráfrico.

    Mesmo que não seja verdade, mas serve pra ilustrar como os poderosos agem no mundo para dominar outros países a fim de prevalecer seus interesses SOBRE ANASTÁSIO SOMOZA: 

    Os Somozas são geralmente considerados como ditadores cruéis. Os Estados Unidos continuaram a apoiá-los como um baluarte não-comunista na Nicarágua. O presidente Franklin D. Roosevelt, supostamente comentou em 1939 que “Somoza pode ser um filho da puta, mas é o nosso filho da puta”.[4][5][6] De acordo com o historiador David Schmitz, no entanto, os pesquisadores e arquivistas que têm procurado arquivos na Biblioteca Presidencial de Franklin D. Roosevelt não encontraram nenhuma evidência de que Roosevelt fez esta declaração. A declaração apareceu pela primeira vez em 15 de novembro de 1948 na revista Time e mais tarde foi mencionada em 17 de março de 1960 em um programa de rádio na CBS Reports chamado “Trujillo: Portrait of a Dictator”. Nesta transmissão, no entanto, foi afirmado que Roosevelt fez a declaração em referência ao ditador Rafael Trujillo da República Dominicana. Deve-se ainda notar que esta declaração tem sido atribuída a uma série de governos dos Estados Unidos em relação a ditadores estrangeiros. Assim, a declaração permanece apócrifa, neste ponto, embora Roosevelt e futuros presidentes certamente apoiaram a família Somoza e seu domínio sobre a Nicarágua.[7] Andrew Crawley afirma que a declaração de Roosevelt é um mito criado pelo próprio Somoza.[8]

  8. Além dessa lógica bem

    Além dessa lógica bem intencionada que acaba em tragédia, muito bem “historicizada” pelo autor. 

    Acredito que há também o moralismo como uma estratégia para perpetuar-se ou alcançar o poder.

    Como na Santa Inquisição, no primeiro caso, e na Revolução Francesa, no segundo.

    Em ambos, o fim também foi o mesmo: tragédia e farsa.

    Atualização:

    Poderia se acrescentar. É impressionante como a operação LJ se assemelha a Mão Limpas. Nesse último caso, trata-se de uma tragédia italiana (veja o Berlusconi e o desenvolvimento econômico da Itália pós ML) e, no primeiro caso, trata-se de uma farsa à brasileira (que está levando o país ao mesmo destino trágico da Itália – para alegria de nossos competidores internacionais).

  9. Adaptar-se

    Não nos resta outra alternativa. Adaptar-se significa continuar apoiando blogs progressistas e pessoas como  a Miruna filha do Genoino que edita um livro por crowdfundig.

    Só nos resta uns aos outros; parcela atual de talves de 1/3 da humanidade. Outro terço convicto do imperio do egoismo, da competição desonesta e outro terço manipulado pela midia

  10. E Wall Street?

    Senti falta de uma abordagem das circunstâncias econômicas que cercaram a administração Wilson. Afinal ele se elegeu com a promessa de não envolver os EUA na guerra, e foi praticamente forçado por Wall Street a entrar no conflito.

    Sem contar que o FED foi criado em sua administração – aprovado pelo Congresso durante um feriado de final de ano.

    Mais tarde ele escreveu – ou ditou – palavras de arrependimento, mas já era tarde.

    A política, como sempre, a reboque da economia.

  11. Moralismo e a hipocrisia

    Sim, caro  Araújo, o seu artigo está correto, e ele expressa o velho ditado: “Um hipócrita é pior do que um malfeitor”

    Os malfeitores podem ser maus, mas os hipócritas são muito piores.

    Não por acaso, uma das épocas mais tristes da humanidade chamada de idade das trevas, foi a idade média, quando a religião se apropriou da política, e quando políticos usaram o moralismo como escudo e manto para justificar suas atitudes.

    Sempre quando eu tenho de votar num político que tenha discurso moralista,  eu o avalio com um rigor dez vezes maior do que avaliaria qualquer outro candidato. E se ele tiver o menor erro que seja, eu descarto totalmente de votar nele. Pois se tem erros, não devia usar discurso moralista.

     

  12. obtusos

      A humanidade é obtusa, exerga no moralismo a rendenção da política.Muitos foram os que acusaram o lulismo de não condenar  os capitalistas. Assim, os que clamaram pela moralidade de esquerda, por exemplo, o PSOL, são moralistas de esquerda e tão culpados quanto os de direita pela nossa triste situação antidemocrática atual. São obtusos.

    1. O PT padeceu muito com esse

      O PT padeceu muito com esse mal, e o Brizzola ironicamente chamava o PT de “UDN de macacão”. O PT só melhorou nesse sentido quando os seus quadros mais moralists foram para o PIÇOL.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador