
A Europa neo-romântica
por Felipe Bueno
Não poucas mentes sábias, como as de Bertrand Russell e Albert Camus, entenderam o nascimento do Romantismo como a confirmação da inviabilidade do homem como ser vivo naturalmente sociável. A humanidade nada mais é que um conjunto de acumulados egoístas de DNA dependentes de acordos e regras para minimamente aturar seus semelhantes.
O Romantismo, com seu amor exacerbado pelo homem e suas realizações, com seu desejo de diariamente alcançar e superar limites, com sua contemplação destrutiva da natureza, com sua necessidade permanente da emoção, da aventura e do heroi, forjou a sociedade atual.
Os românticos, ao mesmo tempo, sempre necessitaram do abrigo de algo em que acreditar; sendo a divindade grande ou pequena demais, dependendo de seu intérprete, mas em todo caso inatingível, que os valores sobrenaturais sejam atribuídos a atores mais tangíveis: o homem-ele-mesmo e seu simulacro social e geopolítico, a Nação.
Da Alemanha e da França, espalhando-se por toda a Europa, as sementes do Romantismo seriam inócuas se tivessem produzido apenas um movimento artístico de alto valor. Foram além, no entanto: contribuíram solidamente para a construção de um modelo de cidadão que inverte o contrato social, entendendo o Estado como a realização dos seus desejos e propósitos.
Desnecessário dizer que a Nação, a realização concreta do Estado, do ponto de vista romântico, é a reunião única e exclusiva daquele estrito modelo de cidadão com seus semelhantes, iguais na origem, no idioma, na religião, nos costumes e na cor da pele.
Aos diferentes, resta o quê? Uma temporada na sarjeta ou em algum centro de acolhimento, antes do educado convite para desaparecer.
No século XX, 1945 e 1989, por distintas razões, foram marcos de transformação do mundo a partir da Europa. Uma leitura mais pessimista, no entanto, vê esses anos apenas como pausas forçadas na busca incessante por território (espaço vital) e poder inerentes ao conceito de Nação.
Ultrapassadas essas pausas, chegamos a praticamente um quarto do século XXI refletindo sobre qual a verdadeira utilidade de fóruns internacionais nos quais pessoas se vestem com a melhor alfaiataria e as melhores intenções, mas pouco poder tem para garantir a civilidade do planeta.
As mudanças climáticas são motivos de chacota; a aldeia global se tornou um termo retrô de almanaque.
Os resultados da eleição parlamentar europeia de 2024 estão dados, e eram previstos há meses neste espaço: que ninguém se diga chocado pelo fato de a extrema direita deixar de ser um fantasma e se tornar um mandato parlamentar com direito a voto e veto.
Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.

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