
A ficha do general Patrushev, com quem Heleno assinou ‘acordo’ na Rússia
por Hugo Souza
A menos de uma semana de assumir a Diretoria-Geral do Tribunal Superior Eleitoral, o general Fernando Azevedo e Silva deu para trás.
Azevedo e Silva era tido pelo TSE como uma espécie de “fiador” das eleições de 2022, diuturnamente ameaçadas pelo seu ex-chefe Jair Bolsonaro. O timing da desistência foi a viagem de uma comitiva de Bolsonaro à Rússia repleta de seus colegas da farda e patente – Augusto Heleno, Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos – e de suspeitas e especulações sobre o que exatamente Bolsonaro et caterva foram combinar com os russos. A razão oficial para a desistência do general Azevedo e Silva, porém, foi a descoberta de um problema no coração.
“Meu coração suspeita que há algo mais do que os meus olhos podem enxergar”, disse Quintus em Tito Andrônico, tragédia de William Shakespeare.
A viagem de Jair Bolsonaro a Moscou foi um curioso caso de encontro de chefes de Estado com todas as pompas e circunstâncias possíveis, mas com nenhum, zero acordo sacramentado. A comitiva de Bolsonaro, que teve cinco ministros de Estado, saiu da Rússia com um único documento subscrito por autoridades contraparte: um “protocolo mútuo de informações classificadas”, assinado pelo chefe do GSI, Augusto Heleno, e pelo secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev.

Como Heleno, Nikolai Patrushev é general da reserva. Ele é também ex-diretor do Serviço Federal de Segurança russo, sucessor da KGB. O site americano Politico descreve Patrushev como “um falcão do Kremlin conhecido por seu nacionalismo feroz, visão de mundo conspiratória e extensa experiência em espionagem”.
Patrushev, que é muito próximo de Vladimir Putin, esteve envolvido nos desdobramentos – pelo menos nos desdobramentos – de uma tentativa de golpe de Estado em Montenegro, na península balcânica, em 2016.
Citando fontes diplomáticas da Sérvia (até 2006, Sérvia e Montenegro eram um país só), o jornal britânico The Guardian informou naquele ano que Belgrado havia deportado em segredo um grupo de cidadãos russos que teriam coordenado um plano para assassinar o então primeiro-ministro pró-ocidente Milo Djukanović, um entusiasta da integração de Montenegro à Otan, a fim de instalar um governo pró-Rússia em Podgorica, capital montenegrina.
O grupo russo seria “semi-freelancer”, ou seja, suficientemente distante de Moscou para a operação ser plausivelmente negada caso fosse descoberta. Quando a trama foi desbaratada, porém, Patrushev pegou um avião para Belgrado, num aparente esforço para abafar o escândalo. A viagem teria resultado na deportação secreta dos conspiradores russos. As fontes do Guardian disseram que o general pediu desculpas e negou participação do Kremlin. O Kremlin, por seu turno, negou tudo, inclusive que Patrushev tenha chegado a negar envolvimento no caso.
Três dias após a visita de Patrushev a Belgrado, um esconderijo de armas foi encontrado perto da casa do então primeiro-ministro da Sérvia, Aleksandar Vučić, que vinha realizando exercícios militares com a Otan e anos antes havia se recusado a conceder status diplomático a cidadãos russos que trabalhavam em um centro humanitário sérvio-russo na cidade de Niš, a terceira mais importante do país balcânico.
“Autoridades ocidentais – reportou o Guardian – suspeitam que o centro seja um cavalo de Troia, que pode se expandir como um centro de inteligência e operações paramilitares na região. O status diplomático, apontam, teria permitido que equipamentos passassem pela alfândega sérvia sem fiscalização”.
‘Vírus da mídia’
Em meados de 2021, documentos vazados do Kremlin revelaram que uma reunião de 22 de janeiro de 2016 do Conselho de Segurança da Federação Russa, cuja pauta oficial era o “agravamento da situação política interna da Moldávia”, foi, na verdade, para tratar dos planos do governo russo para colocar Donald Trump na Casa Branca, nas eleições de novembro daquele ano nos EUA.
A foto oficial daquela reunião “sobre a Moldávia” no Kremlin mostra Nikolai Patrushev sentado à esquerda. Ele é o terceiro na fileira iniciada, a partir de Putin, por Dimitri Medvedev.

Um relatório apresentado a Vladimir Putin e discutido naquela reunião de 22 de janeiro de 2016 recomendava ao presidente russo empregar “toda a força possível” para garantir a vitória de Trump. O documento menciona planos para para inserir um tal “vírus da mídia” na vida pública americana.
Acreditava-se que Trump seria um presidente fraco e, por consequência, haveria um enfraquecimento da posição americana nas mesas de negociações internacionais. Neste sentido, Trump foi descrito naquela reunião como “o candidato mais perspektivny“, ou seja, mais promissor para os interesses estratégicos russos, justamente porque “impulsivo, mentalmente instável e desequilibrado”, capaz, portanto, de causar “desestabilização do sistema sociopolítico dos EUA”.
A julgar pela hospitalidade de Putin a Bolsonaro, nesta semana, está consolidada a nova reapolitik da Federação Russa de trabalhar pela eleição, ou pela reeleição, de governantes instáveis e desequilibrados, fascistas, em outras importantes federações do mundo.
Em tempo: em janeiro de 2017, uma semana antes da posse de Donald Trump e um ano após aquela reunião no Kremlin, aconteceu um encontro secreto entre um emissário de Trump e um emissário de Putin nas Ilhas Seychelles, no Oceano Índico. O encontro foi revelado em abril de 2017 pelo Washington Post.
A identidade do emissário russo, porém, nunca foi revelada.
Quem organizou o encontro foi o xeique Mohamed bin Zayed al-Nahyan, mandachuva dos Emirados Árabes Unidos, destino da viagem internacional anterior de Bolsonaro, em novembro do ano passado. MBZ, como é conhecido, é mandachuva também da DarkMatter, empresa de espionagem digital de Abu Dhabi procurada por um integrante do “gabinete do ódio” do Palácio do Planalto, e da comitiva de Bolsonaro, durante aquela viagem oficial do presidente da República.
Ouvida pelo Come Ananás, a diretora de segurança cibernética da Electronic Frontier Foundation e consultora técnica da Freedom of the Press Foundation, Eva Galperin, disse que “os Emirados Árabes Unidos financiaram a DarkMatter e a usaram para ajudar seus aliados e realizar seus objetivos geopolíticos”.

Mohamed bin Zayed al-Nahyan chegou a se reunir com Steve Bannon em Nova York, em dezembro de 2016, sem que os Emirados Árabes comunicassem ao então governo Obama a presença de um mandachuva de um Estado estrangeiro em solo americano.
Acerca de tudo isso, este Come Ananás publicou no último 18 de janeiro a reportagem “O Carluxogate, o ‘grupo Trump-Emirados’ e as armas de Bolsonaro para 2022”. O “grupo Trump-Emirados” foi fartamente escrutinado nas investigações sobre a interferência russa das eleições de 2016 nos EUA.
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Parece que a nossa “ex-querda” quer mesmo ser uma filial do Partido Democrata dos gringos.
NOJO absoluto!
Jamais imaginava ler uma história de ficção kafikiana no GGN. Enfim… risível o artigo. Nenhuma concatenação com os BRICS e com a política de defesa da Russia frente ao avanço da OTAN para o leste. Artigo pedestre e sofrível.
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2021/12/fake-news-da-interferencia-russa-na-eleicao-de-trump-foi-maior-vexame-da-imprensa-americana.shtml
Esse artigo tem realmente a pretensão de ser levado a sério? Uma viúva bem paga da OTAN não escreveria algo tão fraldiqueiro quanto isso.