
do Observatório de Geopolítica
Guerra na Ucrânia em perspectiva histórica
por Guilherme Afonso Gomes dos Santos
A Demonstração militar atual da chamada ofensiva ucraniana tem paralelos históricos: 1) na Ofensiva do Tet de 1968 as tropas do Vietnã do Norte e os guerrilheiros sul-vietnamitas fizeram ataques em 3 fases no Vietnã do Sul ocupado pelos EUA e mesmo com maior perdas absolutas, conseguiram infringir pesadas baixas nas tropas dos EUA e seus ajudantes sul-vietnamitas, garantindo uma vitória propagandística e mesmo militar tática. Essa ação iniciou a fase mais aguda de desgaste prolongado, que culminou na retirada das tropas estadunidenses do território vietnamita, a partir de 1973, e vitória total em 1975 dos vietnamitas, que unificaram seu país, em um movimento, ao mesmo tempo revolucionário socialista e uma guerra de libertação nacional (VISENTINI, 2007, pp. 71-90; SILVA, 2015, pp. 275-279); 2) Na Guerra do Yom Kippur em 1973, as tropas árabes (Síria, Iraque e Egito) lideradas pelo Egito sob o comando de Anwuar Saddat (e Hefez Assad do lado sírio) partiram para cima de Israel de Moshe Dayan e Ariel Sharon, provavelmente sabiam que não conseguiriam vencer frontalmente a batalha, porém infringiram duras baixas aos israelenses (por mais que entre os árabes tenha sido de 3 para 1, aproximadamente), conseguindo, de certa forma uma vitória tática, que culminou nos acordos de Camp David de 1978/79 e devolução completa dos territórios da Península do Sinai (1982), tomados por Israel na Guerra dos Seis Dias de 1967. Desse resultado, o Egito passou a reconhecer o Estado de Israel (sendo o primeiro país árabe, nesse sentido), chegando a um compromisso com este e aproximando-se do Ocidente, enquanto a Síria continuou aliada à União Soviética e atualmente é a principal aliada russa no Oriente Médio (SCARLECIO, 2015, pp. 279-281; MIRHAN, 2019, pp. 126-129).
Provavelmente os ucranianos estão buscando ficar em melhor posição de forçar uma negociação territorial com os russos e mostrar ao Ocidente sua condição de manter uma ofensiva, mesmo sendo improvável e praticamente impossível uma vitória estratégica militar completa contra a Rússia. Porém não se sabe se nesse momento a ofensiva anunciada (com foco na cidade de Bakhmut, mas em várias regiões ocupadas pela Rússia) é “A Ofensiva” principal ou uma concentração inicial de tropa e, de outro lado, os russos, conhecendo esses precedentes históricos e a doutrina ucraniana, próxima da russa, tanto na dissuasão estratégica e militar (a chamada “marshirovka”), guerra psicológica, tanto quanto nas formas de luta convencionais podem reagir, agora em uma situação de defesa estratégica antecipada.
A questão está em aberto, há muita mentira e propaganda na mídia corporativa, uma frequente operação de “copia e cola” das mídias ocidentais hegemônicas, porém é difícil fazer a leitura precisa e dar o diagnóstico correto das próximas ações, de lado a lado, já que as variáveis e incertezas são muitas. O que nos resta é olhar tendências com base em experiências do passado, que podem se repetir.
Uma possível resolução realista do conflito na Ucrânia, a ser levada em consideração, com cessar fogo e “suspensão das hostilidades” (porém não da situação de beligerância) seria um acordo semelhante como ocorreu no fim da Guerra da Coreia (1950-1953), com a divisão da Península entre as partes beligerantes (VISENTINI et. ali., 2015, pp. 66-74), sendo aparentemente esta, uma das soluções plausíveis (e parciais) da paralização desse conflito, no momento. Esperemos.
Guilherme Afonso Gomes dos Santos – Bacharel em Ciências e Humanidades, Bacharel em Ciências Econômicas e Bacharel Relações Internacionais (UFABC), Licenciado em História (Unimes), Mestre e doutorando em Economia Política Mundial (UFABC) ([email protected])
BIBLIOGRAFIA INDICADA
MIRHAN, Lejeune. Reflexões sobre o Oriente Médio: para entender a geopolítica daquela região. Campinas: Apparte Editora, 2019. 512 p.
SIILVA, Carlos Leonardo Bahiense da. Guerra do Vietnã. In: SILVA, Francisco Carlos Teixeira da et al (org.). Enciclopédia de Guerras e Revoluções: vol. iii: 1945-2014: a época da guerra fria (1945-1991 e da nova ordem mundial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. p. 275-279.
SCALERCIO, Marcio. Guerra do Yom Kippur. In: SILVA, Francisco Carlos Teixeira da et al (org.). Enciclopédia de Guerras e Revoluções: vol. iii: 1945-2014: a época da guerra fria (1945-1991 e da nova ordem mundial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. p. 279-281.
VISENTINI, Paulo G. Fagundes. A Revolução Vietnamita. São Paulo: Editora Unesp, 2007.
VISENTINI, Paulo G. Fagundes; PEREIRA, Analúcia Danilevicz; MELCHIONNA, Helena Hoppen. A Revolução Coreana: o desconhecido socialismo Zuche. São Paulo: Editora Unesp, 2015.
CANAIS E SITES INDICADOS
Canal Arte da Guerra: https://www.youtube.com/@ARTEDAGUERRA
Canal Verdade Concreta: https://www.youtube.com/@VerdadeConcreta
Revista História Militar em Debate: https://historiamilitaremdebate.com.br/
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