Sabesp ignorou recomendações e afundou o Cantareira, diz especialista

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O colapso do Sistema Cantareira, segundo inúmeros especialistas, pode ser considerado fruto de erros da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) associados ao longo período de estiagem. A atual crise já é a pior em mais de oito décadas de registro. Assemelha-se, apenas, ao biênio 1953/1954, conforme sugere a outorga do Cantareira de 2004.

Diferente daquele ano, a situação do subsolo das represas que compõem o maior sistema de abastecimento de água de São Paulo, hoje, é extremamente alarmante. A chuva que cair – e se cair – nos próximos meses precisará, primeiro, permear o solo seco antes de virar afluente. É o que explicou, preocupado, o engenheiro e sanitarista José Roberto Kachel, na primeira parte da discussão sobre a crise de água promovida pela redação do Jornal GGN, ao lado do professor da pós-graduação em Planejamento de Gestão de Territórios da UFABC, Ricardo de Souza Moretti, e do jornalista Luis Nassif.

Segundo Kachel, que trabalhou por mais de 30 anos na Sabesp, uma análise da série histórica de vazões de afluentes do Cantareira mostra que a estatal retirou muito mais água do que o recomendado no final de 2013 e início deste ano. Isso contribuiu para que o sistema entrasse em colapso e o governo do Estado, capitaneado por Geraldo Alckmin (PSDB), tivesse de decretar o uso do volume morto (reserva técnica).

https://www.youtube.com/watch?v=sPq-xjalzVY height:394]

“Até agosto do ano passado, a Sabesp praticou a retirada de margens abaixo do indicado. Mas a partir de setembro, Sabesp retirou vazões acima – 38 m³/s, quando o recomendado é até 33 m³/s. Em novembro e dezembro, ela tirou entre 12 e 13 m³/s a mais do que o critério recomendado. O manancial afundou! Se essa recomendação tivesse sido seguida, estaríamos hoje ainda com volume útil. O volume morto só seria utilizado no final de outubro”, pontuou. “Nos meus cálculos, pela regra de outorga na Sabesp, essa vazão tem que ser reduzida imediatamente para 16 m³/s”, acrescentou. 

Leia mais: Sabesp distribuiu até 60% dos lucros aos acionistas durante governo Alckmin

Segundo Kachel, se a Sabesp continuar nesse ritmo, o Cantareira irá se esgotar em maio de 2015. Projeções do Consórcio PCJ indicam que o Sistema que abatece 8,8 milhões de pessoas, com o melhor dos cenários metereológicos, levará ao menos cinco anos para se recuperar dessa crise.

“O Alto Tietê está na mesma situação. Falaram de utilizar o volume morto. Que eu saiba, se tiver volume morto, deve ter coisa de 20 milhões de metros cúbicos de água, e não dá nem para o próximo mês. O Alto Tietê acabaria sem alternativas. Tomara que eu esteja errado”, concluiu Kachel.

Os riscos ambientais de secar um reservatório

Ricardo Moretti alertou para os riscos à saúde e ao meio ambiente a partir do uso de águas de um reservatório seco. Embora autoridades afirmem que a primeira metade do volume morto do Cantareira é completamente usável, Moretti sustentou que “começar a extrair água de fundo de reservatório é o que podemos chamar de caixa preta”. Ele citou o caso de mortes em um hospital pernambucano após uso de água de volume morto.

Kachel também afirmou que se a Sabesp retirar algo muito próximo ao fundo das represas, cenários semelhantes podem acontecer em São Paulo. A autarquia estadual já recebeu autorização para iniciar as obras de retirada das águas da segunda metade da reserva técnica do Cantareira. 

https://www.youtube.com/watch?v=RMq88biEBj8&feature=youtu.be height:394

As chances de falta de água generalizada

Para Ricardo Moretti, a situação é “assustadora” no Estado, principalmente porque as pessoas “não imaginam que podem ficar sem água”. Segundo o professor, uma evidência de que a sociedade não está preparada para enfrentar uma situação de seca é a falta de plano B por parte dos municípios.

“Há pouco tempo, fizemos uma pesquisa tentando identificar as estratégias da defesa civil face à possibilidade de falta de água. (…) É impressionante como assunto está fora da pauta, porque ninguém considera a chance de que a gente possa não ter água. Há várias alternativas para se prevenir da falta de água e garantir abastecimentos mínimos em situações emergenciais, desde aproveitar pequenos mananciais, a água subterrânea e etc e tal. Essas pequenas medidas estão fora da pauta das companhias de saneamento, de forma geral”, criticou.

Na segunda parte da entrevista, Moretti e Kachel discutem os problemas de saneamento no Estado, a limpeza de rios, os interesses da Sabesp e as alternativas para racionalizar o uso da água.

A redação convidou para o debate representantes da Secretaria de Estado de Recursos Hídricos e do Grupo Técnico para Assessoramento do Sistema Cantareira, que atuam face à crise. Sem sucesso, contudo.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=SU3eJXhryMA&feature=youtu.be height:394

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

21 Comentários

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    1. Santo do pau oco

      O sujeito até parece fisicamente com Mario Covas.

      Mas tudo indica que a semelhança fica por ai.

      É muita cara de pau, muito deboche e pouco caso com os cidadãos desta cidade.

      O culpado pela crise de agua em S.Paulo é… São Pedro.

    1. A Ana falhou, cara!
      A

      A Ana falhou, cara!

      A explicacao eh simples o bastante:

      AONDE estavam eles nos meses passados?

      E porque nao denunciam o racionamento efetivo mas nao declarado que esta acontecendo agora nesse minuto?

      Como o judiciario, so falha em estados tucanos.  Ta me dando um odio tao imenso dessa gentalha que voce nem imagina…

      1. a lógica nesse caso é mais ou menos assim,

        a ana é autarquia federal, se eles decretassem, como deviam o racionamento, os tucanos iam usar como desculpa pra fazer o racionamento.

        como a ana não fez isso, o desgoverno atucanado negou a necessidade de racionamento, e negará até a morte. não sei como não usaram ainda a própria ana, para provar que não necessita racionar, já que ela está se omitindo também.

        filho feio não tem pai.

        eu sei para a maioria da população isso pode paracer ilógico, mas cabeça de político funciona assim.

  1. a resistencia dos órgãos

    a resistencia dos órgãos estaduais conidados a participar e que não quiseram discutir a questão mostra que o lema da boa gestão tucana é uma pilhéria.

    e que historicamente ess gestão tão decantada não passa de omissão.

    omite-se na questão social,distribuiição de renda.

    é privatista por natureza, geneticamente comprometida com os acionistas da sabesp como em vários governo estaduais tucanos.

    jamais pensam na sociedade como um todo, a não ser no discurso recorrente de promessas raras vezes cumpridas.

    bem que poderiam abrir a discussão com a participação de todos para que pudessem aproximar-se de uma solução comcertada.

    mas continuam se omitindo em consórcio com a grande mídia que sempre os defende.   

  2. diarréia

    no debate entre os candidatos ao governo de são paulo, o atual governador e candidato a reeleição, geraldo alkimin não deu as caras,  e apresentou um ‘atestado médico’ para justificar a falta: estaria com ‘infecção intestinal’.

    acho que ele deu mole. em campanha, demagogo que é, aceitou um copo de água das casas da periferia do racionamento e essa ‘água’ era do tal volume morto.

  3. Tá bom, mas por que?

    “uma análise da série histórica de vazões de afluentes do Cantareira mostra que a estatal retirou muito mais água do que o recomendado no final de 2013 e início deste ano.”

    A pergunta é: por que ela fez isso?

    1. Para suprir deficiências dos demais sistemas?

    2. Para elevar a rentabilidade e pagar mais dividendos? De novo, por que?

    3. Para atender um aumento da demanda? Qual, se a população está estável e o sistema não foi construído para abastecimento industrial?

    Eu acho que foi uma combinação disso tudo…

    A indústria imobliária, as grandes obras públicas como o metrô e o caixa 2 não poderiam parar em véspera de eleição…

    E construção civil é uma indústria sedenta!
     

     

  4. O sertão vai virar mar

    Os Home Simpsons, que se masturbam lendo o lixo semanal Veja, new-fascistas  preconceituosos com nordestinos, sentem agora na pele o que é a falta de água. Mas Lula e Dilma, com a transposição do São Francisco, está fazendo parte do sertão virá mar.

      1. Responder a este comentário | GGN
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  5. Lata d’água na cabeça…

    Quando se constroi uma represa para abastecimento público, a previsão mínima é para 30 anos. Demógrafos estudam o crescimento populacional, meteorologistas fazem levantamento do regime de chuvas na região onde a represa será construída e com esses dados, geólogos e engenheiros constroem a represa, depois da decisão política dos governantes. A opção ao Sistema Cantareira deveria ter começado sua construção em 1997 e ficar pronta em 2002, 2003. Em 2008 o novo reservatório já estaria em condições operacionais, com água garantida até 2040. Vergonha não é os tucanos serem incompetentes, vergonha é uma população cara de sapo votar nesses entraves do desenvolvimento. Por onde esses tucanos passam nem sapo sobrevive. Sapos precisam de brejo, brejo precisa de água, água precisa de vergonha na cara dos governantes. Simples assim.

  6. O Brasil vive varios colapsos

    O Brasil vive varios colapsos o economico, o hidrico, o da violência tudo devidamente relativizado e negado pelos governos.

    O País esta entrando num pré estado de anomia social  e os governos negam.

    1. Sua análise não coresponde aos fatos

      Economia vai bem, pleno emprego, inflação dentro da meta, lucros dos rentistas alto, mas não tão alto quando nos reinados de fhc I e II, com juros armínicos de 45%. O PIB cresce pouco mas, tirando a China, nenhum cresce. Na zona do euro, temos Alemanha, Inglaterra e França com crescimento menores do que o do Brasil.

      Problemas hídricos sempre tivemos. Mas isso não impediu a obra de transposição do Rio São Francisco. Então o problema é má gerência tucana, desculpe o pleonamsmo, pois tucano é sinônimo de má gerência.

       

  7. Sabesp ignorou recomendações e afundou o Cantareira, diz
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  8. Que Colapso?

    Estamos em 2017 e para a infelicidade dos especialistas e videntes catástrofistas, não houve colapso algum.

    Boa noite!

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