A ascensão de Jânio Quadros

Por Fernando G. Trindade
 
A ascensão de Janio
 
Quando Jânio Quadros foi eleito Presidente da República estava filiado ao PTN (Partido Trabalhista Nacional). A UDN aderiu à coligação que elegeu Janio em razão da retórica moralista comum.
 
Aliás, salvo engano, a UDN não se encontra entre os partidos aos quais Jânio foi filiado (me parece que PDC, PSB e mesmo o PTB, pelo qual foi eleito Deputado Federal pelo Paraná em 1958 e também o segundo PTB, pós-ditadura, pelo qual foi eleito novamente Prefeito de São Paulo, em 1985).
 
Da minha parte, hoje estou convencido que a impressionante ascensão de Jânio se deve ao fato de ele ser uma curiosa e interessante ‘bricolage’ de elitista e populista, sem ser exatamente um ou outro, ou seja um oxímoro, uma contradição em termos (daí Afonso Arinos dizer que Janio era a UDN de porre).
 
Daí a razão pela qual atraiu ao mesmo tempo o apoio das classes médias udenistas e de amplas bases operárias trabalhistas e populistas. Uma das mais importantes lideranças operárias e sindicais da época, Dante Pellacani, salvo engano rompeu com o PCB para apoiar Jânio (muito em razão do elitismo do Marechal Lott, candidato do trabalhismo/pessedismo com o apoio do PCB, então na ilegalidade, apoio que rejeitava de público).
 

 
Daí o sucesso da chapa Jan-Jan (Janio/Jango) que terminou vencedora e que teve entre seus prinicipais articuladores Dante Pellacani.
 
Outro dado revelador é que a ala mais moralista do trabalhismo (MTR- Movimento Trabalhista Renovador), que tinha como liderança maior Fernando Ferrari apoiou Janio e Ferrari foi candidato a Vice com esse apoio.
 
Assim, embora a tensão principal entre as tendências políticas da época tenha sido entre udenismo e trabalhismo, tensão principal que retornou a partir de 2005/2006 (o pessedismo era o centro, tal como hoje o peemedebismo) havia (e continua a haver, o fenômeno Collor em 1989 também passa por aí) uma quarta força política importante que era uma espécie de híbrido de udenismo e trabalhismo ou elitismo e populismo, por estranho que possa parecer à primeira vista, híbrido cuja figura mais emblemática foi Janio Quadros.
 
E estou convencido que é nesse hibridismo entre udenismo e trabalhismo, nessa espécie curiosa de ‘bricolage’ político-ideológica, que se encontra Marina Silva e até certo ponto também Eduardo Campos e essa base ideológica e social em comum ajuda a entender a aproximação Campos/Marina.
 
 
Redação

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Desonestidade intelectual.

    Desonestidade intelectual. Comeca com o lerolero sobre janio, para finalmente alfinetar marina, em um raciocinil totalmente partidario.

    1. Então também sou desonesto intelectual

      Pois penso parecido com o missivista do post. Essas pessoas nunca me passaram muita confiança, mesmo. Ainda quando senadora, Marina parecia ter algo a mostrar, mas depois que ingressou no governo federal começou a expor sua cara. Quando candidata, perdeu parte da simpatia e agora, então… E demais a mais, foi uma opinião do missivista, e que eu saiba, opinião é pessoal e opinião é quem nem nádegas, cada um tem as suas.

    1. A única coisa que o Jango fez

      A única coisa que o Jango fez de esquerda em seu governo foi este gesto simbólico.

      Jânio renunciou por suas próprias mazelas, em um período que já era tumultuado por si só e, contribuiu a sua maneira para a consecução do golpe militar.

      Foi realmente uma pena que o marechal Lott, a despeito da falta de traquejo político, não tenha sido o eleito. Nosso país com certeza seria outro – e melhor. 

    2. Nosso quem, Rebolla? Só se

      Nosso quem, Rebolla? Só se for da parte “udenista de macacão” da esquerda, como dizia Brizola. As Heloisas Helenas, os Babas e os Plinios.

      A esquerda que eu apoio, apesar de admirar muito a figura do Chê, não é a esquerda dos clichês, camisetas e posters “hay que endureder pero perder la ternura jamas”. Essa esquerda continua agarrada a “bandeira da ética (do espetáculo), estagnada, exatamente onde a direita quer que fique.

      Assim como o fato de ter apertado a mão do Lula, não fez do Maluf “coisa minha”, o Janio apertou a do Chê e sua memória continua no colo da UDN, assim como o Lacerda, mesmo depois de assassinado pela ditadura 

      Essa história de vassoura para varrer corruptos não é comigo não. Talvez dos fãs do Barbosão

  2. É bom entender este momento.

    É bom entender este momento. Jânio seguia os populistas latino-americanos como o Perón, que dizia que gorvenar era como dirigir um carro: Dá-se  a seta para a esquerda, mas dobra-se à direita. Ele ao renunciar achou que o povo o reconduziria à presidência, e este o ignorou. Agora no presente, Marina tem atitudes de salvadora da pátria, radicalismos e intransigências aos quais o país não precisa passar novamente. Não necessitamos de outros Jãnios Quadros.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador