A verdade sobre o assassinato de JK, por Luis Nassif

Em meados do ano passado, um grupo de professores da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e de historiadores da USP decidiu investigar as circunstâncias da morte de Juscelino Kubitscheck. Resultou do trabalho um volume alentado com um conjunto significativo de indícios apontando para o assassinato.

Presidida por Pedro Dallari, a Comissão da Verdade ignorou os estudos. Agora a Comissão da Verdade de Minas Gerais se junta à Comissão da Verdade de São Paulo endossando a tese do assassinato.

Aqui, trechos da reportagem publicada pelo GGN ˆEntenda por JK foi assassinado” em 6 de julho passado, a partir de entrevista com Léa Vidigal Medeiros, coordenadora do projeto.

Juscelino morreu em um acidente de carro em 22 de agosto de 1976, na Via Dutra, enquanto saía de São Paulo em direção ao Rio de Janeiro. Segundo notícias da época, estava indo ao encontro de uma amante. O veículo, um opala dirigido pelo motorista Geraldo Ribeiro, levou uma batida de um ônibus que vinha logo atrás e, no desvio, se chocou com uma carreta que ia em sentido contrário. 

O acidente ocorreu em uma área plana, em linha reta e com um carro novo para a época, pontos que suscitaram dúvidas se o ex-presidente teria ou não sofrido um atentado.

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Enquanto preparava sua dissertação de mestrado sobre a importância do BNDES para o desenvolvimento Lea se deparou com o papel do banco na realização do Plano de Metas do governo Juscelino e acabou encontrando documentos esparsos sobre a morte do ex-presidente que revelavam indícios de um atentado planejado no âmbito da Operação Condor, uma aliança político-militar entre os regimes militares da América do Sul com apoio do governo norte-americano. 

Documentos trocados entre embaixadas brasileiras e norte-americanas comprovam, por exemplo, que Juscelino era monitorado pelo serviço secreto norte-americano desde 1963. Nessas cartas os americanos destacavam que ele era o político mais popular da época, com grandes chances de ganhar novas eleições presidenciais. 

A viagem para o Rio foi marcada para encontrar uma velha amiga e empresária portuguesa. JK pretendia fechar um negócio. “Juscelino, naquele período, estava sem um sustento garantido, ao contrário do que diziam, que tinha a sétima fortuna do mundo”.  Há provas de que dois dias após o atentado fatal tinha um encontro secreto com generais contrários ao governo golpistas marcado com a ajuda do seu primo Carlos Murilo, que está vivo e prestou depoimento para o Grupo de Trabalho JK. 

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“Ele tinha ambição de se candidatar e voltar a ser referência política para o Brasil”, pontuou Lea. Antes de ir para o Rio, JK tinha acabado de voltar de um encontro com governadores da Bacia do Prata  e chegou a ficar alguns dias na casa do jornalista e amigo Adolfo Bloch, dono da Manchete. 

Pouco antes do acidente que o vitimou, JK parou no no Hotel-Fazenda Villa-Forte cujo proprietário era o brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte, amigo do general Golbery do Couto e Silva e um dos criadores do Serviço Nacional de Informação (SNI). 

Segundo depoimento do filho de Villa-Forte, Gabriel, que estava presente naquela tarde de domingo, o hotel estava vazio e o ex-presidente ficou lá por quase duas horas. Depois ele e o motorista voltaram para a estrada e poucos minutos depois aconteceu o acidente. Um depoimento dado pelo manobrista do hotel, e registrado na época, destacou que o motorista Geraldo Ribeiro estranhou o carro assim que pegou para retomarem a viagem.

A colisão com o ônibus também não teria acontecido.  “Tem fotografias revelando que a traseira esquerda do opala, onde a perícia disse que teria sido o ponto de colisão entre o carro e o opala estava inteira no momento seguinte da colisão, mas, no dia seguinte, a polícia fabricou outras fotos com a traseira esquerda avariada. Ou seja, a avaria do Opala que serviu de causa, digamos, do acidente, foi produzida depois do acidente, em algum momento posterior”.  Lea afirmou que existem cálculos matemáticos feitos para reproduzir o acidente na época demonstrando que as provas oficiais produzidas para fechar o caso foram “primitivas” e que claramente “adulteram o local do acidente”. 

A imagem assassinada

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Antes de perder a vida, JK enfrentou tortura psicológica e assassinato de imagem. O boato de que seria dono da sétima fortuna do mundo, por exempla, foi diversas vezes espalhado em jornais da época como fruto de corrupção de dinheiro desviado da construção de Brasília. Mas a realidade de Juscelino naquela época era outra. 

“O coronel Affonso Heliodoro, que está vivo, contou que o visitou algumas vezes no exílio para levar dinheiro. Ele viu Juscelino contar moedas”. O entrevistador Luís Nassif também lembrou que o banqueiro e empresário Walther Moreira Salles contou que chegaram a fazer “uma vaquinha” para um tratamento médico de JK. 

Segundo Lea, as propagandas falsas contra o ex-presidente foram arquitetadas entre as embaixadas do Brasil e Estados Unidos. “Veículos de comunicação da época, como Jornal do Brasil, repetiam calunias e todas essas histórias falsas como se fossem verdade. Por exemplo, tinham notícias do tipo ‘saiu documentos que provam a corrupção na construção da Ponte da Amizade no Paraguai ‘, e o documento nunca apareceu, mas a notícia estava lá, repetida várias vezes até a exaustão”. JK chegou a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal que o absolveu por falta de provas quanto ao crime de corrupção. 

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Clique aqui e tenha acesso aos dois volumes do Relatório da Comissão da Verdade Rubens Paiva sobre o assassinato do Presidente JK:

Aqui, a entrevista com Léa Vidigal Medeiros, coordenadora do projeto, para o programa do GGN ‘Sala de Visitas com Luis Nassif’. Sua participação começa aos 24 minutos.

Luis Nassif

20 Comentários

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  1. duas coisinhas 
    uma:
    – Depois

    duas coisinhas 

    uma:

    – Depois tem jornalista POLIANA que se nega a incluir nas suas análises o FATO praticamente indiscutível de que neste GOLPE que vivemos, tanto as FORÇAS ARMADAS como os EUA estão envolvidos até o pescoço

    ..e outra :

    – será que diante destas manchetes desconstrutivas urdidas pela GRANDE mídia e CRIMINOSOS jornalistas  ..e que hoje encontram paralelos com LULA  ..será que se tivessem controle remoto à época, como sempre defendeu DILMA pra usarmos como combate às mentiras atuais, será que o povo teria ficado mais esclarecido naqueles tempos ?

     

  2. Eu não entendo isso,
     

    Eu não entendo isso,

     

    há arquivos históricos provando a perseguição de JK e outros politicos, porque acham que hoje não aconteceria o mesmo, com a párticipação da mídia inclusive, essa mesma midia  que não é nacional, pois foi fabricada de encomenda por um estudunidense? Não temosi um orgão de inteligencia para proteger os interesses do país, ao contrário, temos quinta colunas dos mais safados prontos para vender até a mãe, ou virar o rabo sujo pra qualquer estrangeiro canalha…..haja paciencia……

  3. Lendo esse post, na hora me

    Lendo esse post, na hora me lembrei desse trecho escritor pelo Cazuza = “Eu vejo o futuro repetir o passado; eu vejo um museu de grandes novidades”  

     

     

  4. Dois grandes inimigos a serem abatidos…

    … nesta guerra silenciosa e insidiosa que já dura décadas:

    Os EUA com seus miquinhos amestrados (maçonaria, sionismo, ala conservadora das igrejas católicas e protestantes) e as forças armmadas brasileiras (o minusculo é proposital).

    Se o Brasil, de fato, quiser ser soberano e avançar para o progresso e igualdade de oportunidades, são estes os dois monstros a serem derrotados.

    As forças armadas brasileiras se transformaram em mero pelotão do US ARMY, cuja função é reprimir e oprimir o povo brasileiro.

    Se não for isto, é viver eternamente de joelhos.

  5. De novo, essa história? Por

    De novo, essa história? Por favor, a tese do assassinato, apesar de justificável diante das circunstâncias da época, não resiste a qualquer exame isento das evidências. É fato que JK estava na mira da CIA há tempos (existe até um livro a respeito, “JK segundo a CIA e o SNI”, de Continentino Porto), mas nem o mais capaz esquadrão de “hit men” da agência, ou o mais criativo roteirista de filmes de ação de Hollywood, poderia imaginar, e menos ainda concretizar, a sequência de eventos que levou à colisão do Opala de JK com o caminhão que trafegava na outra pista. Ademais, o Opala não era novo e, segundo a filha do motorista Geraldo Ribeiro, Maria de Lourdes, JK o havia presenteado ao seu pai, mas este reclamava que o carro tinha um defeito na suspensão traseira, que o fazia balançar demais em certas curvas. E os depoimentos do motorista do ônibus da Cometa e do caminhão são igualmente convergentes para a conclusão de que se tratou de um trágico acidente. Qualquer conclusão diferente não passa de excesso de concessões a conspirações imaginárias. 

    Em tempo: JK não estava vindo ao Rio para encontrar-se com uma empresária portuguesa, mas com sua amante de longo tempo, Maria Lúcia Pedrosa, como relata, entre outros, seu ex-assessor e amigo João Pinheiro Neto, em “Juscelino, uma história de amor”.

    1. Imagem de Geraldo Lino…

      Quando eu digo que há estrategistas por trás dos novos trolls, determinando que discursos devem ser disseminados… O Blog anda invadido por trolls, diferentes dos antigos, que só faltavam vir com uma faixa na testa dizendo “sou troll”. Agora estao muito mais sofisticados.

      1. Prezada, sinto decepcioná-la,

        Prezada, sinto decepcioná-la, mas não sou nenhum troll, agente provocador ou qualquer coisa do gênero, apenas um cidadão que se interessa e acompanha os acontecimentos nacionais e mundiais há mais de quatro décadas e, por força de uma formação científica, procura manter a maior objetividade possível ao avaliá-los. Isto implica em concentrar-me em evidências factuais disponíveis, de preferência às especulações infundadas. Eu era um adulto jovem quando JK morreu, acompanhei toda a investigação sobre o caso, inclusive as mais recentes, já li várias biografias dele, além de numerosas obras sobre a época, e nada do que veio à tona, quando analisado objetivamente, apoia a tese de um acidente simulado.

  6. Ainda bem que não precisamos

    Ainda bem que não precisamos mais matar ex presidentes. Temos nosso judiciário para sufocá-los com processos baseados em delações sem prova e convicções.

  7. Tem vezes que acho a falta de

    Tem vezes que acho a falta de reação do PT ao golpe de 2016 muito estranha.

    Será que os líderes do PT, inclusive a Dilma, estavam sofrendo ameaças de morte contra eles mesmos ou seus familiares?

    Eu também acredito que as FAA brasileiras foram as principais fiadoras do golpe de 2016.

  8. É na cela.

    Precisam preder o Lula para poderem eliminá-lo na cela. Dessa vez não vão errar igual erraram com o Herzog. O golpe custou caro e os golpistas e patrocinadores não vão aceitar ter que entregar o comando do país justamente ao partido que derrubaram.

  9. Teoria da conspiração? Será?

    Teoria da conspiração? Será? Há elementos e relatos plausíveis para considerar tanto a possibilidade de assassinato como a de um acidente. Por que matariam JK? Por que não, se se tinha os meios e as razões para eliminar um ex-presidente que aglutinava a opinião pública da maioria dos brasileiros e representava uma força política importante, tal qual outros representantes das forças de oposição em vários países da América Latina? O fato é que a Operação Condor deixou um rastro de sangue onde atuou e, se somarmos as mortes de Jango e Lacerda – que buscava uma aproximação com os dois outros -, as probabilidades de execuções planejadas são, no mínimo, tão consideráveis quanto o acaso de acidentes ocasionais de três figuras importantes no processo de luta contra o golpe de 64.

    O documentário “Dossiê Jango” de 2013 é bem documentado e bastante ilustrativo. Diria que muito mais que muitas apresentações em Powerpoint.

    Para quem quiser ver, e tirar suas próprias conclusões, está disponível no youtube:  https://www.youtube.com/watch?v=bjg12utpN8I

  10. Assassinatos políticos

    O que ocorreu com JK, João Goulart e o urubu Carlos Lacerda, com certeza foram assassinatos políitcos cometidos pela Ditadura Militar com a conivência dos EUA.

    O coxinha e paneleiro da época, o direitista Carlos Lacerda, parece que começava a reclamar que não tinha levado nada ($$$$$) na derrubada do presidente João Goulart e nem reconhecimento por parte da Ditadura. Já JK e Jango eram inimigos políticos da Ditadura Militar que não queriam eles livres para organizar a oposição contra o regime militar.

  11. O povo brasileiro precisa
    O povo brasileiro precisa saber sobre o motivo do seu subdesenvolvimento: os golpes ciclicos, que impedem que o pais tenha continuidade enquanto projeto de pais que se pretenda economicamente forte, independente e pertence ao seu povo.

    Como o golpe vem de longa data, penso que para entendermos este golpe precisamos de uma bibliografia que inclua por exemplo o livro Elite do Atraso, de Jesse Souza.

    Uma biblioteca com documentarios, audiovisuais, registros fotográficos, infográficos

    Outros temas ligados ao golpe 2016:

    o papel dos ministros Joaquim Barbosa e Aires Brito, no mensalão, uma denuncia de interesse da burguesia que temia o fortalecinento do pt nos municipios, em prejuizo do pmdb.

    como a descoberta do pre sal apressou o golpe e despertou os coxinhas a irem as ruas pedindo o golpe

    brasil terra dos golpes desde a proclamaçao da republica….o Brasil como peça de golpes regionais e operaçao condor em 64 e 2016

    caraca!!!!! nossa história é a história do golpe: que tal um Memorial do Golpe, um grande museu onde caiba a musica de resistencia e luta pela liberdade…..e filmes, como o Cabra Marcado para Morrer,,….

    Irmãos Henfil…e tanta gente q partiu….o povo precisa saber sobre golpes no brasil….e sobre golpes no contexto da luta de classes

    o coronelato 2.0 – os meios de comunicaçào nas màos da cleptocracia, o papel da Globo na construçao e manutençao dos golpes de 64 e 2016: porque a Globo dever ser o alvo no combate ao golpismo.

    o papel das Instituições e de inimigos externos….enfim, um projeto a ser executado por um governo democrático, o postiço está é destruindo os memoriais que existem….podemos começar a construir este projeto a partir da Biblioteca do Golpe, lançada pelo Blog O Cafezinho.

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