O ataque de De Gaulle ao dólar, por Motta Araújo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

O GENERAL DE GAULLE ATACA O DÓLAR – Charles De Gaulle teve um péssimo relacionamento com os EUA durante a Segunda Guerra. Protegido de Churchill, seu aliado de primeiro minuto após sua espetacular fuga da França rendida aos alemães na vergonhosa colaboração conhecida como “França de Vichy”, De Gaulle sozinho começa a reunir homens para um movimento anti-Petain. O movimento se formaou a partir de uma base inglesa apoiada de coração por Churchill, que via nele um Don Quixote solitário contra o imenso poder do Terceiro Reich e dos venais colaboracionistas franceses, que incluiam Petain, Darlan, Laval, Gamelin, Chautemps, Weygand, todos obedecendo aos alemães até com grande satisfação.

Mas De Gaulle, por alguma razão insondável, foi desde o primeiro momento de sua cruzada detestado pelos americanos, que viam nele um projeto de ditador autoritário que apenas caiu do lado errado na política francesa. A ojeriza de Roosevelt ao movimento da “França Livre” chegou ao absurdo de manter em Vichy um Embaixador americano até junho de 1944, pior ainda, um Embaixador que era um dos melhores amigos de Roosevelt, o Almirante Lehay. 

Já depois da invasão americana da África do Norte francesa, Roosevelt fez tudo para enfraquecer De Gaulle, líder inconteste da França Livre, patrocinando um rival, o General Giraud, que não tinha a mínima liderança e desapareceu da Historia. Pior ainda, depois da invasão vitoriosa da Argelia, Marrocos e Tunísia, os EUA fizeram um acordo que envergonhou o mundo, com o Almirante Darlan, segundo homem da hierarquia de Vichy, que por acaso estava em Argel no dia da invasão, deixando De Gaulle histérico pelo absurdo de tratar o arqui-inimigo de véspera como aliado. Felizmente para De Gaulle, Darlan foi assassinado dois dias depois, eliminado uma situação de impossível solução.

Tudo isso somando fez De Gaulle detestar os EUA por toda sua vida. Já Presidente da França da 5ª República fez em 1965 um violento discurso contra a dominância do DÓLAR no sistema monetário internacional. Por causa dessa cruzada contra o dólar, o Presidente Nixon fez em 1971 um decreto desligando o dólar do seu lastro em ouro (US$35 por onça troy), enfurecendo mais ainda a França gaullista. O discurso acima de 1965 foi o primeiro ataque de De Gaulle ao domínio do dólar, a França era a maior detentora de dólares fora dos EUA. Não foi só a questão monetária, De Gaulle na prática desligou-se da OTAN, apesar da sede da organização ser em Paris.

O premonitório De Gaulle, com seu fino faro, anteviu as crises financeiras americanas e ao conhecer Jaqueline Kennedy, logo depois de Kennedy ter sido eleito, disse ” essa mulher coquete vai acabar na cama de algum armador grego”, o que aconteceu dez anos depois, De Gaulle era um homem do mundo.

https://www.youtube.com/watch?v=-9BCjV20MWw

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Cruzada contra o dolar?

    De Gaulle apenas colocou a boca no trombone e denunciou um abuso que perdura até os dias de hoje.

    O ato unilateral de Nixon em 71 é o mesmo que permite a farra estadunidense dos déficits gêmeos.

    E quaisquer ação que se afaste da linha de subserviencia economica é vista como terrorismo econômico (como a proposta de Chavez de cotação do petróleo a partir de uma cesta de moedas, ou a organização dos paises dos Brics).

  2. A razão insondável é que De

    A razão insondável é que De Gaulle era um general nacionalista – manteve a França fora da OTAN. Não se prestava ao papel de lacaio ou de cachorinho dos americanos. De Gaulle – e Chirac muitos anos depois – estão muito à esquerda dos direitistas brasileiros…. hehehe … mas essa da Jacqueline eu não sabia. Premonição ou informações privilegiadas do “Deuxieme Bureau”?

    O General contava que por receber os americanos na Africa do Norte em uniforme branco – segundo ele, “regulamentar para oficiais franceses no verão” (africano) – disseram que ele tinha “Complexo de Joana D´Arc”…

     

  3. Adentro

    Não só Roosevelt o detestava,  Stalin também, mas acabaram cedendo a pressão e aos argumentos de Churchill em favor da Inglaterra.

  4. De Gaulle – integração europeia

    Se a França teve em Jean Monnet a força-motriz da integração europeia, teve em Charles de Gaulle o seu maior sabotador.

    Eu tenho minhas duvidas se ele realmente disse aquilo Brasil (“…n’est pas un pays serieux”). Mas isso não me tira a imagem de uma figura egoista, arrogante e que pensava que o mundo deveria reverenciar, no minimo, uma vez por dia a França).

     

    1. De Gaulle jamais disse a

      De Gaulle jamais disse a frase. O contexto está perfeitamente explicado pelo Embaixador Carlos Alves de Souza, Embaixador do Brasil em Paris na época da “guerra da lagosta”, em suas memorias, que eu tenho mas não me recordo o o

      nome.

      De Gaulle é um personagem unico, seu papel na representação da França que não se rendeu em 1940 teve um papel historico, ao que a França deve sua presença hoje no Conselho de Segurança, a França, vencida vergonhosamente em 1940, pelo papel de De Gaulle aparece em Potsdam em 1945 como uma das quatro potencias vencedoras e ocupantes da Alemanha rendida. De Gaulle preservou em sua pessoa a grandeza e o prestigio da França, um papel que a Historia jamais lhe negará. Fundou a 5ª Republica, que até hoje governa a França sob uma Constituição escrita por De Gaulle.

      1. tem razão acerca do embaixador

        Lembrei agora a razão de meu “q” atrás sobre esse diz-que-diz-que do de Gaulle. Era sobre o esclarecimento dado pelo embaixador do Brasil em Paris na época da querela das lagostas.

        Tenho uma admiração enorme por figuras como Monnet e Adeneuer, figuras-símbolo da integração europeia, que deram sequencia aos ideais pan-europeistas de Coudenhove-Kalergi (cuja mãe,  Lady Mitsuko, fascina até hoje o Japão)

        Pode-se muito admirar a defesa inequivoca do de Gaulle com as causas e com o interesse nacional francês. Mas a sua intransigência paralisou o frutífero processo europeu, sem o mínimo de consideração a outras partes do mundo que ajudaram na reconstrução institucional da Europa do pós-Guerra.

         

         

  5.  Por causa dessa cruzada

     Por causa dessa cruzada contra o dólar, o Presidente Nixon fez em 1971 um decreto desligando o dólar do seu lastro em ouro (US$35 por onça troy)

    Completamente errado. Nixon deixou o dólar flutuar porque havia uma fuga de ouro dos EUA, devido à recuperação das economias europeias e a criação de um mercado de ouro spot no Reino Unido.

    Aproveitando mais uma mancada de Motta Araújo em suas análises econômico-financeiras, o que dizer da adesão dos europeus ao banco de financiamento da China, diante dos inúmeros comentários de Motta Araújo de que as iniciativas chinesas eram piadas, levadas a sério apenas por países bolivarianos?

    Esse Motta Araújo….

  6. Sempre pesquisando………….

    Sempre é bom saber de fatos historicos através do GGN, na pessoa de AA.

    Sobre as relações de De Gaulle, com os norte-americanos, pouco sei, mas sempre considerei que era um grande nacionalista e a França deve-lhe muito, inclusive sua atual Constituição.

    Aos que se manifestam contra o homem, talvez com certa tendência a defender o Império em função da ajuda recebida, e também por outros fatores já bastante conhecidos pelos historiadores/pesquisadores, as quais declino em citar.

    Assim como ontem, os nacionalistas são sempre indesejáveis e rotulados de  “…  figura egoista, arrogante … “, que a midia na mão de quem bem sabemos, faz questão de divulgar diuturnamente ! 

     Outro que até hoje,  também personagem inigmático daquela época, e que me interessa sobremaneira, e o GAL

    PATTON. Mas que fique claro. Nem a biografia, e nem a historia oficial. 

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador