Diretor da CIA fez apelo para que Bolsonaro não atentasse contra o sistema eleitoral, noticia Reuters

Victor Farinelli
Victor Farinelli é jornalista residente no Chile, corinthiano e pai de um adolescente, já escreveu para meios como Opera Mundi, Carta Capital, Brasil de Fato e Revista Fórum, além do Jornal GGN
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William Burns, único alto funcionário do governo de Biden a manter algum contato com o atual presidente brasileiro, teria feito essa recomendação no ano passado, segundo a agência Reuters

O governo de Jair Bolsonaro foi advertido pelo diretor da CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos) sobre o erro em atentar contra o sistema eleitoral.

A informação surgiu nesta quinta-feira (5/5), em reportagem da agência Reuters, assinada pelos jornalistas Gabriel Stargardter e Matt Spetalnick.

O alerta foi feito durante encontro que teria acontecido em uma reunião a portas fechadas ocorrida em Brasília, em julho do ano passado, quando Bolsonaro recebeu uma comitiva liderada pelo próprio William Burns – que, segundo a matéria da agência estrangeira, além de diretor da CIA é o único alto funcionário do governo de Joe Biden que mantém uma relação de maior proximidade com o atual governo brasileiro.

Fontes anônimas escutadas pelos jornalistas da Reuters, e que tiveram acesso ao conteúdo da reunião, asseguram que, em um determinado momento, a delegação estadunidense teria recomendado aos principais assessores de Bolsonaro que o presidente deveria frear sua campanha para minar a confiança no sistema eleitoral brasileiro.

Na época o presidente brasileiro já promovia sua campanha para questionar a segurança das urnas eletrônicas e exigir o chamado “voto impresso”, que permitiria uma contagem paralela de votos durante a apuração.

A fonte não confirmou se o próprio diretor da CIA foi quem expressou a mensagem, mas afirma que ele era parte da conversa durante a qual ela foi entregue aos representantes do governo brasileiro – os quais seriam, segundo a matéria, o ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Alexandre Ramagem, então diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

Durante a mesma visita, segundo a matéria, também houve um jantar, no qual Burns teria conversado com Heleno e com o então ministro da Casa Civil (atual Secretário Geral da Presidência) Luiz Eduardo Ramos, para falar sobre as mesmas preocupações, a respeito do discurso de Bolsonaro contra o sistema eleitoral. A fonte afirma que os ministros tentaram tranquilizar o diretor da CIA, que teria insistido em ressaltar o perigo democrático presente na campanha de Bolsonaro.

“Burns estava deixando claro que as eleições não eram um assunto com o qual eles deveriam mexer”, assegurou a fonte anônima da Reuters, que acessou o conteúdo da reunião.

A reportagem da agência também disse que procurou fontes da CIA, que teriam se recusado a fazer comentários sobre a informação. Também enviou perguntas ao gabinete de Jair Bolsonaro, que sequer deu retorno à solicitação.

A visita de Burns a Brasília, ocorrida seis meses após o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio, foi o primeiro gesto de aproximação do atual governo estadunidense, liderado por Joe Biden, com Jair Bolsonaro – que, recordemos, apoiou abertamente a reeleição do ex-presidente Donald Trump, derrotado nas urnas pelo mesmo Biden.

A matéria da Reuters lembra que Bolsonaro é “um nacionalista de extrema direita que idolatra Trump, ecoou as alegações infundadas de fraude do ex-líder dos Estados Unidos nas eleições de 2020. Ele também lançou dúvidas semelhantes sobre o sistema de votação eletrônica do Brasil, chamando-o de passível de fraude, sem fornecer provas. Isso levantou temores entre seus oponentes de que Bolsonaro esteja semeando dúvidas para seguir o exemplo de Trump, e não reconhecer uma possível derrota nas eleições em 2 de outubro”.

“Em várias ocasiões, Bolsonaro aventou a ideia de não aceitar os resultados e atacou repetidamente o tribunal eleitoral do país. Na semana passada, em seu último ataque, Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, sugeriu que os militares deveriam realizar sua própria contagem paralela de votos ao lado do tribunal”, escreveram os jornalistas estadunidenses.

A matéria também afirma que duas das fontes escutadas alertaram para uma potencial crise institucional se Bolsonaro perder por uma margem estreita.

A Reuters também lembra que Biden e Bolsonaro não realizaram nenhum encontro formal desde a posse do presidente estadunidense, em janeiro de 2021. O brasileiro, ademais, foi um dos últimos líderes mundiais a reconhecer a vitória do líder do Partido Democrata sobre Trump, nas eleições do ano anterior. Se espera que o primeiro contato pessoal entre Biden e Bolsonaro aconteça em junho deste ano, durante a Cúpula das Américas, que acontecerá em Los Angeles.

Victor Farinelli

Victor Farinelli é jornalista residente no Chile, corinthiano e pai de um adolescente, já escreveu para meios como Opera Mundi, Carta Capital, Brasil de Fato e Revista Fórum, além do Jornal GGN

8 Comentários

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  1. Essa informação, de que o diretor da CIA aconselhou o presidente para que não atente contra o processo democrático tem a típica característica de vazamento plantado. Ou seja, credibilidade zero. Não é de hoje que a CIA usa desse tipo de expediente.

    A CIA sabe muito bem que é isso que ele planeja e, provavelmente tentará. E os EUA contam exatamente com isso. Teoria da conspiração? Pode ser, mas a guerra híbrida usa de táticas muito criativas para alcançar seus objetivos.

    Bozo se elegeu numa conjuntura de tempestade perfeita a seu favor, no clima da antipolitica criado pela Lava Jato. Outros fatores o ajudaram (a facada, a preferência velada da elite econômica e da mídia, etc.). Mas o governo dele não seria possível sem o apoio do Partido Militar. E se não sofreu um impeachment – razões não faltaram – é porque os militares, mesmo com desagrados, nunca o abandonaram. Porque isso significaria abrir mão do poder que passaram a exercer em todas as esferas da república, com uma dimensão de cargos nunca antes vista, nem no período da ditadura iniciada em 1964.

    Os que trabalhavam no serviço público em Brasilia nos meses que antecederam a eleição de 2018 sabem perfeitamente da quantidade de reuniões que ocorreram articuladas pelos fardados. Os convidados eram chamados a colaborar com a missão cívica que se avizinhava. Bozo, pra eles, era o mote para o retorno ao poder. Tal como muitos outros civis, escolheram acreditar que a besta seria “controlável”.

    Não duvidem: os militares não vão abrir mão facilmente deste poder que conquistaram. Quem quiser que se engane. Ao lado de declarações de que respeitarão o resultado das urnas, vemos movimentações bem claras para exercer uma tutela sobre o processo eleitoral.

    Para boa parte da elite econômica, Lula continua intragável. Bolsonaro é apenas um indesejável. Para os interesses dos EUA, não é muito diferente. Todos preferiam uma ”terceira via”. Frustrada essa saída, chegou a hora da verdade. É Lula ou Bolsonaro. Não tem outra opção, a não ser…melar o processo eleitoral.

    Bozo vai utilizar de todo o jogo sujo que conhece, mas sabe que será difícil a reeleição. Como não é adepto do jogo democrático, não atua para ampliar suas bases de apoio e buscar assim uma hegemonia eleitoral. Sua preocupação é apenas manter uma base minoritária fiel, porém numericamente significativa. Desde o inicio do mandato ele trabalha para manter essas feras radicalizadas, ruminado ódio e, principalmente, com pistolas e fuzis municiados.

    Não se iludam: Bozo não vai aceitar a derrota. O último sete de setembro foi um balão de ensaio, que ele usou para avaliar o potencial que tem em mãos. Sabia que ainda não era a hora de recorrer a um golpe, para a frustação de muitos de seus cães raivosos que acamparam em Brasília.

    Aproxima-se a hora do tudo ou nada. E o plano do Bozo é um só: se não posso ganhar, vou avacalhar. O que vai acontecer em breve fará a invasão do Capitólio parecer uma inocente pirraça infantil. E olha que lá morreram cinco pessoas.

    Temo pela vida de nossas lideranças populares e progressistas. Que se cuidem.

    Enfim, o caos está sendo cuidadosamente preparado. No meio da desordem e da balbúrdia, adivinhem quem vai se apresentar para recolocar a ordem social no país? Naturalmente, os enviagrados militares, sob os aplausos entusiásticos da mídia, dos empresários, dos banqueiros, da classe média e do judiciário.

    Bolsonaro, apeado do poder, ganhará alguma saída honrosa, pelos serviços prestados ao Partido Militar, que ademais é sempre incapaz de punir seus maus elementos. Depois tratarão de devolver o poder aos civis de forma negociada, como sempre fizeram na história do país. E com novas eleições em que o caminho da terceira via estará aberto. E claro, com o suprimento de viagra assegurado, entre outras benesses. Afinal, no Brasil a mamata veste farda.

    Tio Sam já está rindo de orelha a orelha.
    Fecha o pano.

  2. Humm! diretor da CIA? Hã!Hã! Debaixo dessa Ramagem tem muita malandragem. Em havendo verdade nesse boato, o “diretor da CIA deve ter dito: ” se é pra melar as eleições, deixa que nós fais”.

  3. Pode ser um “CALA A BOCA, MAGDA!”
    Ou um daqueles filmes policiais americanos em que operações sigilosas de uma polícia são expostas “inadvertidamente” por outra polícia.
    Em qualquer caso, invasão de jurisdição. Doutrina Monroe.

  4. Que destino o do capitão Momo Jair Bolsonaro. Após a vitória ele foi lamber as bolas dos picaretas da CIA nos EUA. Em troca, os gringos chutaram a bunda dele no Brasil. Após ser derrotado e enjaulado, ele ficará muito magoado se não for visitado pelo chefe dos “spooky agents”?

  5. Governo Bolsonaro a parte, eu vejo de um modo vergonhoso a intimidade autoritária e abusiva que os EUA impõe, sem nenhuma cerimonia, ao governo brasileiro. A partir daí, eu entendo a coisa é séria e ainda demorou bastante para ser descoberta e divulgada. É justo e lógico que cada governo responda pelo tamanho da sua fraqueza e/ou servidão ou, então, pelo tamanho de sua coragem e patriotismo.

  6. A gente até entende o Diretor da CIA e Reuters. Foi quase 1 século acostumados entre párias como Getúlio, Dutra, JK, Jango, Tancredo, Brizola, Itamar, FHC, Lula, Temer, Dilma…pensando ser aqui seu Quintal, um tal Paiseco, Anão Diplomático, ViraLatas. Ainda estão achando que podem dar palpite, como faziam em outros Governos anteriores. Este País submetendo-se aos Governos Medíocres acabou em 2018. Depois disto e novamente na próxima Gestão é o POVO PELO POVO PARA O POVO. Não adianta os donos da coleira querendo que volte a Cleptocracia dócil. Nunca mais !!!

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