A importância das palavras na Operação Lava-Jato

Da Folha de S. Paulo

Ainda as palavras

Por Janio de Freitas

Entre uma e outra estocada na defesa de Marcelo Odebrecht, o porta-voz da Lava Jato deu uma explicação que desexplicou muito bem a cirurgia feita em um trecho de depoimento, do já célebre Paulo Roberto Costa, referente àquele empresário preso há seis meses.

A frase em questão é esta: “(…) nem põe o nome dele aí porque com ele não, ele não participava disso”. E a frase na transcrição do depoimento pela Lava Jato: “(…) a despeito de não ter tratado diretamente o pagamento de vantagens indevidas com Marcelo Odebrecht”, e segue.

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, em considerações colhidas por Graciliano Rocha e Mario Cesar Carvalho para a Folha, diz que a transcrição do depoimento foi “fidedigna”, porque sua função é “resumir” o principal do que foi dito. É aí mesmo que aparece o problema do desaparecimento: onde está o resumo da frase que isenta o acusado pela Lava Jato? Dela não há sequer vestígio. O que aparece é outra frase. E a original nem ao menos era longa, já nascera resumidamente pronta.

A frase verdadeira não constou porque era “irrelevante”. Pois devia constar. É uma afirmação muito forte, clara e pertinente ao objeto fundamental da Lava Jato. Informação com tais características não deve ser retirada de inquérito ou processo, sirva à acusação ou à defesa, porque sobretudo servirá a quem julga.

A defesa de Odebrecht requereu, pelo advogado Nabor Bulhões, a volta do caso à fase de instrução e a inclusão de todos os vídeos de delação premiada. Assim como o juiz Sergio Moro em seu despacho, o procurador considera que o pedido pretende apenas retardar o processo. É uma dedução original: a defesa quer protelação com o seu cliente preso? E sabendo que, julgado, é possível que aguarde o recurso em liberdade?

Culpado ou inocente, empresário ou pé de havaiana, todo suspeito ou acusado depende da precisa isenção dos que o acusam e julgam. Ou, pelo menos, assim exige a democracia.

PS – O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima diz que deixará a Lava Jato neste semestre. Por cansaço. Cansaço requer descanso, não necessariamente transferência. E seria como fechar um canal de vazamento em uma adutora.

AÉREAS

A aviação proporcionou uma tríplice coincidência temática na semana. Para continuar aqui na boa companhia da Lava Jato, sua investigação da OAS roçou, há pouco, o que foi uma armação grande mas frustrada: a concessão de aeroportos. Alguns indícios semelhantes à preparação de concorrências antigas me sugeriram, na época, haver algo estranho no plano defendido pela Secretaria de Aviação Civil. A partilha pretendida não fora possível, por conflito de interesses entre as grandes empreiteiras. Então foi imaginada a alternativa de veto a certas participações na disputa dos aeroportos restantes, a começar do Galeão.

Batalha dura: como ministro da Aviação Civil, fortalecido por Michel Temer, Moreira Franco e, de outro lado, contra as restrições, Gleisi Hoffmann, então chefe da Casa Civil. (No caso a OAS, por via de sua associada Invepar, era uma das vítimas da armação). As restrições foram derrubadas, concorreu quem quis. E, como uma das consequências, os planos de aeroportos acompanharam Moreira pela porta de saída.

Nos últimos dias, emperrou a nomeação de novo ministro da Aviação Civil. Não bastando o desatino de haver tal secretaria, sua finalidade é servir de moeda suja para a compra de apoio ao governo. Agora, a nomeação do obscuro Mauro Lopes facilitaria a decisão pró-governo da liderança peemedebista na Câmara. Seu conhecimento de aviação: o mesmo de Moreira Franco.

Na aviação a sério, o laudo do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos, o Cenipa da Aeronáutica, mostra variadas fraquezas no confronto com o laudo encomendado pelas famílias dos pilotos mortos com Eduardo Campos. Desorientação espacial do comandante, sem que o copiloto ao menos tente a correção, nem é plausível, nem se ajusta à repentina queda em mergulho. Cansaço para um voo entre Rio e Santos, depois de mais de 30 horas de descanso, dependeria de muito despreparo físico dos dois pilotos. E inexperiência com o modelo de avião, depois de 90 decolagens e pousos com ele, seria imitar na cabine os ministros da aviação em seu gabinete.

Redação

10 Comentários

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  1. Estelionato

    Um mínimo conhecimento de semântica distingue as diferenças entre o falado e o transcrito.  Incompetência e falta de discernimento? Não vem ao caso. Nao chega sequer a interpretação. É ocultacao e falsificação dos fatos.

  2. Não vai dar em nada, mas a gente se diverte

    Postado por um internauta no Conversa Afiada

    JAPONÊS?
    AÇÃO CONTRA MORO ESTÁ COM A MINISTRA NANCY ANDRIGHI.

    Miniatura

    Sorteio realizado no dia 6 de maio no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) definiu que caberia à ministra Fátima Nancy Andrighi, Corregedora Nacional de Justiça, julgar a representação elaborada pelo Blog da Cidadania, de Eduardo Guimarães, contra o juiz responsável pela Operação Lava Jato; documento, motivado pela prisão indevida da cunhada de João Vaccari Neto e pela “omissão” de Sérgio Moro no que diz respeito à investigação de vazamentos da investigação, recebeu o apoio de
     

    http://www.brasil247.com/pt/24

    1. essa matéria merecia ser

      essa matéria merecia ser elevada a post para que todos

      comentassem, já que é uma boa abertura para que se evite

      os constanes “equívocos” do dito juiz sérgio moro….

      1. bem recomendado…

        a questão pode ser de “entranhas”…………………………………..

        falhas absurdas de transcrição que muitas vezes já alteraram completamente o que foi delatado

        muita coisa acontecendo ilegalmente até chegar aos olhos do juiz

        ao comparar com Satyagraha e Castelo e percebi que o principal “inimigo” segue invisível, pois toda atenção em Moro permite

        1. ou de “bloqueios”…

          algo absurdo, ser pelo bloqueio que tudo passa, que tudo conseguem aprovar

          é pelo bloqueio que temos a extensão da injustiça, da perseguição política, do castigo público

          é pelo bloqueio e falhas de transcrição aceitas como verdade que nunca foi tão difícil conseguir um HC

          1. Bloqueio?

            É bem diferente de divulgação seletiva (o que não deixa de ser um tipo de censura e vazamento coadunados a interesses, no caso, ideológico-partidários. Outra coisa é adulterar documentos e fatos a partir dos mesmos interesses, tocando o f…..ao equilíbrio da libra.

          2. bloqueio…

            de reações……………………………

            sem manobras, é juridicamente impossível lava jato ser tão perfeita

  3. omissão, sonegação de

    omissão, sonegação de informações, isso pode ser

    investigado como prevaricação???

    a que código os advogados acham que isso deve responder????

    isto é, qual a palavra da lei que pode condenar esses aí que infringem a lei????

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