A nova procuradora-geral: ameaça à centralização de Janot, não à Lava Jato

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Gil Ferreira/Agência CNJ
 
Jornal GGN – Michel Temer não ousou romper a tradição de nomear ao cargo máximo do Ministério Público Federal (MPF) os mais votados pelos procuradores da República. Mas, provocativamente, escolheu a segunda colocada da lista tríplice e a candidata que despontava como uma das principais oposições a Rodrigo Janot. 
 
A subprocuradora-geral da República  Raquel Elias Ferreira Dodge já estampava na última eleição, de 2015, o procurador-geral como “um pensamento único e hegemônico”, sem diálogo com os demais membros do órgão.
 
A ameaça da mais nova procuradora-geral não é em relação à descontinuidade das investigações da Operação Lava Jato, mas ao jogo de poder determinado por Janot nestes últimos quatro anos em seus dois mandatos consecutivos. 
 
Em evento realizado pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), em agosto de 2015, Raquel indicava que trabalharia para o “diálogo” e coesão entre os membros do Ministério Pública. 
 
“O princípio da unidade da ação institucional opera o bom efeito de exigir a integração institucional”, dizia, sem deixar de enfatizar: “Também não pode afastar independência funcional na decisão de posição contrária. São princípios que se harmonizam e contribuem para a eficiência da atuação institucional, sem determinar um pensamento único e hegemônico”.
 
No início do ano, foi a subprocuradora que encampou a proposta que ameaça a centralização adotada por Janot em suas indicações nos cargos mais próximos de seu gabinete e de atuações estratégicas. A resolução do Conselho Superior do Ministério Público definiu limites para a convocação de procuradores pela PGR.
 
A medida impôs que a Procuradoria não poderia retirar mais de 10% do contingente de procuradores de uma determinada região, alocando à grupos da PGR. A restrição tentava manter os orçamentos da Procuradoria no Distrito Federal, que não poderia ter uma grande diferença de recursos em relação aos demais MPF regionais. A ideia que partiu de Raquel também visava descentralizar o controle do procurador-geral.
 
E, apesar de ser a segunda colocada, obteve 578 votos contra 621 de Nicolao Dino, o apadrinhado de Janot. Com respaldo e história dentro da Procuradoria, Raquel Dodge leva coerência ao compromisso que expõe de “plena continuidade do trabalho contra a corrupção da Lava Jato, [operações] Greenfield, Zelotes e todos os demais processos em curso”, conforme disse à reportagem da Folha de S. Paulo.
 
Contradição os apontamentos do grupo de Janot e compradas pelos principais jornais, de relações da subprocuradora com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, de Torquato Jardim, de peemedebistas como Renan Calheiros, José Sarney e Osmar Serraglio.
 
Raquel atuou em 2009 na Operação Caixa de Pandora, que revelou o mensalão do DEM e gerou a prisão do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PR). Foi uma das responsáveis pela condenação do ex-deputado Hildebrando Pascoal, conhecido pelo assassinato com uma motosserra em 1996, e em 2003, amparou a ação que prendeu o ex-presidente da Assembleia do Espírito Santo, José Carlos Gratz (PSL).
 
Em debates organizados pela ANPR este ano, defendeu que a Operação Lava Jato seja mais célere, não se posicionou contra as delações premiadas, mas disse que o delator também deve reparar o prejuízo e que haja “proporcionalidade” entre as provas entregues e os benefícios concedidos. Defendeu que o combate à corrupção “não só é dever como deve ser prioridade, porque tem a ver com tudo aquilo que é a missão principal do Ministério Público”. 
 
Leia mais:
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Incertezas na disputa para sucessão de Janot na Procuradoria-Geral da República
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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Raciocinando de forma

    Raciocinando de forma inversa: se a Ela Wiecko e o Eugenio Aragão fossem os outros dois escolhidos da lista tríplice Temer e Gilmar os escolheriam? Não, vem aí mais do mesmo.

  2. Cadeia a juizes pgrs e promotores Blindadores e Blindados AntiPT

    Nossos parabens à dodge, deve estar orgulhosa por ter sido escolhida, e aceitado, por um filhodaputa golpista apátrida traidor ladrão psicopata.

    Solicite seu Dodge

  3. A nova procuradora-geral: ameaça à centralização de Janot

    Aos préjulgamentos devemos colocar um grande ponto de interrogação.

    A dra. Raquel tem a sua história dentro do MPF que indica uma atuação, diria, republicana.

    Ao que se vê.

    De outro lado, uma anunciada proximidade a alguns conhecidos  nomes não melhora a expectativa.

    Não será uma tarefa fácil tocar o monstrengo a uma atuação independente dentro do marco legal.

    Vamos aguardar para, no andar da carruagem, criticar e elogiar cada passo.

    Os preconceitos são apenas isso: pré conceitos.

     

     

     

    1. Expectativas

      Está certo.

      Vamos agurdar. De pronto só uma restrição. Empenhar-se por uma nomeação presidencial no momento atual não é algo a provocar expectativas de atuação fora dos padrões em vigor.

  4. De casuísmo em casuísmo…..

    Deveria  haver alguma  cláusula nas  leis  que impedissem governantes  de escolher  seus  algozes durante processos  judiciais  em execução ou em vias  de ….

    No máximo, referendar  ao final das batidas do martelo pelo congresso !

    Mesmo este sendo composto pela pior  espécie  de verme político que se tem notícia  por  estas  bandas !!

    Os  casos  dos  2 juízes nomeados no TSE,  o apadrinhado no STF  e  agora  a rifa  do desafeto cabeça-de-lista  indicam que este modus-operrandi   da democracia, não funciona  bem por  aqui !!

  5. Acho que nisto o Temer é melhor que a Dilma e o Lula juntos.

    Esta muié num pode sê pió que o Gurgel ou o Janot !!!

    Inda digo mais !!! Acho que o Moraes será mió que Fux, Carmem Lúcia, Joaquim Barbosa, Barroso, Toffoli, Rosa Weber (Vai errá assim na China!!!)

     

  6. Escolha da Procuradora e Ministro.
    Mulher nota 1000 culta e sensata e um Ministro que apontou a solução ao impasse da delação no STJ. Este está me surpreendendo vindo de onde veio, porem, observe-se que todos vieram do mesmo FORNO.

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