Coluna Econômica – 22/04/2010
O jogo de Belo Monte não acabou. Ao contrário do que se supunha, Odebrecht e Camargo Correa – as duas maiores “barrageiras” nacionais – não saíram da disputa. O anúncio foi uma maneira de pressionar a Empresa de Planejamento Energético (EPE) a melhorar as condições do lance máximo de R$ 83,00 o mwh. Mesmo assim, a ideia seria a de se acoplar ao consórcio da Vale do Rio Doce, favorito para a disputa.
No entanto, acabou vencendo o consórcio CHESF, composto pela estatal e um conjunto de empreiteiras de menor expressão. O valor do lance acabou provocando a saída de alguns integrantes do consórcio, abrindo espaço para a volta das duas empreiteiras – reduzindo, assim, o risco de entrega da obra.
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Por outro lado, há uma imensa discussão sobre a obra que passou despercebida da mídia em geral.
Por suas características – de ter bobinas no fio d’água, para não precisar alagar grandes áreas (como no desastroso projeto de Balbina) – a energia firme de Belo Monte é de cerca de 39% da potência máxima das turbinas. Quando o rio Xingu chegar a 1.000 m3 – segundo o leitor Francisco del Moral Hernandez, em uma discussão no meu blog (www.luisnassif.com.br) – corre-se o risco de nenhuma turbina efetivamente funcionar.
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Há uma imensa discussão sobre a relação geração de energia versus área alagada. Críticos da obra consideram que, nas análises, não se levou em conta o alagamento ao longo do rio – limitando-se a considerar apenas na área das turbinas. Defensores sustentam que, na pior das hipóteses, a relação será duas vezes mais favorável do que em Tucuruí.
Um grupo de 42 pesquisadores produziu parecer encaminhado ao IBAMA e ao Ministério Público Federal durante o processo de licenciamento ambiental. Compunham o grupopesquisadores e professores de antropologia, sociologia, engenharia mecânica, engenharia elétrica, de infraestrutura, biólogos, ictiólogos , profissionais da área de saúde, entomólogos, engenheiros florestais, geógrafos, hidrólogos, economistas, ecólogos, de várias Universidades do Brasil como USP, UNICAMP, UNB, ITA, UFPA, UFRJ, UFSC, INPA e algumas do exterior.
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A grande questão que se coloca é sobre as alternativas à hidroeletricidade da Amazônia. Em muitos casos, tem havido rapidez no licenciamento de termoelétricas, muito mais poluidoras do que hidrelétricas. Em outros casos, recorre-se a energia alternativa cara, como a eólica.
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Todas as ressalvas ambientais não ajudam a resolver o pepino da necessidade do país produzir energia – de preferência barata e ambientalmente correta – para fazer frente às suas necessidades nas próximas décadas.
Não se considera a Justiça do Pará, o Ministério Público Federal e os ambientalistas meramente como xiitas. Há todo um arrazoado sobre os estragos que uma hidrelétrica poderá causar no ecossistema da Amazônia – embora muito menor do que Balbina e outras construídas pelo sistema tradicional de criação de grandes lagos.
A questão é que os trabalhos não contemplam a análise das alternativas. Sem isso, fica-se no sonho verde e em um país sem energia.

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