As manobras de Cunha para abafar provas de denúncia da Lava Jato

Em mais um episódio que volta-se contra ele, o presidente da Câmara aprovou norma que autoriza funcionários usarem senhas de deputados
Jornal GGN – O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), investigado como um dos líderes do esquema de corrupção da Petrobras com o PMDB, tenta romper, a todo custo, elos de possível comprovação de seu envolvimento. Em mais uma manobra para tentar burlar as possíveis provas no sistema de informática da Câmara, Cunha comandou uma reunião para autorizar deputados a escolher assessores no uso de suas senhas pessoais no sistema digital.
A reunião foi marcada na última quarta-feira (06), quando foi negociado com a cúpula da Câmara a nova norma. A ação é uma das sucessivas que os jornais vem revelando, em indícios de que o presidente da Casa estaria tentando abafar comprovação da denúncia contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com o pedido de investigação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviado ao STF, Cunha teria arquitetado a elaboração de dois requerimentos na Câmara, questionando informações dos contratos da Petrobras com a Mistui – empresa que pagaria propina para Cunha e para o PMDB – como forma de coerção, pela suspensão dos pagamentos.
As informações constavam na delação premiada de Alberto Youssef. Esses requerimentos foram apresentados na Câmara em 2011, sob o nome da então suplente do deputado Solange Pereira de Almeida, hoje prefeita de Rio Bonito (RJ). Entretanto, os registros eletrônicos mostram Cunha como autor dos requerimentos, o que comprovaria as delações de Youssef.
Em outra manobra, o presidente da Casa teria também demitido o diretor da área de informática da Câmara, Luiz Antônio Souza da Eira, no dia 28 de abril. O diretor era concursado e, após sua exoneração, apresentou-se espontaneamente à Procuradoria-Geral da República, para prestar novas informações. O depoimento de Eira foi o que motivou a busca de documentos pela Força Tarefa da Lava Jato na Casa Legislativa.
Até então, as investigações que miravam Cunha, na lista de diligências pedidas ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não incluíam esse acesso. Entre segunda (04) e terça-feira (05), os procuradores fizeram a vistoria na seção de informática.
A demissão de Luiz Antônio Souza da Eira ocorreu um dia após o jornal Folha de S. Paulo revelar a ligação do nome de Cunha nos requerimentos, e não apenas no de Solange Pereira de Almeida, como até então entendia o Ministério Público.
A Procuradoria mostra-se empenhada na busca de provas.
Eduardo Cunha havia solicitado o arquivamento das denúncias contra ele no envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras, e a resposta de Janot, também na última semana, foi de que existem “elementos muito fortes” para continuar a investigação. Cunha havia alegado “fraude” no apontamento de seu nome nos requerimentos dentro da seção de informática. Janot denominou como “despropositada” a versão do presidente da Câmara, e disse que não havia “qualquer indício de fraude”.
Novamente, as tentativas voltam-se contra ele. O ato da Mesa da Câmara 25/2015, aprovado na quarta-feira (06), decreta que o sistema identificará como válidas as entradas do servidor que receber a delegação do deputado. Esse funcionário “responderá civil, criminal e administrativamente pelo uso indevido dos limites de delegação”.
Até então, a senha de acesso dos deputados no sistema digital era “pessoal e intransferível”. Eduardo Cunha justificou que o ato já era usado e que foi apenas regulamentado. A nova regulamentação da Casa validaria a tese de Cunha de que algum funcionário do gabinete, de porte da sua senha, teria apresentado os requerimentos registrados em seu nome.
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

View Comments

  • senhas na câmara

    Não seria mais lógico e seguro, criar senhas para os assessores, com limitação de acesso e de procedimntos?

    Saberse-ia com clareza quem fez o que...

    Não há limites para a incoerência ...me engana que eu gosto!

  • Tenebrosos tempos

    Do jeito que a coisa anda, o funcionario que piscar, acabara pagando o pato no lugar de quem o comeu. Esse Cunha vai terminar na lata do lixo da historia.  

  • Terceirizando o mandato...

    É o fim da picada !!  Daqui a  pouco os  Aspones  estarão votando no lugar  dos "esnobes deputados"...

    Não é  novidade, já que a Roza Web já havia terceirizado seu parecer sobre Zé Dirceu para  seu aspone sergio morro !!

  • Essa nem o detetive da

    Essa nem o detetive da Pantera cor-de-rosa imaginaria. Criar um álibi depois de ser flagrado no ato. Eita, delinquente precavido,  já está pensando nos futuros crimes! Vem mais pela frente e algum pato vai pagar.

  • Cunha,o manobrista ou,o manobrador,seja qual for,tá lascado!

    Cunha,você está sendo monitorado.Já era.

  • A senha é pessoal e

    A senha é pessoal e intranferivel, se não, não seria uma senha. Não importa a quem você repaosou sua senha, ainda é o sertificado de um usuario, no caso o deputado. Se ele entregou a senha se responsabilizou pela medida. Ainda é responsavel, mesmo sendo um irresponsavel.

     

     

  • Segundo a Teoria do Domínio

    Segundo a Teoria do Domínio do Fato ele tá ferrado!

    Essa manobra é inócua, pois um ato da Mesa da Camara não pode interferir na interpretação de norma penal. 

  • O Cunha é bom de manobras e curvas!

    Se e somente se ele não fosse extremamente habilidoso já estaria enjaulado a tempos!

    O cara é FERA!

  • Se foi regulamentado passa a

    Se foi regulamentado passa a valer apenas APÓS a regulamentação, ou a mesma poderia ser "retroativa"?

    De qualquer modo, creio que esta manobra será inóqua.

     

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