Caso mensalão leva OAB e relator de extinta CPI a cobrar tratamento igual para presos doentes

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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José Carlos Oliveira

OAB e relator da extinta CPI do Sistema Carcerário cobram solução igualitária para presos doentes. Os recentes pedidos de prisão domiciliar para ex-deputados doentes e condenados no processo do mensalão causaram polêmica diante dos centenas de presos doentes mantidos nos presídios brasileiros.

A Vara de Execuções Penais do Rio Grande do Sul, por exemplo, informou que cerca de 90% das 278 mortes ocorridas nos presídios da região metropolitana de Porto Alegre foram causadas por doenças, nos últimos quatro anos. Muitos deles tinham Aids, tuberculose e outras doenças que não receberam o devido atendimento.

No Mato Grosso, um mutirão da Vara de Execuções Penais também registrou grande quantidade de presos doentes. A Câmara investigou o caos do sistema carcerário brasileiro entre 2007 e 2008 por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. O então relator da CPI, deputado Domingos Dutra, do SDD maranhense, lembra que já existem leis suficientes para resolver o problema. Ele acredita que a atual prisão de pessoas influentes ajude a implementar essas leis na prática.

“Enquanto o sistema carcerário for depósito de gente pobre, ele vai continuar invisível, a não ser quando há rebeliões. Mas, quando se prende algumas pessoas de posse, aí todo mundo se lembra que cadeia no Brasil é um inferno e não recupera ninguém.”

O quadro encontrado pela CPI nas penitenciárias brasileiras mostrava um sistema falido, superlotado e insalubre. Atualmente, existem mais de 500 mil presos no Brasil, apesar de o número oficial de vagas estar em torno de 300 mil. No primeiro semestre deste ano, a Ordem dos Advogados do Brasil já havia proposto ao Ministério da Justiça um mutirão carcerário.

O presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinícius Coêlho, disse que a intenção é cobrar um “choque de gestão e de qualidade” nas prisões.

“O mutirão carcerário jurídico é uma oportunidade de verificarmos aqueles que realmente já possuem direito a uma prisão domiciliar ou se a questão da saúde exige outro tratamento. Também precisamos de meios alternativos, como a própria tornozeleira, que talvez fosse mais barato para o Estado brasileiro do que manter os presos trancafiados como atualmente. E temos a necessidade de termos um sistema de trabalho nas penitenciárias. Os presos ficam ociosos o dia todo e o ócio é o maior amigo dos vícios.”

Quanto à oportunidade de se fazer esse mutirão agora, ainda em plena repercussão da prisão de políticos, banqueiros e advogados envolvidos no mensalão, Marcus Vinícius Coêlho afirma que “não se trata de negar direitos aos presos ricos, mas de garantir aos presos pobres os direitos já assegurados por lei”.

“Se há preso doente que não tem possibilidade de tratamento de saúde adequado na penitenciária, ele acaba sendo submetido a uma pena de morte se não tiver o tratamento de saúde. E a Constituição federal veda a pena de morte em nosso país.”

Coêlho acrescenta que a mesma lei que pune também determina tratamento digno ao cidadão, inclusive aos presos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Nesse caso, comprovada doença

    Nesse caso, comprovada doença infectocontagiosa de presos, até mesmo os outros considerados sãos tem direito de exigir a saída do presídio desses enfermos, até por questão de sobrevivência.

  2. E o mensalao tucano

    Tá tudo bem saúde para todos que bacana ver a elite tupiniquim preocupada com a saúde da população carcerária, enfim, eh o mensalão pau pra toda obra, mas espero que a OAB ét. Caterva exija para réus do mensalao tucano tratamento igual ao que vimos no julgamento do mentirão

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