Confrontada por Gilmar, Lava Jato continua lançando fumaça sobre a indústria da delação

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – A força-tarefa do Ministério Público Federal na Lava Jato continua lançando uma cortina de fumaça sobre a indústria da delação premiada. 
 
Na semana passada, o ministro Gilmar Mendes revelou no plenário do Supremo Tribunal Federal que o advogado José Roberto Batochio foi expulso da defesa de Antonio Palocci porque “Curitiba assim exigiu”. 
 
Gilmar disse aos colegas de Corte que, na prática, os procuradores escolhiam quem eram os advogados que poderiam negociar os acordos de delação premiada. 
 
Além de também mencionar o caso Marcelo Miller, Gilmar recomendou que a procuradora-geral da República Raquel Dodge investigue o caso do procurador Diogo Castor de Mattos. O ministro Luiz Fux concordou que o caso é grave e merece apuração.
 
Em resposta, o Ministério Público Federal partiu para o ataque a Gilmar, chamando o ministro de desequilibrado. Além disso, ressuscitou a mesma desculpa que usou quando a Folha revelou que o irmão do procurador Diogo, o advogado Rodrigo Castor de Mattos, estava atuando na defesa de Mônica Moura, esposa do marqueteiro João Santana.
 
À época, a Lava Jato tratou de dizer que Diogo não participou da delação do casal Santana e afirmou que o acordo de colaboração foi feito em março, e que o escritório Castor de Mattos só entrou na defesa no mês seguinte.
 
Ocorre que o GGN mostrou, com base em documento da própria Lava Jato, que há indícios de que o escritório de Rodrigo Castor vinha atuando no acordo de delação de Mônica Moura muitos meses antes, e por baixo dos panos.
 
Pelas matérias que sairam na imprensa, a cronologia dos fatos é a seguinte:
 
– Em fevereiro de 2016, o casal Santana é preso;
 
– Em julho de 2016, o estagiário do escritório de Rodrigo Castor de Mattos registra em cartório uma imagem da conta de e-mail de Mônica Moura, que delatou supostamente ter trocado correspondências com a ex-presidente Dilma Rousseff;
 
– Em agosto de 2016, Sergio Moro solta o casal;
 
– A delação do casal Santana é concluída em 8 de março de 2017.
 
– Em 17 de abril de 2017, o escritório de Rodrigo Castor de Mattos pede oficialmente a Moro para integrar a banca que defende Santana;
 
– Em maio de 2017, após questionamentos sobre o parentesco de Rodrigo com o procurador Diogo, o advogado se afasta oficialmente do caso, segundo o informe do MPF;
 
– Cerca de 3 meses depois, em agosto de 2017, Moro autoriza a liberação de R$ 10 milhões das contas do casal Santana, para pagar “honorários advocatícios”, entre outras despesas pessoais não detalhadas;
 
– O juiz só recua da decisão, segundo notícias do dia 21 de agosto, porque a Procuradoria da Fazenda se manifesta contrariamente ao pedido de Santana.
 
 
Mais de um ano depois, a polêmica sobre a falta de transparência neste acordo de delação volta à tona por conta das declarações de Gilmar. 
 
E as conexões entre advogados e procuradores continuam nebulosas.
 
A Lava Jato nunca explicou o documento que mostra que um estagiário do escritório de Rodrigo Castor de Mattos atuava na delação do casal Santana desde 2016, por baixo dos panos, porque a defesa oficial era atribuição dos advogados Alessi Brandão e Juliano Campelo Prestes. 
 
 
Desenrolando esse novelo há ainda mais pressão sobre a Lava Jato, pois Campelo, que assumiu a defesa de Monica Moura em março de 2016, atuou no acordo de colaboração de Milton Pascowitch junto com Theo Dias, advogado responsável pela delação da Oderebcht. 
 
Lava Jato nunca foi instigada a dizer se não enxerga o conflito nessas representações. Santana foi processado por receber dinheiro da Odebrecht no exterior.  
 
O escritório de Rodrigo também teria representado o advogado de Alberto Youssef, Carlos Alberto Pereira da Costa, um dos primeiros a colaborar com os procuradores de Curitiba.
 
Leia mais aqui: O caso João Santana e o advogado irmão do procurador, por Luis Nassif
 
Na semana passada, a bancada do PT na Câmara informou que vai buscar saber por que a Procuradoria-Geral da República ainda não apurou o que acontece nos bastidores de Curitiba. Se entender que houve prevarização por parte de Raque Dodge, os parlamentares prometeram acioná-la no Supremo.
 
Leia também: Xadrez da Lava Jato em família
 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

10 Comentários

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    1. já rola por aí que, entre os que calculam, que 90% dessa dinheirama toda é para pagamento de pessoas

      em nome das instituições e de escritórios

  1. Curioso!!!!

    Moro mandou liberar do bloqueio dinheiro para pagamento da defesa de um delator, que se diz réu confesso. Em outro momento Moro manda bloquear os bens de Lula para que ele não tenha dinheiro para pagar a defesa.

    Será que há algum conflito de interesses nisto?

  2. A ORCRIM Fraude a jato e batons nas cuecas

    Desde que foi deflagrada, em março de 2014, chama o a Fraude a Jato pelo que É e SEMPRE FOI: uma ORCRIM institucional, composta por policiais, procuradores e juízes. Afirmei também que o alto comando fica no exterior e que todo o aparato estatal brasileiro, inclusive o sistema judiciário de repressão, foram cooptados pelo alto comando. As oligarquias locais também fazem parte da trama golpista, mas elas têm paple secundário e serão enquadradas depois, pelo alto comando.

    Toda essa turma de policiais federais, procuradores e juíizes lavajateiros são criminosos de Estado, cometendo crimes em série. As evidências e provas desses crimes são fartas, mas pelo fato das instituições brasileiras serem hoje parte desse crime organizado impede que tais crimes sejam denunciados e oc criminosos de Estado recebam a devida punição.

    O principal inimigo do Brasil  é a ditadura da toga e seus agentes (policiais, procuradores e juízes) e seus chefes, do alto comando, que ficam no exterior. Em seguida, o PIG/PPV.  Depois vêm as FFFAA, omissas, coniventes, cúmplices e partícipes da trama golpista. Apenas depois dessas é que vêm as oligarquias políticas e empresariais brasileiras.

  3. Nassif;
    Nesta matéria nada

    Nassif;

    Nesta matéria nada foi citado sobre a desistência inesperada da Advogada Capa Preta em atuar em delações premiadas, que teve que sair do Brasil.

    Seria oportuno aprofundar este assunto também.

    Temos que usar a tática de irmos atrás do dinheiro, certamente chegaremos ao juiz de piso e esposa.

    ET: Alguém saberia me informar o por que este juiz está novamente em Havard???, viaja com muita frequência este cara ein!!!!

    Genaro

  4. mas, confesso, me recuso a acreditar…

    talvez porque sou do tempo em que havia separação……………………..

    havia os que investigavam

    havia os que denunciavam

    havia os que defendiam

    havia os que julgavam

    e não havia os que negociavam para o bem de todos

    se hoje houver, menos, é claro, para o bem dos que são condenados e presos para negociar

  5. Talvez, mas, só talvez (os

    Talvez, mas, só talvez (os deuses que me livrem desses maus pensamentos), que a dodge polara ou alguém próximo também se aproxime da dinheirama que irriga o canal das delações em uritiba? Nossa, que descalabro! Agora, o desMoronado liberar 10 milhões dos santaninhas para pagar honorários… seria pública a tal prestação de contas entre os santaninhos e seus (argh) advogados? Será que o mpfuritiba e o desMoronado têm tanto desprezo pelos advogados em função do que os advogados de uritiba fazem nas delações, mesmo que eles delas se acumpliciem? Sabe cumé: pau que nasce torto… Enfim, houvesse presidentA no stefezinho-de-araque a dirigir as correições no cnjotazinho-de-arapuca e esses desMoronados estariam presos há muito tempo, a partir de suas abertas e claras suspeições. Mas, como nem há stfozinho, muito menos cnjotazinho, todos acolherados pela dona carmencita-morrida-de-medo-da-rede-globosta… Haja saco morar neste país de merrecas.

    Mas, consideremos, ainda: um ministreco do stjotazinho faz uma denúncia dessas em plena sessão oficial e a dodge polara, presente, nem pisca. E a dona carmencita nem pisca. E ninguém pisca. Estariam todos piscando em outros lugares?

  6. Democracia Já !

    Espero que haja tempo de julgar os Traidores da Pátria.

    O que os democratas estão esperando ?

    É só fazer um risco no chão: de um lado os Democratas e do outro lado os fascistas e os traidores da pátria.

    Unidade já ! Democracia Já !

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