Corrupção com empresa de ônibus no Rio ocorre desde 1990, diz delator

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi foram alvos da Operação Cadeia Velha em novembro de 2017 – Foto: Reprodução

Da ABr

O doleiro Álvaro Novis, colaborador em um acordo com o Ministério Público Federal, declarou hoje (23) ao juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, que o esquema de pagamentos ilícitos a partir de dinheiro recolhido de empresas de ônibus, que teria beneficiado, entre outras pessoas, os deputados estaduais Paulo Melo e Jorge Picciani, funcionava desde a década de 1990. Segundo ele, o total de pagamentos a todos os beneficiados pode chegar a R$ 1 bilhão até meados dos anos 2010, “em uma conta aproximada”.

Novis depôs como testemunha no processo e contou que fez pagamentos ilícitos aos deputados estaduais do MDB em nome da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor) e da construtora Odebrecht. Segundo ele, os parlamentares chegaram a receber mais de uma vez por mês por meio do esquema.

O doleiro explicou que o esquema era abastecido pelo recolhimento de dinheiro na garagem de empresas de ônibus, por meio de empresas transportadoras de valores. Esse dinheiro era trocado para notas maiores e, segundo Novis, os pagamentos se davam conforme orientação do empresário José Carlos Lavouras, ex-presidente do conselho de administração da federação. A partir das indicações do empresário, Novis pedia que os funcionários de sua corretora, a Hoya, disponibilizassem os pagamentos, que podiam ser feitos por eles mesmos ou pela transportadora de valores.

A Agência Brasil entrou em contato com a defesa de Picciani, que afirmou que se manifesta apenas através dos autos do processo. Já a defesa de Paulo Melo reafirmou que “se trata de uma mentira de um delator sem qualquer prova de corroboração”.

Os dois deputados foram presos na operação Cadeia Velha, que apura o pagamento de propinas aos parlamentares para o favorecimento de interesses privados.

Motivo

O doleiro afirmou em seu depoimento de hoje que não tinha conhecimento do motivo dos pagamentos e que os parlamentares recebiam o dinheiro através de representantes, em endereços no centro do Rio de Janeiro e na zona sul. “Se o motivo (dos pagamentos) fosse legal, não precisariam de mim”, disse o doleiro.

A operação do esquema da Fetranspor permitiu que o doleiro identificasse os pagamentos feitos aos parlamentares no esquema da Odebrecht, em que, segundo Novis, eram usados codinomes e senhas para impedir a identificação dos beneficiados. Esse sistema, alega ele, fez com que desconhecesse 95% das pessoas que recebiam o dinheiro da construtora no Rio de Janeiro e em São Paulo. As planilhas com os pagamentos, chamadas de Carioquinha e Paulistinha, foram entregues à Justiça.

Outra pessoa ouvida hoje foi o réu e colaborador Edimar Dantas, que trabalhava na corretora de Novis. Dantas disse que Paulo Mello chegou a solicitar mais de R$ 1 milhão em um mês, e que o pagamento de valores desse patamar se dava em parcelas.

Edimar Dantas detalhou parte das informações prestadas por Novis e disse que os pagamentos eram sempre efetuados em espécie, e que foi preciso estabelecer um limite de R$ 500 mil para cada pagamento por motivo de segurança. Dantas disse que o dinheiro que havia sido disponibilizado para os parlamentares pela Fetranspor e pela Odebrecht era entregue conforme eles solicitavam, e que os pedidos não eram feitos todos os meses.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. 40 ANOS DE REDEMOCRACIA

    E a gente não sabia disto? Que o Esquemão de Ônibus no RJ entrou juntamente com o novo Ciclo Redemocrático que o país instaurava. Ladrão são os outros. Agora faremos Politica de outra forma !! Socializante !! Combateremos a Corrupção !! Estado apodrecido e corrupção são coisas de Tempos Ditatoriais !! Diz aí Sérgio Cabral? Todo esculacho que caricaturou no Pasquim, finalmente será exposto, não é mesmo? Ainda mais agora, que seu Filho comandará o RJ. Novos tempos. Novo país. Redemocracia !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Nada como um dia após o outro. Cabralzinho estudou na mesma escola de Socialistas Democratas como a Filha do Serra ou Aécio ou Maiazinho ou o filhotão do FHC. Aprenderam direitinho. Ô garotada esperta !! Papai também ensinou tudo que sabe, não é mesmo?!!  O Brasil é um espetáculo.    

  2. Motivos

    Fundamentalmente são 2 motivos para a corrupção:

    1 – Evitar a realização dos contratos de concessão dos serviços públicos de transporte intermunicipal de passageiros.

    Veja a notícia: Concessão sem licitação para linhas intermunicipais de ônibus no Rio persiste há mais de 70 anos; STJ determinou que Executivo terá de licitar as linhas até setembro de 2018, disponível em: https://diariodotransporte.com.br/2017/12/30/governo-do-rio-de-janeiro-estima-receber-r-777-milhoes-de-concessao-das-linhas-de-onibus-intermunicipais/

    2 – Aumentar as tarifas dos serviços anualmente, de forma superior à inflação e ao aumento dos custos, com a manipulação de 2 indicadores: Percurso Médio Anual ou Mensal (PMA ou PMM) e taxa de ocupação de passageiros ou Índice de Passageiros transportados por km (IPK).

    Sds.

    Duarte

  3. Motivos
    Fundamentalmente são 2 motivos para a corrupção:

    1 – Evitar a realização dos contratos de concessão dos serviços públicos de transporte intermunicipal de passageiros.

    Veja a notícia: Concessão sem licitação para linhas intermunicipais de ônibus no Rio persiste há mais de 70 anos; STJ determinou que Executivo terá de licitar as linhas até setembro de 2018, disponível em: https://diariodotransporte.com.br/2017/12/30/governo-do-rio-de-janeiro-estima-receber-r-777-milhoes-de-concessao-das-linhas-de-onibus-intermunicipais/

    2 – Aumentar as tarifas dos serviços anualmente, de forma superior à inflação e ao aumento dos custos, com a manipulação de 2 indicadores: Percurso Médio Anual ou Mensal (PMA ou PMM) e taxa de ocupação de passageiros ou Índice de Passageiros transportados por km (IPK).

  4. Porque só no Rio? O esquema

    Porque só no Rio? O esquema com pequenas variações é o mesmo em todo o Brasil, mesmo porque muitos empresarios operam em varios cidades, são os mesmos grupos do Rio que se coligam desde Belem até o Sul.

    Os esquemas de onibus e lixo são nacionais e operam de forma conhecida por todo territorio nacional.

    Há mais de cinco anos publiquei aqui no blog varios artigos sobre empresas de onibus.

    É um tipo de negocio que se presta muito à corrupção, porisso nos EUA e Europa transportes coletivos urbanos são quase

    100% de propriedade e operação publica e funcionam muito bem.

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