Inquéritos da PGR contra Bolsonaro podem limpá-lo, ao invés de incriminar

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Aras adotou exigências de investigação que praticamente impossibilitam a comprovação de ilícitos. Bolsonaro poderá sair mais forte com arquivamentos

O presidente Jair Bolsonaro e o procurador-geral da República, Augusto Aras – Foto Adriano Machado/Reuters

Jornal GGN – O procurador-geral da República, Augusto Aras, tomou nos últimos dias uma aparente posição de mirar o presidente Jair Bolsonaro por suas polêmicas e irregularidades. Mas diferentemente de fazer o mandatário responder a estes atos e, assim, confirmar possíveis ilegalidades, as investigações abertas por Aras podem limpar o nome do mandatário.

Em claro confronto às suas declarações, enquanto Aras mostra ser duro com as suspeitas que recaem em Bolsonaro, no campo jurídico adota exigências e requisitos de investigação que praticamente impossibilitam a comprovação de ilícitos. Foi o que fez o PGR diante das acusações de Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça.

Após a polêmica, Augusto Aras dirigiu-se diretamente ao ministro Celso de Mello, que é o relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), e solicitou uma sequência de diligências, entre elas, ouvir os ministros listados pelo próprio acusador Sérgio Moro.

Aras também solicitou a oitiva dos delegados da Polícia Federal (PF), entre eles o próprio aliado de Moro que foi retirado da diretoria do órgão por determinação de Bolsonaro, Maurício Valeixo:, pediu a cópia do vídeo em que estavam presentes Jair Bolsonaro, ministros de Estado e presidentes de bancos públicos, no dia 22 de março, durante a qual Moro afirma ter sido ameaçado de demissão:, e solicitou os comprovantes das assinaturas da demissão de Valeixo e de eventual pedido de exoneração do ex-diretor da PF.

Para todas estas solicitações, o PGR determinou um prazo de 5 dias. “O procurador-geral requer, no âmbito do inquérito INQ 4.831, o encaminhamento do procedimento investigativo à Polícia Federal (…) para a realização das diligências, e o agendamento das oitivas dentro de um prazo de cinco dias úteis contados a partir da intimação, com prévia comunicação da PGR para acompanhamento dos depoimentos.”

O objetivo deste inquérito é comprovar se Jair Bolsonaro interferiu ou não na Polícia Federal. Mas, para isso, em termos jurídicos o PGR listou entre as exigências para se chegar a essa conclusão a comprovação de que houve:

– “Coação”, que é a ameaça explícita por parte de Bolsonaro contra Sérgio Moro,.
– “Advocacia administrativa”, ou seja, que houve “patrocínio, direto ou indireto, de interesses privados do presidente perante o Departamento de Polícia Federal, visando o provimento de cargos em comissão e a exoneração de seus ocupantes”.,
– “Prevaricação”, que é não cumprir com o dever por interesse ou má fé.,
– “Falsidade ideológica”, caso se comprove que a assinatura digital de exoneração de Valeixo não foi assinada por Sérgio Moro.,
– E “corrupção passiva privilegiada”, que é fazer proveito do cargo para atuar a favor de outra pessoa, seja por pedido ou influência.

Todos estes crimes exigem uma sequência de provas materiais que vão além das reproduções de conversas por chat de Sérgio Moro divulgadas pelo ex-ministro. Entre eles, somente o de falsidade ideológica foi efetivamente comprovado, mas foi seguido de um pedido de retificação do próprio governo no Diário Oficial da União (DOU), o que configuraria uma correção do crime, transformando-o em mero erro.

Entre as diligências, ainda, foi listado por Augusto Ara o delegado Augusto Ramagem Rodrigos, o braço direito de Bolsonaro e a opção número 1 do mandatário para comandar a PF, supostamente a seu favor. E o processo, apesar de tramitar no STF, conta com a investigação de policiais federais, que hoje estão sob o comando do novo nomeado por Bolsonaro.

Agressões

Outra atuação de Jair Bolsonaro que enfrentou uma abertura de apurações teve do Procurador-Geral da República a imediata blindagem contra o presidente. São as agressões a profissionais da imprensa, durante o ato do último domingo (03), em Brasília.

Apesar de contar com a presença física e incentivo de Jair Bolsonaro, o ato com as pautas antidemocráticas e inconstitucionais em Brasília foi afastado da responsabilização do mandatário pelo PGR, pelo menos no quesito das agressões físicas.

Anunciando que são “eventos de elevada gravidade” e defendendo a “dimensão constitucional da liberdade de imprensa”, Augusto Aras disse que a apuração não deve ser feita por ele e no âmbito do Supremo Tribunal Federal, porque não há envolvimento de pessoas com foro privilegiado, como é o caso do presidente da República.

“Tais eventos, no entender deste procurador-geral da República, são dotados de elevada gravidade, considerada a dimensão constitucional da liberdade de imprensa, elemento integrante do núcleo fundamental do Estado Democrático de Direito”, escreveu Aras em ofício enviado ao Ministério Público do Distrito Federal.

Pouco antes de Aras despachar o ofício, Bolsonaro havia afirmado publicamente que acreditava que havia “infiltrados” na manifestação do último domingo e, mencionando rapidamente que era contra as agressões, criticou logo em seguida um veículo de imprensa.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. É isto aí, vamos acompanhar.
    Já havia comentado aqui que esta técnica de processar aliados, amigos ou protegidos para (definitivamente) inocentá-los, recorrentemente utilizada pelos tucanos e seus procuradores e engavetadores é bastante eficaz.
    Como ninguém pode ser novamente processado pela mesma acusação, a limpeza é definitiva.
    Aras até agora foi 100% leal e obediente, requisito militar exigido pelo comandante deste agora enorme quartel de 8,5 milhões de km2 que o indicou.
    Se sofrerá um ataque de sincericídio como Moro, dependerá das condições mútuas de “prestígio”.
    O mais interessante é que nem o PGR nem o vice-presidente são passíveis de demissão ou exoneração pelo mitosco adolinquente, portanto têm independência institucional.
    Vamos ver se Aras deixa os 100% de “aderência e cumpre seu papel de verdade.

    1. Sem esquecer que similarmente, a PF encerrou a investigação sobre Flávio Bolsonaro sem indiciá-lo e sequer abrir seus sigilos.
      O que não impede o MP de levar o processo adiante, como aconteceu com um certo ex-presidente acusado e condenado sem crime e sem provas.
      Não se trata de defender sua pessoa, mas de defender a essencial Justiça de graves comportamentos como esses, de processos sem causa, de ma fé (vide Haddad e Dilma) ou de “sanitização” e garantia de impunidade e “cheirosa limpeza”.

  2. Nassif: espanto por quê? ArrasEguas, o Ôme, escolhido a dedo, tá no posto prá quê? Tem que mostrar serviço ao patrão. E, diga-se de passagem, tem talento pro mister. Numa só canetada deu cabo à tarefa. É manhoso e tinhoso…

  3. Mesmo assim (ou por isso mesmo) Bolsonaro não será deposto. Por mais que as elites não gostem (ou pelo menos fingem não gostar) do jeito dele, o manterão.

    “Não tem classe, finesse alguma mas está fazendo tudo como queremos.”

    A elite abre mão facinho da fleuma quando se trata de manter-se nos poderes econômico e financeiro. Ainda mais quando a grosseria é dos outros.

  4. Como já falei que Mora terá seus dias Lula…
    acrescento que provavelmente terá todas as testemunhas contra ele

    Vindo de um milico das antigas, aquele tal de “se tirar Moro, Bolsonaro cai” foi um espanto………………….
    algo assim como um espantalho ser enchido com informações antecipadas e não com palhas

    alguém aqui acreditou? eu não

    não é apenas questão de família, pode ser algo muito mais grave, talvez de banditismo com raízes até no exterior

    aguardemos

    1. acredito que pavor maior é pela possibilidade de existirem investigações de crimes de repercussão interestadual e internacional………………………..
      sigam noticiário e antigas declarações dos zeros dando a entender que não demandam repressão uniforme

      para estes casos o tal “quem manda aqui sou eu” de qualquer um dos zeros tem o mesmo alcance do fedor de um pum

  5. Se Moro tivesse apresentado provas, seria fácil a condenação do miliciano, ocorre que o marreco de Maringá só mostrou convicções e nenhuma prova.
    O marreco de Maringá parece ter esquecido que só contra o PT funciona a estratégia da convicção.

  6. Mais de 7000 mortos na pandemia e o sujeito manifesta -se com E dai?
    No mínimo diante da choradeira do camisa preta do Paraná ela vai mandar enfiar no ….. Se é que já não mandou.

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