Jornal sugere delator como culpado por Aécio não ser investigado por propinas em Furnas

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Folha diz que Alberto Youssef descumpriu acordo de delação premiada na Lava Jato ao não prover detalhes sobre a influência de Aécio em Furnas. Mas GGN mostrou que executivo da Camargo Corrêa foi citado no depoimento do doleiro como testemunha que poderia esclarecer pagamento de propinas ao PSDB 

 

Jornal GGN – A edição da Folha de S. Paulo desta segunda-feira (4) omitiu passagens da delação do doleiro Alberto Youssef que apontam testemunhas que poderiam colaborar com uma possível investigação sobre o suposto pagamento de propinas ao senador e presidente do PSDB Aécio Neves com recursos de Furnas. Mais do que isso: a conotação empregada pelo jornal na reportagem “Delatores da Lava Jato não contaram todo o prometido” tenta esvaziar o peso dos depoimentos e sugere que o delator descumpriu os termos do acordo de cooperação com a Lava Jato.

Segundo a Folha, ao final da fase de negociação dos acordos entre o Ministério Público Federal e os investigados, dois tipos de documentos foram produzidos: um apontando “todos os crimes sobre os quais os delatores iriam falar, com a indicação dos envolvidos”, e outro que “formalizou as condições do acordo, como as penas dos delatores”.

“Com os papéis assinados, os delatores começaram a depor para dar os detalhes sobre os crimes e os envolvidos. No caso da colaboração de Youssef”, diz o jornal, “um dos capítulos tinha o título ‘Furnas’ e indicava que o doleiro revelaria envolvimento de Aécio.”

“Quem era responsável por esse comissionamento eram as pessoas de José Janene [ex-deputado, morto em 2010, considerado operador do PP no esquema na Petrobras] e Aécio Neves. Toda e qualquer obra realizada em Furnas possuía comissionamento. Se especula que quem recebia por Aécio Neves era a pessoa de sua irmã”, indicou Youssef.

A Folha minimizou a fala do doleiro argumentando que “ao detalhar esse fato à Força Tarefa da Lava Jato, Youssef afirmou apenas que o ex-deputado José Janene havia dito que Aécio dividia com ele propinas relativas a uma diretoria de Furnas. Não apontou, porém, fatos ou provas quanto à atuação do tucano em ilegalidades.”

A PGR, para instaurar inquérito contra o senador Humberto Costa (PT), escreveu que tudo que foi dito por Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa [ex-diretor da Petrobras, também delator], até o momento, provou-se verdadeiro. Mas para arquivar investigação contra Aécio, a Procuradoria usou argumento oposto. Sustentou que não é possível dar seguimento a um inquérito com base em “ouvi dizer”. A deputados petistas, Janot teria acrescentado que a morte de Janene seria outro impeditivo.

Uma testemunha do caso Furnas

Contudo, conforme o GGN publicou em 23 de maio, Alberto Youssef afirmou que ouviu de mais de uma fonte que o PSDB, durante os anos de FHC na presidência da República, dividia o balcão de negócios em Furnas com Janene. Ele ainda citou expressamente a empresa Bauruense e seu diretor Aiton Doré, conhecidos da Justiça de outros casos. Aécio seria beneficiário desse esquema, sendo que uma de suas irmãs seria responsável pelos pagamentos feitos ao então deputado mineiro. Youssef não soube prover mais detalhes sobre isso.

O que Youssef disse e foi completamente ignorado pela mídia e pelas autoridades da Lava Jato é que João Auler, ex-presidente do Conselho de Administração da Camargo Corrêa, teria condições de dar mais detalhes sobre a influência de Aécio e do PSDB em Furnas.

Consta na petição da PGR que resultou no arquivamento de inquérito contra Aécio [em anexo] que o doleiro presenciou uma reunião entre Janene e João Auler [grafado incorretamente no depoimento], cujo objetivo era cobrar propina na ordem de R$ 4 milhões, em 2002. Segundo Youssef, Auler teria dito a Janene que a Camargo Corrêa não efetuaria mais o pagamento porque alguém do PSDB já havia retirado o montante.

 

A Folha questinou o advogado Antonio Augusto Figueiredo Bastidos sobre Youssef não ter “correspondido ao prometido em relação aos supostos ilícitos em Furnas”. O defensor explicou que “o que vale mesmo são os depoimentos depois da assinatura do acordo. Os anexos [documentos sobre os crimes a serem revelados pelos delatores] dos acordos são meros projetos, que podem dar certo ou errado. Além disso, a palavra do delator só tem validade se houver posterior comprovação por outros elementos no decorres das apurações.”

Resta saber se o Ministério Público e a Polícia Federal vão colher a versão de João Auler sobre corrupção em Furnas. O executivo estava preso em Curitiba desde novembro de 2014, mas foi solto por decisão do Supremo Tribunal Federal, no final de abril. A defesa de Auler é uma das poucas na Lava Jato que resiste aos acordos de delação premiada.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

14 Comentários

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  1. Não interessa.

    Mil vezes, não interessa o que o youssef disse sobre quem que que seja do ou próximo do psdb. Não interessa. pronto. Esquçam. Inquerito aprtidário significa; tudo menos o psdb. o pig aapoia totalmente esta versão.

  2. Na Folha :
     
    “Com os papéis

    Na Folha :

     

    “Com os papéis assinados, os delatores começaram a depor para dar os detalhes sobre os crimes e os envolvidos.”

     

    DEPOIS, os papéis foram devidamente assassinados.

    Quem acredita que tucano não é inimputável acredita em tudo.

     

     

  3. RZRZRZRZ

    Só rizos e nada mais, esses caras estão achando que no Brasil só tem tolos. Isso é um golpe saindo de dentro da justiça e de parte da PF. Não tem outra explicação, você prente um tesoureiro de partido que recebeu as mesmas doações dos outros partidos e os tesoureiros dos outros partidos são santos. Ai é abusar da inteligência alheia, só risos…rzrzrzrzrzr

  4. A melhor coisa que existe é ser Tucano…

    Jamais ser incomodado pelo Poder Judiciário. Intocável pelos membros do Ministério Público. Inimputável para todo o sempre.

    Ser Tucano é a melhor coisa que existe…

  5. E a Falha finge que não

    E a Falha finge que não conhece a lista de Furnas. A Falha finge que não sabe quem é Nilton Monteiro ou Marco Aurélio Carone. E vocês esperam mais o que desse jornal?

  6. Dedo do Serra

    Alguém tem dúvida que essa matéria da Falha de SP não tem o dedão do Serra?

    Se é pra atazanar a vida do senador “carioca” , o mineirim Aécin, o Serra sempre apronta as suas….

     

  7. O youssef deixou esqueceu na pasta

    Agora esta esclarecido: o youssef arquivou as suas declarações em uma pasta por engano e esqueceu depois. a culpa é todinha dele. Incompetente. desastroso. é apartidário também.

  8. Disfuncionalidade

    Desde os vazamentos durante a campanha para impedir a reeleição de Dilma Rousseff que o MPF e a PF perderam toda e qualquer credibilidade com a parte responsavel da sociedade brasileira. De minha parte, considero tudo isso muito grave, porque temos ai duas instituições, composta por funcionarios publicos através de concurso, tentando influir no destino politico da nação. Eu não sei até onde vai essa judicialização moralizadora, partidaria, ideologica, mas ja vimos o que ela esta produzindo. O que de pior poderia se fazer numa Republica com o Estado Democratico de Direito em estado de funcionamento. Logo, temos uma disfuncionalidade entre os poderes e a perda de garantias e de apartidarismo, tão importantes para que Democracia seja plena de fato.  

    1. Maria Luisa.

      Maria Luisa.

      Existe um círculo vicioso no Brasil que é resultado da origem dos Magistrados da PF e MP. Infelizmente, eles são, na maioria,  formados em escolas particulares e oriundos das classes sociais mais abastadas.

      A narrativa ali imperante é a da velha mídia. É narrativa fruto dessa redoma fechada, onde se construiu uma narrativa que o PT é um inimigo de classe e que tudo nele é corrupção. 

      Todos somos vítimas dessa roda, que fechou a sociedade da classe média e média alta tradicionais em um mundo de ficção, apartado do Real, onde Globonews e Veja e Folha criaram os “midiotas” que olham o PT como o capeta.

      Eles passam nos concursos públicos porque tem mais chances de só estudar e possuem recursos financeiros familiares para se dedicarem por meses, anos ao intento da Magistratura.

      Muitos magistrados da PF e do MP me parecem  ser totalmente alheios ao Mundo em que vivemos, despreparados para o cargo que ocupam.

      Como os Médicos anti- Mais Médicos vivenciaram a vida, para além dos estudos, nas baladas e no mundinho familiar com o direito de serem apenas estudantes e se divertirem até o dia de ingresso na carreira pública.

      Não pisaram num chão de fábrica, não sujaram as mãos de graxa, nunca puseram os pés numa periferia, jamais foram em um sindicato ou lutaram por uma causa social, etc.

      O tempo livre deles é igual o de toda classe média tradicional,

      Um bom restaurante, uma boa balada, uma praia em Riviera de São Lourenço e similares em outros estados no final de semana, uma viagem para Miami ou Las Vegas nas férias, um carrão novo na garagem, assim que passam no concurso público, a revista Veja chegando em casa no final de semana e as vezes uma Globonews para se manterem “informados”. 

      O anti-petismo já está colado na testa bem antes de adentrarem no MP ou na PF. É Educacional (casa e escola), infelizmente. 

      E são muitos desses “coxinhas” que fazem o Judiciário ser o que é hoje. 

      Só não são médicos, por que escolheram a área de humanidades. Só não são engenheiros ou analistas porque escolheram a Magistratura. 

      Abraço,

      Alexandre!

      1. Eh

        E assim como a classe média, nesse papel grotesco e egoista contra o Programa Mais Médicos e os médicos cubanos, seus irmãos do judiciario, andam fazendo parecido com a justiça brasileira. Nesse caso, eles podem não matar um paciente, mas estão matando, pouco a pouco, a esperança de um Pais bem maior que seus partidos politicos, sua elite e interesses individuais. O desencanto que chegou com os escândalos sempre em cima de um so partido, o Partido dos Trabalhadores, sera muito maior ainda, se a Lava Jato for conduzida como mero acerto de contas com esse partido. 

        PS: quando falo no primeiro comentario sobre duas instituições, estou me referindo, claro, à PF e ao MPF. 

      2. Perfeito Alexandre

        Convivo diariamente com Juízes e Promotores há quase trinta anos e posso afirmar que é exatamente como escrevestes. A geração mais nova dessas autoridades é formada, com raras e honrosas exceções, por filhinhos de papai mimados, emocionalmente instáveis e sem um mínimo de convivência prévia com o mundo real, tanto que muitas vezes são incapazes até de entender o que as pessoas mais simples – ou mais velhas – falam. É lamentável e assustador.

  9. Porque vcs acham que a PEC 137 (que limitava investigação no MP)

    Apareceu em protesto de tarifa de ônibus, com cartazes portados por inocentes (in)úteis coxinhas que não tinham a mínima idéia do que se tratava o assunto sobre suas cabecinhas vazias?

    E que foi votada e arquivada a toque de caixa numa única sessão blitzkrieg do congresso?

    Razões (departamentais) de Estado?

    Deste que é declarado por um de seus criadores em 88 como (criei) um “monstro!”?

    Por que? Por que? Por que? …

     

  10. Se é assim, por quie então a

    Se é assim, por quie então a delação dele não é toda cancelada ?

    Ora, se disse e não apresentou provas é porque mentiu ou está tentando ajudar alguem agora. De qualquer forma deveria ter toda a sua delação suspensa e os benefícios cancelados.

    Ponto.

    Senão vira essa bagunça que está ai. Cada um fala o que quer, não prova nada ou muito pouco e fica por isso mesmo.

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