Maconha: o que se ganha em criminalizar?, por Régis Eric Maia Barros

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Maconha: o que se ganha em criminalizar?

por Régis Eric Maia Barros

Em meio a tantos preconceitos, alimentados pelo obscurantismo do conservadorismo, essa seria a pergunta a ser feita para aqueles que apóiam a criminalização. Quando criminalizamos aquele que porta maconha para o consumo próprio, ganhamos o que em termos de saúde pública e em termos de medidas de impacto para o seu tratamento?

Além de ser claramente uma medida ineficiente para a segurança pública, o ato de criminalizar o usuário de maconha dificulta ainda mais as propostas terapêuticas. O motivo disso é simples – a criminalização rotula e exclui. Para modificar comportamentos com potencial de gerar problemas, será sempre necessário trabalhar a motivação de quem tem esse comportamento. Se o comportamento é repetido, certamente, ganhos primários acontecem. Então, é tolo e arrogante prever que a criminalização do usuário mudará sua relação com quaisquer substâncias psicoativas, sobretudo a maconha.

Imagine como ficará a motivação do usuário para mudar ou parar o consumo de maconha após uma abordagem policial nos moldes em que nós estamos acostumados assistir. A mensagem subliminar da sociedade conservadora para esses usuários vincula o punir como forma de resposta. Infelizmente, os tempos atuais são esses até por que cada vez mais um vazio ético toma conta de nós. Eis a reflexão da professora Jacqueline Russ que comprova isso: “no momento em que as ações do homem se revelam grávidas de perigos e riscos diversos, estamos mergulhados nesse niilismo do vazio ético”. Consequentemente, a punição como forma de resposta a um problema, que não necessita punir, soará como vingança. Uma norma de Talião às avessas. Um olhar arrogante e vertical que não levará a nada, além de confrontos e mortes em série.

Será que não é possível entender que a repressão a esse usuário não trouxe nada de resposta social. Basta olhar o número de presídios, o número de presos, a crescente violência urbana e o número de mortes, sejam elas de cidadãos, usuários e policiais. As instituições e as pessoas que defendem a criminalização do usuário de maconha não perceberam ou não querem perceber que tal ato, ao invés de ajudar, finda por aumentar a onda de insegurança e de criminalidade.

A criminalização do usuário de maconha não ajuda em absolutamente nada. Não ajuda nada em termos de justiça social, segurança e de saúde (individual e coletiva). Portanto, defender essa criminalização é um grande erro e um imenso retrocesso.

Régis Eric Maia Barros – Médico Psiquiatra. Mestre e Doutor em Saúde Mental pela FMRP-USP

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. A crminalização ou não da

    A crminalização ou não da maconha não tem nada a ver com o número de presídios, o número de presos, a crescente violência urbana e o número de mortes, sejam elas de cidadãos, usuários e policiais. O que tem a ver é a guerra na comercialização / distribuição.

    1. Porém a guerra na

      Porém a guerra na comercialização tem tudo a ver com a criminalização.

      Por que é que não vemos os executivos da AmBev mandando matar o pessoal da Heineken?

      Simples, por que a atividade de produção, distribuição e comercialização dessa droga perigosíssima que é o álcool é totalmente legal.

      Criminaliza o álcool, e você tem o Al Capone.

  2. Enfim um texto sensato que

    Enfim um texto sensato que acaba com o mito de que a esquerda faz apologia ao consumo. Criminalizar o usuário é tão ruim quanto o consumo em si. Os danos das drogas são problemas de saúde e não de polícia, A narcodependência e ua doença e não um crime. É preciso acabar com a criminalização para que o vício possa ser combatido como se deve.

    1. Embora voce esteje

      Embora voce esteje concordando com tudo que eu penso, objecao, vossa excelencia:

      “Enfim um texto sensato que acaba com o mito de que a esquerda faz apologia ao consumo”:

      Eu faco.  Como esquerdista eu faco “apologia ao consumo” e faco MESMO.  Consumo de drogas eh igual masturbacao:  voce nao tem a menor chance de ganhar ao ser contra, pelo simples fato da masturbacao ser melhor que voce.

      Oh, gente que toma drugas e alcohol, nos quais eu jamais estaria incluido por incinerar cervejas com meu estomago de ferro:  vao se fuder sim.  Como esquerdista eu NAO estou aqui pra ser BABAH de ninguem.

      SE voces tivessem a menor ideia do que milionarios consumem voces estariam tao putos quanto eu.  (so mais uma razao pra mim votar em Trump, alias.)  (Oh, e COMO vou…)

      CONSUMAM SIM.  SINTAM SE LIVRES DE PIOLICIAMENTO.

      Uh, digo…  de policiamento.

  3. Muitissimo aa proposito, voce

    Muitissimo aa proposito, voce se lembram desse comercial dos anos 80?

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=ub_a2t0ZfTs%5D

    Pois eh.  Ha dois dias atras o radio noticiou que ele votou pela legalizacao da maconha esses 35 anos depois.  Sabem a razao?

    Eh que teve um monte de veiarada da familia dele que teve que usar maconha medicamente legalizada pra se curar de um monte de coisas.  Ai ele se “arrependeu”.  Uns 35 anos depois.

    E ele, que ja tinha cara de veio aaquela epoca e deve ter cara de mumia hoje, nao pediu nem desculpas pra declarar seu voto a favor da legalizacao.

    Filho da puta!

    Ta quase igual a meganhada federal de merda que declarou voto em Aecio.  Quase.  So que eles nao conseguiram, ate hoje, documentar um unico caso de “bem publico” de Aecio.  Nenhum projeto que beneficiou alguem, nenhum bem publico, nenhum avanco economico, nadinha da nada eles conseguiram documentar.  E nem vao conseguir.

    Eu mostro pra essa putaiada uma porrada de coisas que o foderlo, digo, “governo” Temer esta destruindo que o PARTIDOS DOS TRABALHADORES construiu atravez dos anos e eles tem…  o que pra mostrar????

    AECIO pra mostrar?

    TEMER?????

    Filhos da puta!

  4. Liberação mundial de todas as

    Liberação mundial de todas as substâncias discriminadas como drogas Já. Venda normal em comércio e arrecadação de impostos para pagamento de tratamento aos que desejam não mais usá-las.

    Não é justo que só os cartéis milionários (e que tem milionários aceitos pela sociedade em seu topo), agentes de governos, policiais e políticos (golpistas)  possam usufruir do seu lucro. É tudo uma tremenda hipocrisia. Estão aí os remédios nas farmácias e as bebidas que são legalizadas só porque são produzidas por grandes corporações e não por camponeses  paupérrimos do terceiro mundo.

    Quanto a maconha? Maconha não é droga: até eu já experimentei. E diversas vezes. 

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