O conflito ideológico no caso Cesare Battisti

As marcas de uma tensão histórica: Mitterrand e Lula concederam asilo, Chirac e Bolsonaro decidiram pela extradição 
 
Foto: Reprodução
 
Jornal GGN – Após 38 anos foragido, Cesare Battisti desembarcou em território italiano nesta segunda-feira (14), no aeroporto de Ciampino, em Roma. O ex-paramilitar foi condenado à prisão perpétua na Itália, por quatro assassinatos cometidos na década de 70. A pena será cumprida no presídio de segurança máxima no bairro romano Rebibbia, os primeiros seis meses em isolamento. 
 
O caso Battisti simboliza a reforça a tensão ideológica que tem polarizado os debates políticos no mundo entre os eixos direita e esquerda, desde o período moderno, pós revolução industrial. É isso que aponta toda a trajetória em que esteve foragido e buscando asilo político. 
 
O italiano foi condenado à revelia (sem a presença do réu) à prisão perpétua na Itália, por quatro assassinatos cometidos entre 1978 e 1979. Na época Battisti integrava o Proletários Armados Pelo Comunismo (PAC), em um momento conhecido na história daquele país como Anos de Chumbo, período que durou do final dos anos 1960 até o fim da década de 1980, marcado por uma onda de ataques de grupos políticos de apoio às reivindicações operárias. 
 
Battisti teria participado dos assassinatos do agente penitenciário Antonio Santoro, do joalheiro Pierluigi Torregiani, do açougueiro Lino Sabadin e do agente policial Andrea Campagna, mortos durante ações do PAC. Ele nega todos os crimes e se diz vítima de perseguição política.
 
Em 1979, ele foi detido e preso em Milão. Fugiu em 1981 para o México e, em 1990, para a França. Em 1993, foi condenado à revelia na Itália. Na época, o ex-presidente socialista François Mitterrand se comprometeu a não extraditar nenhum militante de esquerda que renunciasse à luta armada, concedendo refúgio a Battisti que permaneceu no país até 2004.
 
O italiano refez sua vida em Paris onde teve duas filhas, hoje adultas. Naquele país, Battisti trabalhou como vigia e começou a escrever uma série romances policiais, incluindo elementos autobiográficos. Hoje é autor de 15 livros. 
 
Em 2002, o então presidente francês de centro-direita Jacques Chirac colocou fim à “jurisprudência Mitterrand” mandando extraditá-lo. O evento causou comoção no país e personalidades como Bernard-Henri Levy e Fred Vargas defenderam Battisti, mas a Justiça Francesa manteve a extradição. 
 
Em 2004, o italiano fugiu para o Brasil, segundo ele, com a ajuda do serviço secreto francês. Cerca de três anos depois, em 2007, ele foi preso no Rio de Janeiro. No mesmo ano, o então ministro da Justiça, Tarso genro, concedeu a Battisti o status de refugiado político. 
 
Em 2009, o Supremo Tribunal Federal considerou ilegal o status de refugiado político e autorizou sua extradição, mas declarou que a Constituição Brasileira conferia ao presidente da República poderes de negar a extradição, jogando para Luiz Inácio Lula da Silva a decisão final. 
 
Em dezembro de 2010, como último ato, o ex-presidente Lula não permitiu a extradição de Battisti. Em represália, a Itália chamou para consulta seus embaixadores em Brasília. 
 
Battisti foi liberado da prisão apenas em junho de 2011, depois que o STF negou um novo pedido da Itália para extraditá-lo. Do Rio de Janeiro, o italiano foi viver em Cananéia, litoral sul de São Paulo, onde se relacionou com duas brasileiras, com uma delas teve um filho, hoje com cinco anos. A criança foi um dos argumentos de Battisti para evitar sua extradição. 
 
Em 2015, uma juíza da 20ª Vara Federal do Distrito Federal determinou a deportação do italiano. Em 2017, Battisti foi detido em Corumbá (MS), na fronteira da Bolívia, suspeito de evasão de divisas, e por isso mantido sob monitoramento com tornozeleira eletrônica por quatro meses. 
 
Em outubro, logo após ser eleito, Jair Bolsonaro prometeu extraditá-lo. Em dezembro, o ex-presidente Michel Temer concordou com as autoridades italianas enviar o ex-guerrilheiro, após decisão do ministro do STF Luiz Fux determinar a prisão de Battisti. Dali em diante, o italiano voltou à clandestinidade, preso neste sábado (12), em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, onde tentava asilo político. 
 
Ao chegar à Itália nesta segunda-feira (14), Battisti foi recepcionado pelos ministros do Interior, Matteo Salvini e da Justiça Alfonso Bonafede. Salvini é hoje o político mais popular no país, líder do partido de extrema-direita Liga.
 
 
Redação

20 Comentários

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  1. Saco de batatas

     

    Battisti seria apenas um saco de batatas nas costas e Evo Morales.A equerda brasileira precisa ser um pouco mais pragmática e começar a jogar no mar os seus sacos de batata. São muitos.Inclusive o lulismo. 

    1. Com um esquerdista deste, o Bolsa não precisa da direita

      Já que você sugeriu o descarte dos sacos de batata, você deveria dar o primeiro exemplo, atirando-se ao mar com uma pedra de mó amarrada ao pescoço.

      Você deve ser do tipo de ex-querda que diz: Faça o que eu digo, não o que eu faço. Ou seja, você é da esquerda do capital, né não, seu hipócrita quadrúpede?

    2. Sensatez, enfim.

      Um pouco de sensatez aqui, na Petelândia, que foi no que se transformou a caixa de comentários do GGN. A propósito, vc sabe o que é o Bolsonarismo? É o Lulismo com sinal trocado. Ao mar, portanto. 

    3. Vai fazer tua revolução,
      Vai fazer tua revolução, otário. Isto é, se tua coragem for maior do que apenas criticar petistas. Junta aí teu proletariado e derruba tudo que eu quero ver. Quando aparece um com coragem tu queres atirar ao mar. A inveja é uma merda.

  2. Bolívia sem devido processo legal?
    Se ele estava tentando asilo como pode ter sido preso e extraditado tão rápido?

    A hipocrisia e cinismo reinantes no Brasil são tamanhos que o criminoso Ulstra pode ser endeusado mas o Battisti, por ser do outro lado, não.

    “Contra ilegalidade toda resistencia é válida” (Gandhi)

    1. Se antes de supostamente matar, o Battisti tivesse torturado…

      Se o Battisti tivesse torturado suas vítimas antes de supostamente matá-las, ele seria endeusado pelos Bolsominions. Na frente da mira de alguém verdadeiramente humano, não há dor nem solidão. É o que cantava Gerlado Vandré em Terra Plana:

       

      “Se um dia eu lhe enfrentar
      Não se assuste, Capitão
      Só atiro prá matar
      E nunca maltrato, não
      Na frente da minha mira
      Não há dor nem solidão
      E não passo por um castigo
      Que a Deus cabe castigar
      E se não castiga ele
      Não quero eu o seu lugar
      Apenas atiro certo
      Na vida que é dirigida
      Pra minha vida tirar”.

  3. Para acabar com a opressão, você esfaquearia um açougueiro?
    “Com quem o justo se recusa a ir à mesase se trata de ajudar a justiça? Que remédio pareceria demasiado amargoao moribundo? Que baixeza você recusaria cometerpara extirpar toda a baixeza? Se você pudesse transformar o mundo, o quevocê não aceitaria fazer? Quem é você? Mergulha no lodo,beija o carniceiro, mastransforma o mundo.

    Ele precisa ser transformado”.

     

    Brecht

     

    Valeu, Cesare!

  4. Em tempo, conta-se que foi

    Em tempo, conta-se que foi Carla Bruni que pediu a Sarkozy para interceder em favor de Battisti e ajuda-lo na sua busca por asilo politico.  

  5. Quem mandou jatinho brasileiro p/ Bolivia que pague os custos

    Este governo Bozo continua fazendo campanhas de propaganda (haja midia e redes sociais) pelo que é tipicamente irrelevante ao Brasil.

    Enquanto isso o “Brazil acima de tudo” vai sendo entregue ,espoliado, ridicularizado e submetido a interesses que não são os de sua largamente majoritária população.

    Ou talvez o “acima de tudo” seja o limite inferior do nada.

  6. O sub ministro italiano deveria agradecer a Fux e Temer

    Bolsonaro e Moro nada fizeram de concreto para prendê-lo ou extraditá-lo

    Tomaram o drible da vaca e seu inimigo Evo Morales fez o gol.

    Mas nota-se que pelaí nesse mundão(zinho) a direita está alinhada .

    Até para promover bozos companheiros (ou será que isso não existiria na direita?)

     

     

  7. Presunção de inocência
    Durante o tempo que Cesare Battisti ficou na França e no Brasil poderia ter reaberto a sua defesa, contando com o apoio de organizações de esquerda. Fugiu enquanto pode. Agora fica mais distante provar sua inocência.

    1. Contra a força, os argumentos não prevalecem

      Cesário, o Senhor já ouviu falar na fábula do Lobo e do Cordeiro?

       

      “Estava o cordeiro a beber num córrego, quando apareceu um lobo faminto, de horrendo aspecto.

      – Que desaforo é esse de turvar a água que vou beber? – disse o monstro arreganhando os dentes.  Espere, que vou castigar tamanha má-criação!…

      O cordeirinho, trêmulo de medo, respondeu com inocência:

      – Como posso turvar a água que o senhor vai beber, se ela corre do senhor para mim?

      Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta.  Mas não deu  o rabo a torcer.

      – Além disso – inventou ele – sei que você andou falando mal de mim no ano passado.

      – Como poderia falar mal do senhor o ano passado, se nasci este ano?

      Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu:

      – Se não foi você, foi seu irmão mais velho, o que dá no mesmo.

      – Como poderia ser meu irmão mais velho, se sou filho único?

      O lobo furioso, vendo que com razões claras não vencia o pobrezinho, veio com uma razão de lobo faminto:

      – Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!

      E – nhoc! – sangrou-o no pescoço”.

  8. Direita sem estado de Direito X esquerda inócua

    E ainda tem pregação pelo pragmatismo da esquerda, no sentido dela se submeter às demandas moralistas da direita, necessidade de “segurança” (leia-se: mais repressão) sendo uma das mais recorrentes.

    É o fim da picada a cartilha desses caras, é muita vontade de ganhar uma eleição para fazer mais do mesmo, como seu mestre mandar. Nesse caso do Battisti é também indigência intelectual.

    O STF reconheceu ao Lula sua prerrogativa soberana em conceder ou não exílio ao Battisti. Com base nos argumentos que podem ser detalhadamente assistidos na entrevista a seguir (Dr. Carlos Lungarzo) o Lula concedeu o exílio e concebeu seu respectivo decreto. Foi ato jurídico perfeito, consolidado pelo tempo.

    https://m.youtube.com/watch?v=tQVCv4Y7Igg

    De maneira totalmente ilegal o Fux fez tabula rasa do decreto, ato soberano, juridicamente perfeito para o anular, retroagindo a situação para prejudicar seu beneficiado, violando, entre outros princípios jurisprudenciais, decisão firmada pelo próprio STF.

    Que os fascistas italianos e brasileiros comemorem tal despautério é compreensível, essa gente é assim mesmo. Mas que progressistas “pragmáticos” venham fazer crítica e autocrítica sobre a decisão acertada do Lula, ao invés da a defender e denunciar os abusos fascistas que o caso comporta, é o cúmulo da pusilanimidade, muita vontade de ganhar eleições capitulando com as mesmas pautas da burguesia.

    É o esquerdismo pequeno burguês inócuo, mero administrador das crises capitalistas, sem nenhuma sombra de mudanças revolucionárias em seu horizonte de atuação.

    É o mais do mesmo que está descendo pelo ralo da história urbi et orbi enquanto o mundo se atola cada vez mais fundo na barbárie do capitalismo financeiro fim de linha.

    Battisti livre!

    Lula livre!!!

  9. O Sinistro Miojo faltou a

    O Sinistro Miojo faltou a aula onde se ensina que não é possivel repatriar cidadão estrangeiro, preso por policia estrangeira em território estrangeiro.

    O amigo do traficante passou um enorme atestado de BURRICE para todo o mundo.

     

     

    1. Na verdade, foi mancada mesmo
       

      Eles até mandaram um avião brasileiro para marcar presença na prisão do Cesare só pra não perder a “narrativa brasileira” do fato. Eles queriam aparecer bem na fita para transformar o bozo num ” macho alfa” da política “sud americana”.

      Mas, não percamos de vista o seu parecer quanto a burrice do tio.

      Tanto o bozo quando o seu ministro poderiam ser, pelo menos, “machos alfa betizados”

  10.  
    Battisti. Coitado, um mero

     

    Battisti. Coitado, um mero trombadinha. Eliminou 4 adversários a 40 anos passados. Até por baixa produtividade, o atual governo da republiqueta de Banânia não poderia manté-lo por aqui.

    O ditador paraguaio Alfredo Stroessner. Este sim, um grande assassino, quase genocida. General que, ao receber um pontapé na bunda desferido pelos ingratos paraguaios, correu com o rabo entre as pernas vindo a se acoitar no Brasil. País onde viveu até apodrecer.

    Ao cabo, foi enterrado na Banânia, provavelmente com honras militares, amparado pelos seus professores e parceiros verde-oliva. Companheiros da grande jornada civilizatória denominada “Operação Condor,” liderada pela facção militar Brasil-Paraguai.

    Todos sabemos no que redundou a ação criminosa que deixaria a turma de Battisti chutando lata.  Retornam agora, com as mesmas deformadas cantilenas anti-comunistas. Ora, imaginam acabar com uma tal “ideologia do marxismo cultural” ou algo que o valha. Ou, sabe-se lá o quê o merda do capitão aposentado entende por ideologia. Sei que a gorilada de 64 labutou por mais de duas décadas: proibindo, prendendo, torturando, fuzilando e trucidando. Ainda assim, como se viu, no frigir dos ovos deu tudo em merda.

    Não fosse assim, os FdP de Washington não teriam investido pesado, na patranha descarada de 2016, visando colocar novamente, uma milicada rançosa e entreguista, na chefia do balcão da feira-livre da Banânia. Agora, num triunfal retorno “democrático” engana otário.

    Tá na cara que vai dar merda de novo.

    Orlando

    1. Orlando
       

      Publique isso no Blog para que não caia no esquecimento.

      Toque no assunto todo dia para dar visibilidade, desmascarar a cambada e desiludir os deslumbrados

  11. Tera chegado ao fim a saga de Battisti?

    Eh sintomatico desses tempos que Battisti, finalmente, seja entregue ao governo da extrema direita italiana. De um lado a direita brasileira desfaz o que Lula fez e o desmoraliza de uma certa forma e também vai fazendo sua vingaça sobre a esquerda e dando suas lições de moral. 

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