Para ex-ministro da Justiça, MPF está sendo utilizado como instrumento político

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Foto: Marcelo Camargo | Agência BrasilPosse da procuradora-geral Raquel Dodge, nomeada por Michel Temer - 12/07/2017

do Brasil de Fato 

Para ex-ministro da Justiça, MPF está sendo utilizado como instrumento político

por Leonardo Fernandes, do Brasil de Fato | São Paulo

Tarso Genro analisa a atuação do Ministério Público Federal contra decisões que poderiam libertar ex-presidente Lula

Imediatamente após a decisão liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio de Mello, que suspendeu os efeitos das prisões realizadas após condenação em segunda instância, os procuradores da força-tarefa da operação Lava Jato ofereceram uma coletiva de imprensa em Curitiba (PR) para criticar a decisão do magistrado, que segundo eles “consagra a impunidade no Brasil”. 

Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, sem se pronunciar sobre o caso, solicitou ao presidente do STF, Dias Toffoli, a suspensão da medida. Àquela altura, pouco importou à imprensa hegemônica que a decisão fosse beneficiar cerca de 169 mil brasileiros, muitos condenados sem o direito à ampla defesa. Todos foram uníssonos: a medida poderia colocar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em liberdade. Lula cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão, após ter sido condenado pelo juiz Sérgio Moro no caso conhecido como “Triplex do Guarujá”. 

A rapidez com que o Ministério Público Federal (MPF) atuou em decisões que poderiam libertar o ex-presidente, ainda que provisoriamente, chama a atenção do ex-ministro da Justiça e ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Para ele, há um forte comprometimento do MPF com métodos que não possuem respaldo constitucional. 

“Eu acho que as altas cúpulas do Ministério Público brasileiro estão transparentemente envolvidas no processo de exceção que se instaurou no Brasil a partir de determinados procedimentos do juiz Moro e da ‘República de Curitiba’. Isso é uma vitória ideológica de uma visão jurídico-política que avalia as instituições a partir dos objetivos políticos que eles detêm naquele momento. É uma escola de propensão fascista, uma escola jurídica que foi constituída a partir das obras de Carl Schmidt e que instrumentaliza os conceitos da Constituição e as instituições que a Constituição organiza para uma finalidade determinada”. 

Segundo o ex-ministro, sua crítica não passa por deslegitimar a operação Lava Jato em si, a qual reconhece méritos. Mas por reconhecer os limites constitucionais da atuação do Poder Judiciário e combater o que chama de “Estado de exceção”.

“Uma coisa é avaliarmos a Lava Jato enquanto totalidade. A Lava Jato tem um mérito extraordinário, que é o seguinte: quando a Justiça quer, quando o Ministério Público quer, quando a política, seja federal ou estadual, quer, o sistema de Justiça funciona. Porque foram descobertos crimes relevantes durante a operação Lava Jato. A partir de certo momento, quando essa força adquiriu uma capacidade avassaladora de controlar o sistema político, a Lava Jato se transformou em um processo político e, portanto, em um processo de exceção, pautada por determinados objetivos. E aí, a Lava Jato passa a ser um instrumento político e o Moro passa a ser um agente político”. 

Tarso Genro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foto: Ricardo Stuckert

Antecedentes

Outro exemplo de ação motivada por razões políticas ocorreu no dia 8 de julho, quando o desembargador plantonista Rogério Favretto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) determinou a liberdade do ex-presidente Lula. A decisão gerou uma guerra de liminares e o ex-presidente foi mantido preso. 

Na época, o diretor da Polícia Federal afirmou em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo que não havia cumprido a ordem do desembargador Favretto por ter sido pressionado pelo presidente do TRF-4 e pela Procuradora-Geral, Raquel Dodge. A procuradora-geral, inclusive, teria adiantado ao diretor que estava providenciando o protocolo de uma ação contra a soltura de Lula no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Posicionamentos à margem da Constituição

O comprometimento de setores do Judiciário e do Ministério Público com os métodos da operação Lava Jato tem levado as instituições a se posicionarem à margem da Constituição, segundo a avaliação de Genro. 

“Quando o Supremo Tribunal Federal, por seis a cinco, definiu que o cumprimento da pena não precisaria esperar o trânsito em julgado, o Supremo Tribunal Federal revogou a Constituição. Porque a Constituição tem norma literal, clara e específica que leva a presunção da inocência até o trânsito em julgado. Por isso proibia o cumprimento da pena. O Supremo Tribunal Federal simplesmente fez tábula rasa dessa norma e decidiu que sim, a pena poderia começar a ser cumprida”. 

Sobre a autorização para prisões após condenação em segunda instância, a procuradora-geral da República se manifestou favorável à proposta em todas as oportunidades que o tema foi debatido no STF. Já a Constituição afirma que a privação de liberdade só poderia ocorrer após esgotados todos os recursos, o que inclui não só a segunda instância, mas também o Superior Tribunal de Justiça e o STF.

Dodge também se manifestou favoravelmente à possibilidade de condução coercitiva – ou seja, do uso de força policial para forçar a prestação de depoimentos – mesmo que o investigado não tenha se negado a depor, prática bastante utilizada pela operação Lava Jato. Após a maioria do STF rejeitar tal entendimento, o MP passou a pedir prisões preventivas e temporárias.

Nomeação polêmica

A própria nomeação de Raquel Dodge para o comando do MPF gerou polêmica. Ao nomeá-la, o presidente Michel Temer rompeu com uma tradição democrática: desde o primeiro governo Lula se respeita o critério de que a indicação ao cargo respeita a ordem de uma lista tríplice que passa, por sua vez, pelo crivo da corporação. Quando assumiu a Presidência da República, após o golpe de Estado em maio de 2016, Temer havia prometido que escolheria para o cargo o candidato mais votado dessa lista.  

Mesmo não tendo sido a mais votada e antes mesmo do resultado, Dodge já era considerada favorita de Temer e também a preferida das lideranças do PMDB.

Edição: Mauro Ramo

 

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

8 Comentários

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  1. Caramba!!!

    Com 5 anos de atraso, Tarso Genro descobre a América, bota o ovo em pé, inventa a roda e lança o primeiro satélite no espaço.

     

    Seu Tarso, a gente já sabia disso há muito tempo! Onde o senhor esteve nos últimos anos????

  2. Esse troço de “reconhecer

    Esse troço de “reconhecer méritos” nessa patranha……

     

    Acreditar que uma investigação, que começou com lava rapidos nos confins do mundo, com um juiz já conhecido, um doleiro manjado, foi bater na maior empresa da america latina situada a milhares de quilometros dali é ser muito ingenuo….

     

    E o que dizer de um processo que não acaba nunca, que serviu para desmontar até o setor de enriquecimento de uranio e colocar o seu patrono na cadeia, que serviu para prender Lula, por um imóvel que não está nem no rj ou em curitiba e que não lhe pertence?

    Oras……..e pra coroar, o juiz principal largou a toga e foi ser ministro do politico inimigo de Lula…….

     

    Quais os méritos desse troço? Nenhum seu Tarso Genro…….NENHUM!!! Se não tem coragem de dize-lo que fique calado.

     

  3. Brincadeira, Tarso, ou estava

    Brincadeira, Tarso, ou estava bêbado ou dormindo.

    Até o mundo mineral já sabia disso há séculos. O que vc estava fazendo mesmo esse tempo todo?

  4. Na minha modesta opinião…..

    A lavajato tinha “endereço” certo desde o começo……quero dizer que o que todo politico de esquerda diz :” no começo era bacana e depois entortou”, para min é conversa para agradar eleitor……a lavajato começou torta, continuou torta e deu no que deu……a lavajato foi e é uma aberração desde sempre…..o combate a “corrupição” sempre foi pretexto para empoderamento…….simples assim…..

  5. ESCOLHA DE TEMER POR RAQUEL DODGE

    Enquanto todos elogiavam a ESCOLHA DE TEMER POR RAQUEL DODGE e enquanto muitos diziam: OH! ELA É INTELIGENTE, ELA ISSO É AQUILO… Inteligência e competência não têm nada haver com caráter. Por isso, eu resolvi não dizer nada NEM ELOGIAR NEM ATACAR, pois eu não a conhecia para fazer QUALQUER COMENTÁRIO COM CONFIANÇA. Penso que fiz bem, pois hoje posso descer o sarrafo a vontade contra a bruaca. Houve uma época que achei que ela era igual ao JANOT, mas… Ela é um pouco pior que ele, é mais hipócrita, mais oportunista, mais engavetadora e faz CORPO MOLE PARA RESOLVER CERTOS ASSUNTOS QUE NÃO DO SEU INTERESSE E É LIGEIRINHA PARA ASSUNTOS QUE LHE TRARÁ ALGUMA VANTAGEM.

    Um bom exemplo é caso Queiroz. Em outras palavras É UMA VERDADEIRA JARARACA SURURUCU. Voz mansa, sorrisos, tapinha nas costas, abraços forçados enganam bem os tolos… Mas somente os tolos. Agora, o TARSO GENRO depois de PASSAR CINCO ANOS ELE AINDA ACHA “QUE AS ALTAS CÚPULAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO BRASILEIRO ESTÃO TRANSPARENTEMENTE ENVOLVIDAS NO PROCESSO DE EXCEÇÃO QUE SE INSTAUROU NO BRASIL?”… Bom, ele acha, EU TENHO CERTEZA, O REINO MINERAL TAMBÉM E MUITOS OUTROS TAMBÉM TEM A MESMA CERTEZA. 

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